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Escola de negócios faz empreendedores periféricos triplicarem o faturamento

Luís Coelho e Jennifer Rodrigues criaram a Empreende Aí em 2015 para ajudar empreendedores periféricos - Divulgação
Luís Coelho e Jennifer Rodrigues criaram a Empreende Aí em 2015 para ajudar empreendedores periféricos Imagem: Divulgação

Paula Rodrigues

de Ecoa, em São Paulo (SP)

09/09/2021 06h00

A maioria dos negócios nascidos nas periferias de São Paulo (SP) é de mulheres negras e jovens adultas. 61% desses empreendimentos são chefiados por mulheres e, desse total de empreendedoras, 57% se considera preta ou parda. São esses os números encontrados pelo relatório "Estudo sobre empreendedorismo da periferia de São Paulo", lançado em 2020. Mas mesmo antes disso ser comprovado com dados, dois moradores do Jardim São Luis, zona sul da capital, já observavam essa tendência acontecendo na prática.

Após perceber não só a quantidade de empreendedores (e especialmente de empreendedoras) que ofereciam algum serviço ou produto na região, como também a falta de apoio que essas pessoas recebiam, Luis Coelho e Jennifer Rodrigues decidiram criar uma escola de negócios que pudesse preencher esse vazio e ajudar pessoas pelas quebradas do Brasil.

Começaram, então, em 2015, a Empreende Aí. Primeiro, criaram a metodologia que chamaram de "Despertando Empreendedor", que serviu como base para um curso piloto que realizaram na própria região onde moram. Com adaptações aqui e ali a depender da demanda, foi e ainda é com essa mesma técnica que eles já ajudaram a formar 122 turmas, um total de quase 1500 pessoas.

"Com essa metodologia, fazemos formações que passam por etapas de afunilamento de ideias, porque muitas vezes esses empreendedores têm mil ideias do que fazer. Também realizamos um trabalho de entendimento do público que eles querem atingir, fazendo pesquisa e entendendo mais o perfil do consumidor. A gente modela e testa as ideias no mercado, ajudando a pessoa a encontrar os primeiros clientes, fazendo a primeira venda, e depois a gente cai em uma etapa de gestão, em que se olha para as finanças, vendas e marketing", conta Jennifer.

Autoconhecimento e autoestima são fundamentais

As etapas foram pensadas com base na formação de Luis, que estudou administração de empresas, e da Jennifer, que é psicóloga. A união desses saberes possibilitou que eles ajudassem as pessoas em um ponto: a autoestima.

"O empreendedorismo nos últimos anos ganhou mais visibilidade. Então, quando as pessoas nos procuram, elas sabem que fazem alguma coisa nessa linha, mas eu diria que boa parte não entra se sentindo de fato um empreendedor", diz Luis.

Por isso, mexer na parte psicológica do empreendedor é considerado por eles um passo importante para a formação dessas pessoas como donos ou donas de negócios. Fazem isso trabalhando o olhar sobre si que cada um tem. Assim, olhando mais para as próprias habilidades e os pontos fracos, os empreendedores e as empreendedoras podem identificar o que conseguem fazer para botar o negócio para rodar e "gerar renda a curto prazo porque grande parte empreende por necessidade", como explica Jennifer.

"Uma empreendedora faz uma bolsa, e muitas vezes não coloca o trabalho dela no valor total daquela bolsa. Ela considera o quanto gastou para comprar a matéria-prima, considera quanto gastou de energia, considera várias coisas, mas não considera a hora de trabalho dela, a mão de obra mesmo. E se considera, considera em um valor muito mais baixo do que merece", diz Luis.

A escola de negócios, então, costuma funcionar com dois pilares: educação empreendedora e gestão de espaço e de trabalho. Fazem isso por meio de cursos presenciais ou online, programas de aceleração, oficinas e programas customizados. Exemplos disso não faltam: já adaptaram a metodologia que criaram à realidade do mundo da moda para três turmas no Jardim São Luís e no Bom Retiro, em 2016, e ainda apresentam o podcast Empreende Aí Cast, em que dão várias dicas sobre empreendedorismo.

"Minha ambição tá na pista"

Falando em lucro, outra coisa que Luis e Jennifer têm observado é que os negócios que passam pela Empreende Aí (cerca de 740) têm em média três vezes mais faturamento após as formações.

As capacitações oferecidas por eles são totalmente gratuitas, e os custos são financiados por empresas, institutos ou fundações que compram o que eles definiram como "cota de patrocínio", ou seja, quando uma organização tem algum desejo de gerar impacto dentro de alguma comunidade, a Empreende Aí é contratada para desenvolver um programa com esse olhar para educação empreendedora no local.

A gente acredita que empreender na periferia é um ato diário de resistência. Empreender no Brasil já não é fácil, imagina para quem é do fundão do Grajaú [bairro do extremo sul de São Paulo], ou que está na favela da Maré [Rio de Janeiro]? Muitas vezes as pessoas olham para a gente como um lugar de escassez, e a gente olha como lugar de oportunidades. A gente está nesse momento de virar a chavinha para olhar para esse potencial de consumo, e acreditar muito nessa potência como um todo. Luis Coelho, cofundador da Empreende Aí