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Filme 'Eternos' traz representatividade sem estigmas

"Eternos", da Marvel, estreia no dia 12 de janeiro na plataforma de streaming Disney+ - Reprodução / Internet
'Eternos', da Marvel, estreia no dia 12 de janeiro na plataforma de streaming Disney+ Imagem: Reprodução / Internet

Maiara Marinho

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

07/01/2022 06h00

Por que super-heróis não protegem humanos de suas próprias guerras civis e militares? Em Eternos, a resposta é bastante simples: interferir nas decisões humanas pode impedir o desenvolvimento da espécie. Por isso, os Eternos protegem os Humanos apenas dos Deviantes, seres cósmicos como eles, ambos criados pelos Celestiais. No entanto, a pergunta continua circulando entre as personagens do filme, causando um conflito interno que se desenrola ao longo do roteiro com um final bastante surpreendente.

Criada originalmente como os Novos Deuses, na DC Comics, por Jack Kirby, a história teve novos contornos quando o autor foi para a Marvel. Com isso, ele utilizou inspirações do trabalho anterior e criou a HQ Eternos, com primeira publicação em 1976. Dirigido por Chloé Zhao, de nacionalidade chinesa, o novo filme inova nos personagens, sem alterar substancialmente o conteúdo original dos quadrinhos.

Acompanhando movimentos importantes do mundo cinematográfico que vêm rompendo com estereótipos de gênero e raça e promovendo mais inclusão, o longa trouxe para as telas a primeira personagem surda do universo de super-heróis. Além disso, a atriz Lauren Ridloff, que incorpora a personagem Makkari em Eternos, é a primeira pessoa surda a atuar em filmes da Marvel.

Phastos (Brian Tyree-Henry), em "Eternos" - Marvel Studios/Divulgação - Marvel Studios/Divulgação
Phastos (Brian Tyree-Henry), em 'Eternos'
Imagem: Marvel Studios/Divulgação

O universo de personagens é formado também pela família do super-herói Phastos (Brian Tyree Henry), um homem negro casado com outro homem, com quem é pai adotivo de um menino. Já Kingo (Kumail Nanjiani) no original é um herói japonês, mas no longa é indiano, e vive um ator e produtor de filmes de ação no mundo dos humanos. Há ainda a personagem Sprite, vivida por Lia Mchugh, uma super-heroína com poder de ilusionar.

Minorias representadas

Ao contrário do que se viu por muito tempo no cinema, as histórias envolvendo personagens que fazem parte de minorias aparecem no filme sem um clichê exótico ou estigmatizante.

Mas Douglas Ostruca, conhecido como Luná Maldita, cineasta e doutorando em Comunicação (UFRGS), explica que essa mudança de abordagem não aconteceu de uma hora para a outra no audiovisual. Ele lembra que houve nos Estados Unidos uma onda entre as décadas de 80 e 90 chamada "New Queer Cinema", quando filmes com personagens LGBTQIA+ começaram a sair do circuito underground e a ter mais visibilidade, atingindo um público mais amplo.

Douglas conta que, quando mais jovem, buscava filmes que retratassem vivências homossexuais. Para ele, foram importantes para a construção de sua subjetividade. "Existem estudos que falam da relação entre espectador e cinema e a gente percebe que elas nos ajudam a produzir uma narrativa sobre nós mesmos", explica. Mas, para ele, "não basta inserir um personagem com características de minoria no filme sem pensar em qual é o papel dele na narrativa".

Atriz de "Eternos" fala sobre normalização de legenda nos cinemas pós o filme - Divulgação/Marvel Studios - Divulgação/Marvel Studios
A atriz Lauren Ridloff, que faz a personagem Makkari, é a primeira pessoa surda a atuar em filmes da Marvel
Imagem: Divulgação/Marvel Studios

Nesse sentido, Mariana Hora, fã de HQ's, assistente social e tradutora Libras-Português, conta sua reação ao encontrar a personagem Makkari de Eternos. "A personagem é fantástica, e sua capacidade de correr mais rápido que a velocidade do som e de perceber as pessoas ouvintes e sua comunicação pelos outros sentidos, principalmente a visão e o tato, são uma analogia da condição humana de ser surda/o".

Para ela, "personagens como Makkari mostram a potência da Surdidade. A trama do filme não está focada em mostrar a falha auditiva, o defeito da surdez — está mostrando uma mulher que aceita sua condição de Surda e segue vivendo sua vida."

O filme chegou aos cinemas brasileiros no dia 4 de novembro de 2021 e já é a terceira maior bilheteria do ano no país, ocupando o primeiro lugar durante três semanas consecutivas. Com o sucesso internacional, Eternos será lançado na plataforma de streaming Disney+ no dia 12 de janeiro.

O elenco do longa é estrelado também por Angelina Jolie, Salma Hayek, Richard Madden, Kit Harington, Gemma Chan, Barry Keoghan, Don Lee. O jornalista Clayton Davis, da Variety Magazine, aposta na indicação do filme para a categoria de efeitos visuais no Oscar.