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Asilo em SP cria horta como terapia no isolamento e já abastece sua cozinha

Os idosos se sentem renovados e úteis quando percebem que plantaram, colheram e se alimentaram da horta - Arquivo pessoal
Os idosos se sentem renovados e úteis quando percebem que plantaram, colheram e se alimentaram da horta Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, em Recife

07/10/2021 06h00

As limitações impostas pela chegada da pandemia do novo coronavírus motivaram uma casa de longa permanência de idosos, no interior de São Paulo, a buscar alternativas à suspensão das visitações com o isolamento social.

O resultado dessa inquietação foi a criação de uma horta urbana onde os idosos podem se exercitar e manter contato com a natureza ao ar livre. A terapia no Asilo São Vicente de Paulo, na cidade de Rio Claro, teve início pouco tempo depois da chegada da pandemia.

"Eles pararam de receber visitas e já não podiam mais sair às ruas. A horta nasceu com o propósito de dar aos nossos idosos uma atividade ao ar livre, onde, em contato com a natureza, eles pudessem se sentir úteis e valiosos. Para aqueles com mobilidade reduzida, foram criados canteiros suspensos para que eles também pudessem usufruir desta terapia", explica a voluntária Maria Rosa Pereira.

horta no asilo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A maioria dos idosos acolhidos vai à horta ao menos uma vez na semana e ajuda por uma hora e meia
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo a coordenadora, o espaço abriga 84 idosos. A idade avançada de alguns não permite que participem das atividades, há os que não saem das camas. No entanto, para a maior parte deles, com participação adaptada à condição física de cada um, a horta tem sido uma experiência rejuvenescedora.

"Posso dizer que eles se sentem renovados e úteis. Pois veem o resultado do trabalho. Sabem que plantaram, colheram e se alimentaram dos produtos. Saliento também que muitos deles já tinham contato com a terra quando jovens, pois vieram de sítios e fazendas", explicou Maria Rosa.

A coordenação da casa permite que os idosos participem do processo desde o preparo da terra, plantio das mudas até a colheita. "Funciona mesmo como uma terapia. Há aqueles que se responsabilizam pela irrigação, alguns ainda conseguem capinar e colher. Mas o foco mesmo foi dar a eles a oportunidade de renovação com o contato com a natureza", disse.

"Eu particularmente me emociono muito, pois ali estão pessoas que trabalharam pelo país, criaram famílias, fizeram parte da construção da sociedade que hoje vivemos. E o tempo é fugaz. Poder ver o brilho nos olhos de cada um é gratificante. O zelo com o próximo nos faz um bem indescritível", acrescentou.

A maioria dos acolhidos vai à horta ao menos uma vez na semana e ajuda por uma hora e meia. No entanto, há quatro idosos que mostram todo o pique na separação dos legumes e verduras colhidos. Esses nem têm horários definidos. Ficam à vontade para cuidar das plantações nos seus momentos adequados.

horta - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os produtos são cultivados sem uso de agrotóxicos e o que não é consumido é vendido em feirinhas da cidade
Imagem: Arquivo pessoal

Entre eles está Antônio Casassa. Do alto de seus 94 anos, ele esbanja saúde e disposição na lavoura. O idoso é um dos primeiros a chegar à horta e só encerra o expediente quando o tempo começa a esquentar.

"Eu trabalho na horta de manhã um pouquinho para fazer exercício e não ficar com o corpo endurecido. Pego de madrugada, enquanto o sol está fresquinho, e trabalho até umas 8h30, 9h. Aí, recolho porque não uso chapéu na cabeça. Nós cultivamos e consumimos. É bastante importante esse trabalho para nós idosos", disse.

Segundo a organização do Asilo São Vicente de Paulo, tudo é produzido da forma mais natural possível, sem uso de pesticidas e agrotóxicos. São várias as culturas, tais como alface, rúcula, chicória, salsinha, cebolinha, repolho, acelga, vagem, couve, brócolis, couve-flor, almeirão, jiló, agrião, rabanete, espinafre e milho verde.

Quando o tempo está bom, uma vez por semana também, o grupo organiza um piquenique nas sombras das árvores. A reunião tem música, dança e um bom bate-papo.

A horta abastece a cozinha do abrigo e o excedente é vendido em feirinhas. O dinheiro arrecadado é usado no dia a dia do local. "A casa vive praticamente de doações, com a pandemia muitas festas que eram realizadas para arrecadação de fundos precisaram ser canceladas. Graças à solidariedade do povo, a casa se mantém aberta há 110 anos", concluiu Maria Rosa.

Para ter mais informações sobre o trabalho no Asilo São Vicente de Paulo, de Rio Claro, basta ligar para o telefone: 19 3524.3188 (falar com Elisângela). O espaço também aceita doações por Pix (chave CNPJ): 56.393.747-0001/01