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Projeto capacita famílias vulneráveis para voltarem ao mercado de trabalho

A maioria dos alunos são mães, que criam filhos sozinhas e são provedoras de suas famílias - Divulgação/Liga Solidária
A maioria dos alunos são mães, que criam filhos sozinhas e são provedoras de suas famílias Imagem: Divulgação/Liga Solidária

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

01/12/2021 06h00

Com a chegada da pandemia de covid-19, o desemprego foi uma realidade vivenciada por muitos brasileiros. O país enfrentou o pior momento e teve a taxa recorde de 14,7% (desde 2012), afetando 14,8 milhões de pessoas, de acordo com dados do IBGE.

Para quem vive com poucos recursos e perto da chamada extrema pobreza, esse cenário se torna ainda mais duro. Foi nessa situação que nasceu o Projeto Reconquista, realizado pela ONG Liga Solidária, que literalmente coloca a mão na massa e fornece cursos de capacitação em panificação e confeitaria na zona oeste de São Paulo.

Em meio a formas de bolo, massas e pacotes de farinha estão 25 alunos, em sua maioria mulheres, que chefiam suas famílias e têm em comum a renda mensal de até R$ 189. Mais do que aprender o ponto da massa e o tempo no forno, eles recebem também aulas com técnicas de empreendedorismo, precificação e comunicação.

Pandemia agravou o cenário

Rafael Pimentel Silva, coordenador do Programa de Qualificação Profissional da Liga Solidária e gestor do projeto, acredita que essa necessidade de qualificação para inclusão no mercado de trabalho já existia antes da pandemia, mas com sua chegada esses problemas vieram à tona com ainda mais força.

"A pandemia causou um impacto que acelerou essa urgência e a deixou mais explícita. Sabemos que os profissionais com mais dificuldade de inclusão no mercado de trabalho são as pessoas que vivem nas periferias", explica Silva.

"Atendemos a região do distrito de Raposo Tavares, zona oeste da cidade. Há um núcleo de cerca de 18 comunidades nas proximidades, que se encontram em uma situação de múltiplas vulnerabilidades sociais", completa.

Diferente da superstição que diz que muitas mãos fazem a massa de um bolo "desandar", o projeto conta com muitas, e elas apoiam a continuidade dos alunos no projeto e garantem de doação de cestas básicas até o contato com Unidades Básicas de Saúde para auxiliar em atendimentos de emergência, caso seja necessário para os participantes das aulas.

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O professor Eduardo Trincado avalia que muitos dos alunos já eram empreendedores
Imagem: Divulgação/Liga Solidária

Amparo para empreender e aprender

O professor Eduardo Trincado, de 42 anos, que ministra conteúdos sobre empreendedorismo, explica que o projeto tem fases diferentes, que passam pelo desenvolvimento de habilidades emocionais, capacidades técnicas e conhecimentos sobre modelos de negócio. "Muitos desses alunos já eram empreendedores, mas ainda não sabiam disso", conta Trincado.

Para Mara Alves, de 40 anos, que no início das aulas pensou em desistir, o apoio foi essencial e a auxiliou a dar os primeiros passos no seu empreendimento voltado à panificação. Alves já começou a comercializar pães e doces em sua vizinhança.

De forma geral o mercado mostra aquecimento na área, que pode ter um aumento de contratações em até 20% com as festas de fim de ano, de acordo Paulo Menegueli, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação. Ele também aponta que o setor emprega 920 mil trabalhadores de forma direta.

Se depender dos 23 alunos que já estão próximos da etapa final do curso, esse mercado ficará ainda mais aquecido. Após a conclusão de todas as fases, eles receberão a quantia de R$ 1.300 para adquirir equipamentos que ajudarão a iniciar o empreendimento. "Mas neste momento ainda serão acompanhados em uma nova fase e receberão mentorias", explica o coordenador do projeto.

Para ajudar com voluntariado, doações e conhecer outras ações da Liga Solidária, acesse o site da organização.