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Afro Presença: último dia de evento discute sobre a importância da inclusão

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Carmen Lucia

colaboração para Ecoa, do Rio de Janeiro (RJ)

11/09/2021 06h00

Ações afirmativas e direito ao trabalho foram os assuntos que nortearam o último dia de debates do Afro Presença, evento idealizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e realizado pelo Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas). Nesta sexta-feira, o encontro virtual que aborda a inclusão da temática racial, social e ambiental no mercado de trabalho contou com a presença do mediador Otavio Brito, Camila Pinto, diretora do RH da Agência África, o publicitário Alexandre de Borges, e Presidente da Comissão de Direito Empresarial do Trabalho da Ordem dos Advogados de São Paulo (OAB/SP)

Camila iniciou a conversa contando que já atuou em empresas de diversos segmentos, mas que sua experiência é em atração de talento e performance. Hoje, ela é uma das pessoas que executa ações para garantir mais diversidade no quadro de funcionários das empresas. Ao pensar na importância de pautar com firmeza e veemência a inclusão racial nas agências de publicidade, a profissional afirma que contra dados não tem argumento.

"Eu acho que os dados refletem a história do Brasil, as condições da população hoje, é inadmissível ver esses dados, vendo a maior parte da população preta ainda não sendo representada no mercado de trabalho. Eu vejo que ainda temos muito por fazer", diz.

A diretora ponta que mudar este cenário requer tempo e muito trabalho duro. Para ela, conhecer e reconhecer a situação da população negra é o primeiro passo para implementar ações afirmativas no mercado de trabalho.

Completando o debate, Alexandre Borges usa de exemplo um estudo publicado pela McKinsey & Company que aponta que empresas com maior diversidade racial têm mais possibilidade de aumentar ganhos financeiros. "As empresas são capitalistas, buscam lucro. E muitas das empresas são multinacionais, são elas que têm pautado pastas de equidade e inclusão via suas matrizes brasileiras, então este esforço e pressão ajuda".

"Percebo o impacto social de forma muito sutil. A partir do momento em que trazemos os jovens e crianças para esse conhecimento que a Camila pontuou, mudamos as coisas. É importante ler sobre escravidão. Este mínimo de conhecimento da História é fundamental para se sensibilizar, então, acho que temos um trabalho em conjunto, de constrangimento, de convencimento, eu acho que a publicidade respondeu de forma contundente o chamado da sociedade", diz o publicitário.

Horácio Conde apresentou a relação de seu escritório com as ações afirmativas para a inclusão racial e enalteceu o poder transformador do acesso ao trabalho. "O direito ao trabalho é muito mais do que imaginamos. Quando avaliamos, percebemos que o trabalho tem funções pessoais e sociais, e vemos que os seres humanos se transformaram por causa do trabalho, sem dúvidas havia outras necessidades, mas o trabalho proporcionou a mudança", diz, ao afirmar que o trabalho é um direito essencial, que constitui a sociedade e o ser humano. Por isso, para ele, é importante que todos tenham garantia de acesso ao mercado de trabalho.

Presença negra nos cargos de liderança

Outro tema abordado no encontro virtual foi o fato de muitas empresas ainda associarem competência à raça branca. A mesa, com mediação da jornalista e empreendedora Cris Guterres, contou com a presença de Thais Dumêt Faria, membro da Oficial Técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho para América Latina e Caribe (OIT) e Cintia Cristina Silva de Araújo, professora na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI). Elas apontaram como grande mudança para o mundo corporativo, tratar as desigualdades de raça e de gênero como prioridade.

"Enxergar esse ser humano como digno desse direito, de ser, existir, trabalhar, viver. Por isso que dizemos que vidas negras importam. Um exemplo atual que podemos usar é que as empresas continuam associando a competência ao sujeito branco. Lembro aqui da fala da atriz Viola Davis quando ganhou o Oscar: 'Não dá para ganhar o Oscar sem um papel pra gente'", diz Guterres

Sobre as atitudes efetivas que podem fazer com que a população negra entre e consiga alcançar lugares de poder nos espaços de trabalho, Cintia afirma que deve haver primeiro um esforço para conscientizar as pessoas brancas, já que a grande maioria dos cargos mais altos em uma empresa são ocupados apenas por homens brancos. Na opinião dela, "as alianças são importantes para fazer essa ascensão [da população negra]. Se a gente ficar sempre nos mesmos ciclos, não funciona".