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Mãe vira advogada depois dos 40 para lutar pelos direitos da filha trans

Imagem: Divulgação

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

25/09/2021 06h00

Katie Jenifer, moradora da cidade americana de Fayetteville, na Carolina do Norte, se sentia arrasada quando Maddie, sua filha transgênero, sofria algum tipo de preconceito. Com o aumento dos incidentes transfóbicos contra a criança - como ser proibida de jogar em times esportivos e impedida de algumas atividades sociais -, a mãe soube que precisaria de alguém para lutar por ela judicialmente.

Mas, em vez de contratar uma advogada, Katie decidiu que ela mesma se tornaria uma. Assim, deu início à graduação em 2017, aos 45 anos. Passados três anos, em maio de 2020, conseguiu se formar em Direito e, cinco meses depois, obteve sua licença para advogar.

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"Quem melhor para lutar por ela do que a própria mãe?", disse em entrevista ao The Washington Post. "Eu sou uma mãe ursa e defenderei ferozmente minha filha e todas as crianças trans e LGBTQIA+ por aí como se eu fosse sua mãe também".

O processo de transição de Maddie

Maddie sabia que ela era diferente desde muito jovem. Com 2 anos, já era apaixonada pelos sapatos de salto alto de sua professora da escola dominical, que ela sempre pedia para experimentar. Também gostava de desfilar pela casa usando as fantasias de princesa de sua irmã mais velha, Grace.

Aos 4 anos, quando já conseguia expressar seus sentimentos em palavras, começou a pedir aos pais para não sair de casa vestida como um menino. Com o passar do tempo, foi ficando deprimida, o que começou a assustar a mãe. "Ela realmente sentia que deveria ser uma menina", explicou.

Katie conversou com o marido, Craig Davis, pai de Maddie, sobre a necessidade de procurar ajuda para entender o que estava acontecendo. O casal encontrou uma terapeuta e, quase dois anos depois, Maddie iniciou sua transição de gênero.

O impacto do preconceito

Ao mesmo tempo em que começava a se identificar mais com a sua nova vida, porém, a menina muitas vezes se sentia excluída. Ela tinha 6 anos quando começou sua transição, e quase imediatamente, "começamos a ter esses incidentes", lembrou a mãe.

Um dos momentos que mais marcaram a família foi o primeiro dia de aula da primeira série de Maddie. A informação sobre a transição havia se espalhado e repórteres locais na Carolina do Norte apareceram na porta da escola para entrevistar outros pais e perguntar como eles se sentiam sobre a nova estudante.

Pouco depois, Maddie foi impedida de se inscrever em uma aula para meninas e foi removida do time feminino de softball - o que foi uma grande decepção, já que, embora não se considere uma grande atleta, ela adora o esporte. "Isso é algo que todos deveriam ser capazes de fazer - praticar esportes com seus amigos", afirma.

Apoio da família

A família comemorando a formatura de Katie, em 2020: da esquerda para a direita, o marido Craig Davis, Katie e suas filhas Grace e Maddie Imagem: Divulgação

A ideia de Katie de buscar um diploma de direito surgiu em meio a um debate na Carolina do Norte sobre a "lei do banheiro" em março de 2016, que (até ser parcialmente revogada e substituída um ano depois) exigia que as pessoas usassem banheiros públicos alinhados com o gênero em suas certidões de nascimento.

Na época, inconformada com a situação, a mãe aproveitou a família reunida no jantar para fazer uma pergunta ainda meio incerta, mas que mudaria a sua vida: "E se eu for para a faculdade de direito?". Todos a apoiaram imediatamente.

Conciliando o emprego de tempo integral em uma organização sem fins lucrativos e o cuidado de suas filhas - Grace, de 16 anos, e Maddie, agora com 14 -, Katie estudou para o vestibular e deu início ao processo de inscrição na faculdade.

Em 2017, ela foi aceita. "Lembro-me de quando ela recebeu o e-mail dizendo que tinha sido aprovada, ela apenas olhou e chorou", disse Maddie, que tinha 10 anos na época. Desde o começo, a filha entendia que a motivação de sua mãe para se tornar uma advogada era protegê-la e também a outros jovens LGBTQIA+.

A faculdade, localizada em Durham, uma cidade a mais de 140 km da sua casa, levou Katie a se mudar para mais perto do campus. A decisão de ficar longe das filhas foi tomada para evitar que elas mudassem de escola, já que estavam começando a se sentir confortáveis onde estavam.

As meninas foram então morar com os avós, enquanto Katie e o marido ocupavam um minúsculo apartamento de um cômodo em uma igreja próxima ao curso. Por um ano e meio, o casal viajou quase todo final de semana para ver as filhas. No ano seguinte, elas se mudaram para novas escolas em Carrboro, uma pequena cidade a cerca de 30 minutos de carro da faculdade da mãe. Com isso, a família voltou a se reunir e é ali que reside até hoje.

Engajamento na luta pelos direitos LGBTQIA+

Em 2019, Katie tornou-se membro da Força-Tarefa Nacional LGBTQIA+ e, em sua faculdade de direito, começou um voluntariado em uma clínica de mudança de nome que ajuda pessoas em todo o estado a mudar seus nomes legais ou marcadores de gênero. Segundo ela, esse é um processo complicado e muito burocrático para pessoas transgênero e não binárias.

Depois de se formar, em maio de 2020, ela continuou trabalhando como voluntária em várias organizações e agora espera conseguir um cargo de tempo integral trabalhando em casos para ajudar pessoas transgênero. "É exatamente por isso que eu queria me tornar uma advogada", disse Katie. "Essa é a minha motivação - proteger as pessoas".

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