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Nigeriana treina comunidade para atender vítimas de violência doméstica

A Women at Risk International Foundation (WARIF) atua desde 2016 contra a violência sexual e o tráfico de pessoas na Nigéria - Reprodução/ TED
A Women at Risk International Foundation (WARIF) atua desde 2016 contra a violência sexual e o tráfico de pessoas na Nigéria Imagem: Reprodução/ TED

Antoniele Luciano

Colaboração para Ecoa, de Curitiba (PR)

01/01/2022 06h00

O confinamento mundial provocado pela pandemia do novo coronavírus trouxe à tona outra situação preocupante —o acirramento dos casos de violência doméstica. Na Nigéria, somente nas duas primeiras semanas de distanciamento social, houve um aumento de 64% nas ligações de mulheres presas dentro de casa com seus agressores. Em regiões mais remotas, as vítimas tiveram que caminhar por quilômetros à procura de atendimento médico. Na época, as autoridades nigerianas chegaram a decretar estado de emergência por estupro, situação que levou a Women at Risk International Foundation (WARIF), uma organização que atua desde 2016 contra a violência sexual e o tráfico de pessoas no país, a buscar nas comunidades uma solução para o problema.

"Essas mulheres não tinham internet para acessar plataformas de mídia social, e tinham serviços de telefone limitados para ligar para uma linha de apoio confidencial 24 horas ou mesmo para um vizinho. Portanto, a situação delas era muito pior", relatou ao Ted Talks a fundadora da WARIF, a ginecologista e obstetra Kemi DaSilva-Ibru.

Treinamento de locais

Para atender esse público em situação de vulnerabilidade, a médica apostou na preparação de 1,3 mil homens e mulheres que trabalham como parteiros tradicionais em áreas rurais da região de Lagos. Ela explicou que, na prática, parteiros e parteiras já eram estabelecidos, ainda que informalmente, como agentes aptos a oferecer cuidados básicos para a saúde de mulheres, especialmente as gestantes. No entanto, faltava orientação sobre o que fazer em casos de violência contra essas pacientes.

Os parteiros aprenderam então a trabalhar como socorristas e monitores da segurança e bem-estar das mulheres, a partir de visitas domiciliares. Receberam equipamentos de proteção individual contra a covid-19 e um kit de monitoramento e avaliação, a fim de indicar o nível de conhecimento dos moradores sobre violência doméstica. Ao levarem informações sobre centros de atendimento e denúncias, eles se tornaram o primeiro contato das vítimas com a assistência em casos de violência.

Women at Risk International Foundation - Reprodução/ TED - Reprodução/ TED
A ginecologista e obstetra Kemi DaSilva-Ibru falou no Ted Talks sobre a Women at Risk International Foundation
Imagem: Reprodução/ TED

"Eles foram instigados a ir de casa em casa em suas comunidades, e com seu treinamento foram capazes de oferecer a assistência necessária para mulheres presas em casa, sem condições de receber cuidados. Os relatos variam de abuso verbal e emocional a espancamentos terríveis e violência sexual", pontuou Kemi. Ela destacou que, aos poucos, as visitas se tornaram uma oportunidade para que as vítimas pudessem não só receber o apoio de saúde, mas também compartilhar suas histórias.

Batizado de Gatekeepers Project, o programa foi lançado em sete comunidades locais, abrangendo quase 35 mil pessoas. A iniciativa, conforme a fundadora da WARIF, teve papel importante na conscientização dos nigerianos sobre a violência doméstica nesses locais, tanto que outros agentes da região —os líderes religiosos— também foram convidados a participar.

Para a médica, esses agentes têm uma grande influência em suas comunidades. Com a inclusão desses líderes nas atividades da WARIF, espera-se uma aceleração no nível de consciência sobre violência doméstica e, logo, um aumento no número de relatos.

Oportunidade de refúgio

Além do trabalho com agentes da comunidade durante a pandemia, a WARIF manteve em funcionamento um centro de crise voltado ao atendimento gratuito de sobreviventes de violência sexual. A estrutura permaneceu aberta semanalmente, servindo de refúgio, em último caso.

A fundadora da organização salientou que, com ou sem pandemia, o trabalho de combate à violência envolvendo gênero não pode parar. "Enquanto nos acostumamos com o novo normal, trabalhando remotamente de casa, e com a educação online, é muito provável que mais mulheres fiquem presas em casa com seus agressores, e essa pandemia das sombras persistirá", observou.