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'Náufrago' em represa chama atenção para crise hídrica: 'Afunde essa ilha'

Guto Zorello em ação Pacto Global na represa Jurumirim - Divulgação/Pacto Global
Guto Zorello em ação Pacto Global na represa Jurumirim Imagem: Divulgação/Pacto Global

Camilla Freitas

De Ecoa, em São Paulo (SP)

17/12/2021 14h32

Guto Zorello não quer ser salvo. Como um náufrago em uma ilha deserta que surgiu na represa de Jurumirim, no município de Avaré, interior de São Paulo, ele quer chamar a atenção para a crise hídrica que assola a região. A ilha onde está surgiu devido ao baixo nível das águas da represa. O objetivo de Guto, então, é afundar a ilha.

Ontem (16), o ativista participou de uma ação em parceria com a Rede Brasil do Pacto Global da ONU para registrar sua presença na represa e que chamasse a atenção da população e das empresas para a crise hídrica.

A ideia é fazer a primeira campanha ambiental que não quer "salvar" algo, mas destruir — no caso, a ilha no meio da represa —, segundo Daniel Oksenberg, diretor de criação da AlmapBBDO, idealizadora do projeto do Pacto Global da ONU. A ação na represa de Avaré poderá ser acompanhada nas redes sociais de Guto e do Pacto Global.

"Precisamos nos unir - população, empresas e poder público - para regenerar nosso meio ambiente. Não adianta mais sermos apenas sustentáveis. Isso não é mais suficiente para recuperar os danos causados no meio ambiente. Precisamos pensar de forma coletiva e regenerativa, e é isso que o Pacto Global da ONU traz", diz Guto.

"Afunde essa ilha"

Ação Pacto Global represa Jurumirim - Reprodução - Reprodução
"Afunde essa ilha", frase escrita em ação do Pacto Global
Imagem: Reprodução

Cinco campos de futebol, essa é a área da ilha que Guto pretende afundar segundo informações do Pacto Global. São 38.880 metros quadrados de uma área seca que deveria estar coberta pela água da represa Jurumirim.

A baixa incidência de chuvas e o alto consumo de energia elétrica tem afetado, e muito, o nível dos reservatórios no Sudeste, mas também no Centro-Oeste do país. Em 2021, até o dia 16 de dezembro, dado mais recente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível dos reservatórios dessas duas regiões era de 21,35%.

"O aquecimento global está colocando várias ilhas em risco pelo aumento do nível do mar em diversos lugares do mundo. Aqui no Brasil, contudo, está acontecendo o oposto, ou seja, estão surgindo ilhas em diversos lugares. O desmatamento da Amazônia e o desperdício de água e energia está gerando uma crise hídrica que temos visto nos últimos meses", comenta Daniel Oksenberg.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a área desmatada na Amazônia brasileira alcançou 877 km2 em outubro, o maior nível para este mês na história. Em novembro, foram 803 km² de floresta desmatada, área quase quatro vezes maior do que a cidade de Recife. Além disso, nos últimos 30 anos, o Brasil perdeu 15,7% de sua superfície de água doce, o que representa uma área equivalente à metade da Palestina segundo dados do MapBiomas, do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima.

Ação Pacto Global represa Jurumirim: Guto Zorello - Divulgação/Pacto Global - Divulgação/Pacto Global
Guto Zorello na represa Jurumirim:
Imagem: Divulgação/Pacto Global

A consequência disso, para além do impacto ambiental, é o aumento do preço da energia elétrica. "Todas e todos temos que fazer a nossa parte: governos, sociedade civil e setor privado precisam agir contra as mudanças do clima. Essa ilha é um símbolo da falta de consciência e de comprometimento de muita gente. Afundar a ilha é renovar a nossa esperança de futuro", diz Guto.

O que pode ser feito, então, para que a ilha seja destruída? Daniel Oksenberg concorda com Guto e reforça que cada um precisa fazer a sua parte. A população precisa se conscientizar sobre o uso de água e energia de uma forma responsável e cobrar as autoridades. Os governantes precisam ter uma atuação mais forte, também, propondo leis e fiscalizando empresas e pessoas físicas, por exemplo. Mas, principalmente, os empresários precisam atuar no combate ao desperdício de água uma vez que esse é o foco do Pacto Global, uma iniciativa de sustentabilidade corporativa.

Se cada um fizer a sua parte, sociedade, governantes e empresários, com certeza essa ilha vai afundar.

Daniel Oksenberg, diretor de criação da AlmapBBDO, idealizadora da ação do Pacto Global da ONU.