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280 mi de anos: Floresta petrificada antes dos dinossauros é estudada no PI

Floresta petrificada é estudada no Piauí - Acervo Pessoal
Floresta petrificada é estudada no Piauí Imagem: Acervo Pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para Ecoa, em Maceió (AL)

31/07/2021 06h00

Descoberta há cinco anos, uma floresta petrificada que data do Período Permiano da Era Paleozóica (cerca de 280 milhões de anos atrás) está sendo pesquisada por cientistas em Altos (PI). Os pesquisadores consideram o local uma relíquia paleontológica, e a ideia é que a área se torne uma unidade de conservação em breve.

"Florestas petrificadas tão antigas são raras no mundo. Essa aqui é mais antiga que os dinossauros e nos ajuda a entender e reconstruir melhor a história do nosso planeta", explica o professor Juan Cisneros, coordenador do Laboratório de Paleontologia do Centro de Ciências da Natureza da UFPI (Universidade Federal do Piauí). "A maioria das florestas petrificadas que se conhecem não são tão antigas como a de Altos."

Com a floresta, os cientistas querem conhecer mais como a geografia e o clima do local mudaram ao longo do tempo. "Também podemos ter informações sobre como as plantas e as florestas foram evoluindo ao longo do tempo", completa.

Hoje, a área de 10 hectares se encontra dentro de uma reserva no assentamento São Benedito, do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). "Antes de ser destinada a ser unidade de conservação, é necessário ser feito um levantamento mais detalhado dos fósseis. Isso pode mostrar que seja necessário destinar uma área maior que a prevista atualmente", explica Cisneiros.

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Floresta petrificada que data do Período Permiano da Era Paleozóica
Imagem: Acervo Pessoal

Acervo e estudo

Na floresta já foram encontrados 70 troncos fossilizados. Todos são gimnospermas (grupo de árvores que inclui as araucárias e os pinheiros). "A gente ainda não identificou as espécies que viveram lá. Já sabemos que eram gimnospermas, mas parecem ser espécies novas para a ciência. Deve ser feito um levantamento mais exaustivo da extensão dessa floresta para determinar a sua extensão total. O estudo feito até agora é preliminar", diz.

Um ponto que pesou a favor da conservação do local é que a floresta fica em área de difícil acesso, e os fósseis achados ficam na encosta de um morro dentro de uma mata de cocais. "É possível que outros morros nessa região também tenham fósseis, a gente nunca procurou", cita.

Segundo ele, se o sítio paleontológico for bem conservado, pode se transformar em uma opção educativa e de lazer na região. "Assim como pode se reverter positivamente para economia da comunidade local", completa.

Diante do potencial, autoridades locais já se mostram interessadas na criação da unidade de conversação para manter o local preservado e mais apto para receber visitas.

"Visitamos a floresta recentemente com autoridades. Estou trabalhando, junto aos órgãos competentes, vislumbrando a transformação em uma área de preservação ambiental e transformação em um parque florestal municipal", diz Andréa Amaral, vereadora de Altos, que está à frente do processo.

"A floresta petrificada pode se tornar uma grande atração turística para o nosso estado, e principalmente para o nosso município, gerando emprego e renda e preservando o meio ambiente", completa.

Ela explica que as autoridades se comprometeram com o próximo passo: cercar a área. "É uma forma de preservar, conter a entrada de animais e de pessoas descontroladamente. Todos os gestores se mostraram interessados em contribuir cada um em suas atribuições", diz.

Extrativismo e pouco conhecimento

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Floresta petrificada identificada em Altos (PI) pode se tornar atração educativa e de lazer.
Imagem: Acervo Pessoal

A professora e especialista em gestão e educação ambiental, Joira Mara Fernandes de Paiva Costa, fez um levantamento no local para conhecer moradores para conhecer a percepção ambiental e da comunidade sobre o sítio paleontológico.

Segundo ela, são cinco comunidades que vivem no entorno da floresta petrificada. "A mais próxima delas chama-se Boqueirão do Brejo, e os moradores usam a floresta para fazer extrativismo vegetal. A gente percebeu nas entrevistas socioeconômicas que eles são agricultores, trabalhadores rurais e que, na maioria, moram há mais de trinta anos lá. São pessoas que sabem a importância da preservação, mas não conhecem o valor evolutivo e científico-cultural que tem aquela floresta", diz.

Costa cita que esses moradores precisam ser mais orientados sobre o patrimônio paleontológico que existe no local.

"Ali já é uma APA [área de preservação ambiental], a gente não tem uma instrumentalização mais efetiva para preservação, tanto na parte fóssil, como na conservação natural. Lá tem uma nascente d'água que os moradores se preocupam bastante", explica.

Com essa análise que ela fez, algumas primeiras intervenções para orientações para conservar o local já foram feitas. "No caso, a primeira deve ser a delimitação do terreno de imediato para que essa conservação acontecesse da melhor forma possível", finaliza.