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Mulher cria ONG para ajudar crianças que têm pais na prisão

Divulgação
Imagem: Divulgação

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

07/08/2021 06h00

Wandjell Browning tinha 8 anos quando viu seus pais serem presos e se lembra até hoje do que sentiu com essa abrupta separação. Na época, ela ficou em um abrigo junto com os três irmãos, até que sua avó conseguisse a sua guarda.

A forma mais comum de comunicação com os pais era por meio de cartas ou das raras ligações telefônicas e visitas. "Quando eles ligavam, tínhamos que compartilhar o telefone rapidamente entre meus irmãos porque sabíamos que quanto mais tempo passássemos na linha, mais caro ficaria para eles", contou a jovem em entrevista à revista People.

Hoje com 25 anos, ela é uma das fundadoras e presidente da Freedom Child Foundation, uma instituição sem fins lucrativos que oferece apoio a filhos com idade entre 5 e 17 anos que têm um ou ambos os pais encarcerados. Nos Estados Unidos, 2,7 milhões de crianças estão nessa situação, o equivalente a uma em cada 28.

Segundo o site da organização, criada em 2020, o objetivo é garantir que todas as crianças que desejam permanecer conectadas com seus pais tenham condições para isso - seja por meio de cartas, ligações ou visitas.

A ajuda envolve fornecer recursos para ligações, materiais de papelaria para cartas e transporte para visitas. Além disso, a fundação fornece apoio psicológico para contribuir com o bem-estar das crianças.

Verão inesquecível

Sob os cuidados da avó enquanto os pais cumpriam pena por problemas relacionados a drogas, a pequena Wandjell sonhava experimentar as viagens de verão que seus colegas costumavam descrever no início de cada ano escolar.

Wandjell Browning e sua mãe - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Wandjell Browning e sua mãe
Imagem: Reprodução/Instagram

"As crianças voltavam das férias dizendo que foram para a Disneylândia, andaram de caiaque ou caçaram - todas essas lembranças divertidas de família", disse ela. A primeira vez que participou de um acampamento de verão foi em uma prisão no estado de Illinois.

Quando tinha 10 anos, a garota participou de uma iniciativa que visava aproximar as mães presas e seus filhos. Foram três dias em que elas puderam assar marshmallows em fogueiras, nadar e trançar seus cabelos no ginásio da penitenciária e passear pelas redondezas.

"Foi o melhor momento da minha vida", revela Wandjell. "Teve um grande impacto em nosso relacionamento porque eu pude passar um tempo com ela, apenas sentindo seu cheiro, abraçando-a."

A memória daquele acampamento de verão plantou em seu coração a semente para o trabalho que hoje desenvolve na Freedom Child Foundation.

Apoio para os jovens

Em uma carta aberta publicada no site da fundação, Wandjell escreve sobre o quão constrangedor era lidar com o assunto quando outras pessoas perguntavam por seus pais.

Mulher cria ONG para ajudar crianças a se comunicarem com os pais na prisão - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

"Durante a maior parte da minha jornada eu decidi usar a frase que 'meus pais estavam de férias'. Foi terrível. Não só mentir era exaustivo, mas a falta de dinheiro para falar com eles era muito prejudicial. Foi prejudicial para o meu desenvolvimento como uma criança, além de prejudicial para o crescimento do meu relacionamento com meus pais", diz.

"Essa é uma população da qual realmente não se fala", completa ela sobre o tabu que envolve o assunto. "Depois que me senti confortável em compartilhar isso, muito mais pessoas se sentiram seguras para fazer o mesmo", acredita.

Loréal, de 15 anos, é atendida pela fundação e elogia o apoio recebido. "Sempre que falo com Wandjell, ela realmente escuta", explica a jovem, cujo pai está na prisão. "Ela conecta suas experiências com as minhas, e isso me ajuda a me abrir."

Reconexão com a mãe

Wandjell conta que foi muito difícil lidar, como criança, com o fato de ter os pais encarcerados. Mas se diz abençoada por ter conseguido seguir sua vida e contribuir para diminuir o sofrimento de crianças que passam por situações semelhantes às que viveu no passado.

A jovem também afirma estar feliz pela mãe e pelo esforço que ela faz para se manter longe das drogas e do crime agora que está em liberdade. "Ela trabalhou muito para ficar limpa e viver uma boa vida", contou no perfil do Instagram da fundação.

Mãe e filha tiveram seu relacionamento impactado com a separação. Depois do retorno ao convívio, as duas estão reconstruindo sua história. Wandjell também celebra o trabalho de sua fundação e a possibilidade de auxiliar outras mães e pais a fortalecerem os laços com a família.

"Nosso maior desejo é que não haja necessidade da existência da Freedom Child Foundation. Porém, até chegarmos lá, estaremos sempre presentes para as crianças que precisam de nós", completa.