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Cuidar da saúde e do planeta ao mesmo tempo é possível, dizem cientistas

Mulher correndo no parque - Getty Imagens
Mulher correndo no parque Imagem: Getty Imagens

Camilla Freitas

De Ecoa UOL, em São Paulo (SP)

04/04/2022 17h38

Caso você ainda acredite que a crise climática é assunto para o futuro, que isso não o atinge diretamente ou que não há nada que você possa fazer a respeito, o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) lançado hoje (4) pela ONU (Organização das Nações Unidas) prova o contrário. Entre muitos assuntos tratados, o documento chamado Mitigação da Mudança Climática abordou a relação entre saúde e meio ambiente.

É importante ressaltar primeiro que o relatório, para além de mostrar que o estilo de vida atual baseado principalmente na emissão exagerada de gases do efeito estufa, como o metano e o carbono, está descontrolado, traz uma carga importante de otimismo — isso é, se agirmos já.

Segundo os cientistas que elaboraram o documento (que contou com 60 mil comentários de revisores especializados e de representantes de governos e mais de 59 mil artigos científicos citados), há uma breve e rápida janela de oportunidade para limitar o aquecimento da Terra a 1,5°C até 2100. Para isso, são citadas inúmeras ações que governantes e pessoas físicas e jurídicas precisam tomar para que esse aquecimento máximo, conforme as metas do Acordo de Paris assinado em 2016, seja uma realidade.

Algumas das ações citadas se baseiam em associar a preocupação com o meio ambiente e a emissão zero de carbono com atividades que podem beneficiar, também, a saúde.

De acordo com o IPCC, os benefícios para a saúde podem ser obtidos com melhorias na qualidade do ar através da transição para energia renovável e transporte ativo (por exemplo, caminhadas e ciclismo); mudança para dietas de baixo custo com baixo teor de carne e rica em plantas; e edifícios verdes e soluções baseadas na natureza, tais como infraestrutura urbana com mais áreas verdes.

Então, o que eu posso fazer?

O relatório do IPCC mostra que, para muitas medidas que precisam ser tomadas, os governos precisam agir e fazer mudanças estruturais, como a criação de mais áreas verdes e o incentivo econômico em energias sustentáveis. Contudo, o documento também pontua que mudanças individuais, quando adotadas por muitas pessoas, podem, sim, ajudar a reduzir as emissões de gases que aquecem o planeta.

Dessa forma, seguem algumas dicas dadas pelos cientistas para que você melhore sua saúde e ajude a cuidar do meio ambiente:

1) Usar menos combustíveis fósseis

Em suas atividades do dia a dia, o que você faz que utiliza bastante energia? Essa pergunta pode ser um primeiro passo para que você avalie o quanto você pode diminuir no uso de energia proveniente de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 4,2 milhões de mortes prematuras em todo o mundo são atribuídas à poluição do ar. Ações de mitigação de queima de combustíveis fósseis reduzem não só a poluição do ar, o que é bom para o meio ambiente, como geram benefícios significativos à saúde, evitando mortes prematuras, cânceres pulmonares, doenças cardíacas, exacerbações de asma, sintomas respiratórios etc.

2) Usar veículos de baixa emissão de carbono

É capaz que você esteja se perguntando "que veículos são esses?". Veículo de baixo carbono é uma forma que o IPCC encontrou de agrupar todas as formas de transporte ou que não emitem nenhum tipo de gás do efeito estufa, como caminhar e andar de bicicleta, ou que emitem pouco carbono como o transporte público. Fazer uso principalmente de meios de transporte que instigam a atividade física promove, por sua vez, benefícios para a saúde física e mental, e melhora a qualidade do ar.

3) Diminuir o consumo de alimentos de origem animal

Sem propor a adoção do veganismo ou vegetarianismo radical, o relatório reconhece que alimentos de origem animal podem ser importantes culturalmente e para a saúde de algumas pessoas. Contudo, admite que mudanças em direção a uma dieta com mais alimentos de origem vegetal — alinhada com uma redução do desperdício alimentar — pode proporcionar mitigação da mudança climática juntamente com benefícios à saúde.

Para o cultivo de gado, para citar apenas um exemplo de alimento de origem animal, são necessários grandes pastos, o que pode causar desmatamento e liberar CO2. Além disso, o gado libera metano, outro componente do efeito estufa — para que o Acordo de Paris seja cumprido, as emissões de metano precisam cair 45% até 2050.

Para a saúde, uma alimentação com mais vegetais, frutas e grãos também é excelente. Uma pesquisa divulgada no Journal of American College of Cardiology indicou que as pessoas que adotaram essa dieta tiveram menos riscos de desenvolver doenças cardíacas. Veja mais benefícios aqui!

4) Cultivar áreas verdes

Para além das áreas verdes de parques, há também as áreas destinadas à agricultura urbana. Seus benefícios incluem a redução da morbidade cardiovascular, melhoria da saúde mental, aumento do peso de recém-nascidos e aumento da expectativa de vida. O relatório ainda afirma que a agricultura urbana, incluindo pomares urbanos, jardins de cobertura e agricultura vertical contribuem para aumentar a segurança alimentar e fomentar dietas mais saudáveis.

Áreas verdes na cidade, segundo o IPCC, são fundamentais para um ar menos poluído e para que a temperatura dos centros urbanos fique mais amena.

Todas essas ações ajudam a reduzir as emissões de gases do efeito estufa que, por sua vez, ajudam o meio ambiente, e que também são aliadas da saúde, e têm ainda mais um benefício: o econômico. Diminuir casos de problemas respiratórios ou ligados a uma má alimentação, é bom para a economia dos países, uma vez que diminui internações hospitalares. Esse dinheiro pode, por exemplo, ser usado para outros investimentos em saúde.

Precisamos entender que evitar o agravamento da crise climática não é melhor apenas para o meio ambiente, para nossa segurança e saúde. Também é mais barato do que não o fazer e tentar lidar com seus impactos irreversíveis.

Nina Seega, diretora de pesquisa para finanças sustentáveis do Instituto de Cambridge para Liderança em Sustentabilidade (CISL)