Topo

Energia renovável abastece fábrica em nova aposta "verde" da Malwee

Trabalhadores em confecção da Malwee - Malwee/Divulgação
Trabalhadores em confecção da Malwee Imagem: Malwee/Divulgação

Juliana Domingos de Lima

De Ecoa, em São Paulo (SP)

03/03/2022 06h00

Uma das principais empresas de moda no Brasil, a Malwee tem avançado na utilização de energia renovável com o objetivo reduzir emissões de gases do efeito estufa em sua cadeia de produção. Desde 2020, segundo a marca, 83% da energia elétrica empregada no parque fabril é de fonte eólica.

Foram 41.622 MWh consumidos nesses dois anos, associados a uma redução de cerca de 86% das emissões ligadas ao consumo de energia elétrica. A empresa produz 45 milhões de peças por ano.

Como a Malwee não possui um parque eólico, ela adquire essa energia com um certificado de rastreabilidade, o que garante que a rede de distribuição seja abastecida, em quantidade equivalente ao consumo da indústria, por energia eólica produzida por terceiros.

O custo desse investimento, de acordo com a gerente de sustentabilidade da Malwee, Taise Beduschi, tem sido igual ou eventualmente um pouco maior ao que a empresa costumava pagar pela energia elétrica de fonte não renovável. O valor mais alto se deve principalmente à rastreabilidade, garantia de que não há irregularidades no processo.

Mas, mesmo com o custo adicional, Beduschi afirma que a compra de energia renovável é prioritária para a empresa. "A regra interna é de que não se pode não comprar essa energia. Se tiver um custo adicional, a gente tem alçadas de aprovação, vai para presidência validar porque é prioridade", disse a Ecoa.

Além da elétrica, a empresa também utiliza energia térmica em seus processos produtivos. Seguindo as diretrizes do seu primeiro plano de sustentabilidade, em vigor até 2020, substituiu a energia térmica de fontes não renováveis pela biomassa, que é renovável, reduzindo em 75% as emissões de gases de efeito estufa decorrentes da geração de energia térmica.

Essas mudanças na matriz energética resultaram em 87% da energia total consumida vinda de fontes renováveis, sendo 87% da elétrica e 70% da térmica.

Segundo a gerente de sustentabilidade, a empresa também estuda trabalhar com energia solar em projetos futuros. Uma de suas três unidades de produção, localizada em Pacajus (CE), tem potencial para a instalação de um sistema de energia fotovoltaica. Além disso, o plano de sustentabilidade da empresa para 2030 prevê incentivar fornecedores da marca a também realizarem a transição para energias renováveis.

Signatária do compromisso Business Ambition 1.5°C da ONU, a Malwee afirma já ter alcançado uma redução de 75% nas emissões em suas operações e quer continuar cortando emissões com a meta de se tornar carbono neutro até 2050.

O que mais está sendo feito?

As práticas voltadas à sustentabilidade não são de hoje nem se restringem ao consumo energético. Fundada em 1968 em Jaraguá do Sul (SC), a empresa da família Weege é tida como pioneira no setor têxtil brasileiro pela adoção de medidas para minimizar os impactos ambientais específicos do ramo, como o alto consumo de água e o grande volume de resíduos e poluição produzidos.

Essa trajetória teve início no século passado, mas se intensificou a partir de 2014, quando a empresa passou a ter um setor dedicado ao tema e a desenvolver planos de sustentabilidade, com metas em gestão de resíduos, emissão de gases de efeito estufa, consumo de água, energia e desenvolvimento de coleções com matérias-primas de menor impacto ambiental. A companhia também divulga anualmente seus resultados na área em relatórios públicos, disponíveis em seu site.

Segundo o gerente de marketing da Malwee, Guilherme Moreno, a companhia não espera transformar o setor sozinha, mas quer envolver consumidores e outras marcas no debate sobre sustentabilidade.

Nossa intenção é puxar essa mudança, abrir portas e caminhos pra que outras marcas venham com a gente. Quanto mais marcas discutirem os impactos da moda no mundo e trouxerem o consumidor pra essa conversa, mais rápida vai ser essa virada cultural e de comportamento de fazer escolhas melhores ao comprar moda.
Guilherme Moreno, gerente de marketing da Malwee

Abaixo, Ecoa listou alguns destaques das ações tomadas pela empresa nesse campo.

Preservação de áreas verdes

Uma das primeiras ações do grupo direcionadas à preservação do meio ambiente foi a inauguração do Parque Malwee em 1978. Com pouca vegetação nativa até então, um campo de 1,5 milhão de metros quadrados localizado em Jaraguá do Sul recebeu o plantio de espécies típicas da região norte do estado de Santa Catarina e outras espécies trazidas de várias partes do mundo. Hoje o parque, que tem entrada gratuita, abriga mais de 35 mil árvores e recebe até 200 mil visitantes por ano.

Parque Malwee - Divulgação/Malwee - Divulgação/Malwee
Vista do Parque Malwee em Jaraguá do Sul (SC)
Imagem: Divulgação/Malwee

Atualmente, a empresa mantém outras duas áreas de conservação no município, o Pico Malwee e a Reserva de Fontes Verdes, totalizando 4,2 milhões de metros quadrados.

Reúso e economia de água

Em 1987, a empresa iniciou a implantação de uma Estação de Tratamento de Efluentes - nome dado ao resíduo líquido de uma indústria ou ao próprio esgoto. O sistema foi otimizado em 2002 e, no ano seguinte, passou a permitir o reúso da água tratada no processo produtivo, contribuindo para a redução do consumo.

Segundo a Malwee, cerca de 200 milhões de litros de água por ano são reutilizados a partir do tratamento de efluentes, que foi modernizado em 2012 pela adoção de membranas filtrantes que permitem a devolução da água ao rio Jaraguá com padrões de qualidade maiores que os previstos em legislação, além de diminuir a utilização de insumos químicos no tratamento.

Também foram feitos investimentos em tecnologia para reduzir o consumo de água por peça: atualmente, a empresa afirma utilizar 5% menos água em cada item produzido internamente. A produção da camiseta preta básica, por exemplo, recebe 80% de água de reúso.

Peças responsáveis por um alto consumo, como é o caso dos jeans - que demandavam 100 litros de água por peça -, foram alvo de pesquisas para se tornarem mais sustentáveis: no ano passado, a marca anunciou um jeans fabricado com 250ml de água. Para obter os efeitos de lavagem, são utilizados ozônio e laser.

No total, calculam ter economizado 346.096 milhões de litros (o equivalente ao volume de 183 piscinas olímpicas) de água dos rios para viabilizar nossa operação entre 2014 e 2020.

Matérias-primas e economia circular

A partir de 2008, o grupo passou a adotar matérias-primas sustentáveis em seus produtos, como a malha PET, desenvolvida a partir de garrafas coletadas e recicladas; o algodão desfibrado, feito com resíduos do corte das malhas e a poliamida biodegradável, que se decompõe em até três anos em aterro sanitário (contra 50 anos da poliamida comum).

Entre 2014 e 2020, a empresa aumentou em 87% o uso da malha PET e em 17,5% o uso do algodão desfibrado. Mais de 85 milhões de garrafas PET foram transformadas em produtos nesse período.

Até 2020, a marca considerava como "produto sustentável" aqueles que possuíam mais de 10% de fibras de menor impacto ambiental em sua composição. Para 2030, querem subir a régua: para ser considerado produto sustentável, será preciso conter um mínimo de 30% de matérias-primas sustentáveis em sua composição e/ou apresentar uma redução de 50% do impacto do processo.

"Pensar que a moda não foi feita pra ter um fim, na gestão de resíduo do que a gente produz é muito inerente ao nosso jeito de fazer", disse Guilherme Moreno. Ele é um dos idealizadores da campanha de consumo consciente "Moda sem Ponto Final", lançada em 2021.

Certificações e outros indicadores

Certificações e avaliações do setor vêm reconhecendo a preocupação da empresa com questões socioambientais.

Malwee - Ivan Schulze/Divulgação - Ivan Schulze/Divulgação
Fachada da fábrica da Malwee em Jaraguá do Sul (SC)
Imagem: Ivan Schulze/Divulgação

Em 2012, a indústria catarinense recebeu a certificação da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX) em suas operações e, em 2019, se tornou também signatária do Programa ABVTEX. A associação audita anualmente a operação da Malwee e de seus fornecedores, que precisam atender a um protocolo com uma série de critérios relacionados a questões trabalhistas e ambientais.

"Temos 110 marcas hoje associadas à entidade e a Malwee é uma delas. Todas essas marcas têm o compromisso de só
adquirir mercadorias de fornecedores aprovados no programa", disse a Ecoa Edmundo Lima, diretor executivo da ABVTEX.

O escritório da empresa em São Paulo atende, desde 2014, à certificação LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental), programa internacional que avalia a sustentabilidade de edifícios.

As marcas da Malwee possuem ainda a classificação mais favorável no app Moda Livre, que informa sobre empresas do setor que exploram trabalho escravo. Recebem o selo verde, como é o caso da Malwee, aquelas que "monitoram condições de trabalho em fornecedores e têm histórico favorável em fiscalizações do governo".

Por fim, o Índice de Transparência da Moda, pesquisa anual do movimento Fashion Revolution, também colocou a Malwee consecutivamente de 2018 a 2021 entre as marcas brasileiras que melhor comunicam ao público sobre sua cadeia produtiva e os impactos que ela provoca.