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Ex-mecânico conserta carros antigos para doar a quem precisa

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Imagem: Divulgação

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

09/10/2021 06h00

Eliot Middleton, de 38 anos, é dono de um restaurante e um ex-mecânico de automóveis que atualmente conserta carros usados como passatempo. Fã de automobilismo, ele encontrou nessa atividade uma forma de relaxar e também de fazer o bem. Só no último ano, doou 33 carros para famílias que antes dependiam do transporte público - algo bem escasso na zona rural da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, onde ele vive.

Para isso, o quintal de Eliot transformou-se em um misto de ferro-velho e oficina mecânica. Até julho de 2021, quase 100 veículos foram doados por outras pessoas para ele consertar. Alguns precisam de consertos simples, como troca de pneus, enquanto outros exigem uma revisão completa. Aqueles que chegam em muito mau estado têm suas peças reaproveitadas.

Em outubro de 2020, ele ganhou o Prêmio Jefferson, uma homenagem nacional que reconhece os americanos que se destacam praticando serviços públicos excepcionais.

Encarando o problema do transporte

A ideia de consertar e doar veículos antigos surgiu no início de 2020, depois que Eliot organizou uma campanha de doação de alimentos. Ao final do dia, sem conseguir oferecer comida para todos que o procuraram, o ex-mecânico percebeu que algumas pessoas estavam indo embora a pé. Muitas tinham caminhado mais de seis quilômetros para conseguir uma refeição quente - e teriam que percorrer outros seis para retornar.

Isso o chocou e, pela primeira vez, o fez perceber a extrema dificuldade de locomoção nas comunidades rurais para quem não possui carro. "Não há transporte público na área. Sem carro, as pessoas não têm como se locomover", lamentou ele ao jornal The Washington Post.

Ali, decidiu que precisava fazer algo. Mais tarde naquele ano, ao receber a doação de um carro usado de um vizinho, ele viu que poderia reformar veículos antigos e doá-los a quem precisava.

Paixão automobilística de pai para filho

Após trabalhar por vários anos no setor alimentício, Eliot decidiu abrir seu próprio restaurante no início de 2020. Mas, antes de entrar para esse ramo, ele trabalhou como mecânico de automóveis por 15 anos. "Meu pai era mecânico e eu costumava passear em sua oficina desde os 4 anos de idade", disse. "Sempre fui fascinado por carros".

Depois que se formou no colégio, Eliot estudou para se tornar um mecânico de automóveis e, em 2004, ele e seu pai abriram seu próprio serviço de reparo juntos. Anos depois, já em funcionamento, um perfil recorrente de clientes começou a chamar a atenção da dupla. "Tínhamos muitas mães solteiras como clientes e era comum elas não terem fundos suficientes para pagar o serviço", lembra.

Os dois buscavam uma maneira de ajudá-las, mas, antes de terem a chance de colocar os planos em prática, a saúde do pai de Eliot começou a piorar e, em 2014, eles fecharam o negócio. Para sobreviver, o filho passou a trabalhar em restaurantes. Fazer churrasco era a sua segunda paixão depois dos carros.

Churrasco em troca de carros usados

Eliot no escritório de sua organização - Divulgação - Divulgação
Eliot no escritório de sua organização
Imagem: Divulgação

Eliot deu início ao projeto de doação de carros em setembro do ano passado. Seu pai faleceu em março de 2020 e essa atividade serviu como uma nova motivação para honrar o seu legado. Para isso, ele passou a colocar suas habilidades de mecânico em prática nos dois dias da semana em que não está no restaurante.

Em uma postagem no Facebook, Eliot fez uma chamada para a comunidade local em busca de carros antigos. Em seguida, se comprometeu a trocar veículos quebrados por pratos de sua especialidade, como costelas grelhadas. Dias depois, consertou o primeiro carro - um Toyota Camry da Marinha de 1997 - e o deu para uma mãe solteira desempregada de dois filhos.

"Ela ficou surpresa e começou a chorar", disse, acrescentando que ouviu sobre os desafios financeiros da mulher por meio de um amigo em comum no Facebook e se ofereceu para surpreendê-la com o carro.

Em dois meses, a mesma mulher conseguiu um emprego estável e recentemente entrou em contato com Eliot para dizer que comprou um carro novo e está doando o que ele lhe devolveu. "Isso me surpreendeu", disse ele.

Lista aumenta a cada dia

O programa de carros continuou a ganhar força, e Eliot, que inicialmente financiava os reparos do próprio bolso, decidiu criar uma organização sem fins lucrativos chamada Middleton's Village to Village para receber doações.

A lista de espera de pessoas que precisam de carros - ou que querem surpreender um familiar ou amigo que esteja precisando muito de um - cresce a cada dia. Em julho, Eliot anunciou na página de sua campanha de arrecadação de fundos que, graças às doações, havia sido possível contratar dois mecânicos para trabalhar em sua fundação em tempo integral.

A meta inicial da arrecadação era atingir 50 mil dólares. Como a história conseguiu alcançar muitas pessoas, o número de doadores fez com que esse valor praticamente triplicasse, chegando a 146 mil dólares.

Eliot disse que o apoio da comunidade rural da Carolina do Sul tornou o programa possível. "Tem sido um verdadeiro esforço de equipe", disse, acrescentando que, em conjunto com a doação de carros e peças, as pessoas deixaram alimentos e doaram seu tempo para ajudar nos reparos.

O programa do carro, disse ele, mudou a vida de muitas pessoas - incluindo a sua própria. "Tem sido uma experiência maravilhosa, que mudou a minha vida, e estamos apenas começando", garante.