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ONG cria moeda social e distribui crédito a empreendedores e famílias em SP

Péricles Mainar recebeu microcrédito que ajudou a criar novo negócio e resistir à pandemia - Divulgação
Péricles Mainar recebeu microcrédito que ajudou a criar novo negócio e resistir à pandemia Imagem: Divulgação

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

17/01/2022 06h00

Há 15 anos, no distrito de Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, a ONG ORPAS (Obras Recreativas Profissionais, Artísticas e Sociais) nasceu e teve como primeira experiência em microcrédito ajudar um grupo de mulheres que vivia com baixa renda.

"A ORPAS convidou essas mulheres para entender quais eram seus sonhos. Estruturamos, com apoio de parceiros voluntários, um programa de microcrédito para apoiar a realização desses desejos", lembra Daniel Neves de Faria, fundador da instituição.

Hoje, estruturada como uma instituição financeira que oferece apoio em múltiplas esferas com cursos e ajuda básica, a ONG tem o 'Kilombo', uma moeda social, que circula nas mãos dos moradores, fortalece a economia local e leva alimentos para as casas.

Fortalece economia local

"A moeda protege os empreendedores locais, pois não é aceita em grandes redes e tem uma função na comunidade, que vai além do volume de movimento, provocando as pessoas a priorizarem o consumo dentro da comunidade", diz Faria.

Foi em meio à pandemia de covid-19, e seguindo a missão de proteção, que a ONG levou às mãos do empreendedor Péricles Mainar a saída para um momento de crise financeira. A instituição criou uma iniciativa que passou a ceder microcrédito para empreendedores e famílias em extrema vulnerabilidade financeira.

"O crédito da ORPAS surgiu em um momento crucial, pois trabalhava como atacadista e todos os comércios fecharam por conta da pandemia. Usei então esses recursos para trabalhar com o público e superar a crise. Hoje, abri a minha peixaria e minha empresa segue em crescimento", comenta.

Um 'banco que distribui dinheiro'

A ideia de um banco que distribui dinheiro pode parecer um tanto inusitada, mas essa é uma das ações da ORPAS, que durante a pandemia de covid-19, cedeu créditos sem a necessidade de devolução para famílias da região.

"Fizemos alguns microcréditos a fundo perdido, ou seja, sem a necessidade de devolução, para famílias em alta vulnerabilidade social. Antes da pandemia, nosso volume alcançava 50 mil reais por ano. Durante a pandemia, movimentamos 505 mil em assistência", revela o idealizador.

Orpas - Daniel Alvarado - Daniel Alvarado
Com a chegada da pandemia, instituição passou a doar cestas básicas e a oferecer assistência psicológica
Imagem: Daniel Alvarado

Às empresas com problemas de fluxo de caixa, o pagamento do empréstimo poderia ser feito em até seis vezes sem juros. "Muita gente fala que as comunidades são carentes, mas na verdade elas são muito potentes. São milhões e milhões de reais que circulam. O problema é que na hora de gastar, o povo gasta parcelado, com juros altos e nas grandes redes", explica.

A moeda social tem valor igual ao Real e não há taxa de câmbio para troca entre elas, além de ter imagens de pessoas que ajudaram no desenvolvimento do bairro estampadas nas cédulas.

Apoio para começar e recomeçar

Para o desempregado Gustavo C., essa foi a forma de reabastecer a geladeira e enfrentar a necessidade junto com sua esposa grávida e uma criança pequena. "Recebi um crédito de R$ 143,00 sem a necessidade de devolver, por conta do cenário da pandemia. Serviu para comprar leite e outros itens de necessidade diária", lembra.

Para estimular a economia local, a instituição também faz empréstimos aos moradores que precisam, independentemente da condição financeira. Recurso usado por Luana Maciel, de 24 anos, pedagoga. Ela enxerga na moeda uma espécie de orgulho. "Eu me sinto orgulhosa em gastar meu dinheiro na comunidade. Com o avanço da vacina e a retomada econômica, a moeda será uma boa saída para quem empreende por necessidade", acredita a jovem.

Desde a chegada da pandemia, a instituição também passou a doar cestas básicas, kits de higiene, além de oferecer assistência psicológica para moradores do Jardim São Luís. "A ORPAS conseguiu mais de 130 toneladas de alimentos que impactaram mais de 4 mil famílias até o momento. Também intensificamos nosso projeto 'Aguenta Firme', que atende pessoas que sofrem de ansiedade, depressão e outros problemas emocionais", conta o fundador.

E entre as mais novas apostas está uma aceleradora de negócios, dedicada aos comércios locais. "A Aceleradora Árvore Preta já incubou e acelerou mais de 200 negócios, uma outra forma de potencializar o empreendedorismo em áreas vulneráveis", revela Faria.

A ORPAS aceita doações em dinheiro, que podem ser feitas por meio do site - que convida a ser um 'investidor' da ação. Na página da web também é possível encontrar informações sobre como conseguir ajuda e como se cadastrar nos programas sociais. Para colaborar doando outros itens ou ser um voluntário, o contato pode ser feito por meio do número: (11) 97155-7616).