Ação de alfabetização ajuda a preservar tradições indígenas em aldeia de SP
Em uma lousa branca estão escritas as palavras Nhanderú, javi e tata, que significam: "Deus [de forma humana]", "bom dia" e "fogo" na família linguística tupi-guarani, respectivamente. O conteúdo faz parte da aula levada pelo Projeto Esperança (já contamos aqui em Ecoa como ele começou por conta de um cachorro caramelo) à aldeia Filhos Dessa Terra, localizada em Guarulhos, Região Metropolitana de São Paulo.
É com o vocabulário da própria língua, e aprendendo como desenhar as letras que dão sentido à leitura, que crianças, jovens e adultos indígenas estão rompendo a barreira da alfabetização e compreensão textual - algo que se agravou ainda mais com a pandemia de covid-19.
"Ao visitarmos o local, percebemos que alguns adultos eram analfabetos ou não tinham Ensino Fundamental completo. As crianças e jovens tinham muita dificuldade em ter aulas EAD. Então tivemos a ideia de levar professores até eles e concretizamos uma parceria com a líder da aldeia, que abraçou o projeto", conta a veterinária Vitória Mesquita, de 24 anos, criadora do Projeto Esperança.
Vitória conheceu a região fazendo entregas de cestas básicas, que comumente faz em seu projeto. Ao se deparar com a situação, criou uma nova frente chamada "Semeando Esperança". Com a ajuda de professores e voluntários ela leva, há pouco mais de um mês, aulas de compreensão textual e aplica processos de alfabetização todos os domingos na aldeia indígena.
"Levamos uma equipe de cerca de 10 professores, que alfabetiza individualmente cada aluno. Os voluntários auxiliam e dão apoio nas aulas que ocorrem das 9h às 12h", explica a idealizadora.
Alfabetização para respeitar e preservar raízes
Para o publicitário Célio Alves, 38, que colabora nas ações da aldeia indígena, o projeto atende duas necessidades das lideranças e habitantes da aldeia: a preservação da cultura ancestral entre os mais jovens e o acesso à educação.
"Como em qualquer grupo social, pessoas instruídas são mais conhecedoras de seus direitos, independentes e menos influenciáveis. O acesso ao conhecimento que levamos objetiva o desenvolvimento dos habitantes da aldeia, mas sem sobrepor ao aprendizado dos seus costumes", afirma Alves sobre o trabalho realizado.
"Utilizamos os mesmos métodos aplicados em todas as escolas e, a partir do momento em que o aluno desenvolve a capacidade de ler e escrever as palavras contidas no material didático, ele também evolui no aprendizado da cultura indígena", completa.
Na aldeia, há membros dedicados ao ensinamento das tradições aos mais jovens, que agora contam com o apoio da alfabetização para transmitir a cultura às novas gerações e não mais dependem apenas da oralidade. "Nossa colaboração com a alfabetização soma-se ao esforço para que a cultura seja mantida por meio da capacitação para ler e escrever também na língua raiz das etnias da aldeia", diz Alves.
As aulas contam com lanches entregues e preparados pelos voluntários e apoio de material didático doado por uma escola, que abraçou a causa do projeto.
O projeto aceita doações diversas, como valores em dinheiro, voluntariado e materiais didáticos. Para saber mais sobre como ajudar, basta entrar em contato por mensagem privada com a página Projeto Esperança no Instagram.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.