Topo

Historiadores criam acervo para guardar histórias da pandemia no Brasil

Acervo armazena histórias para registrar como a vida no Brasil foi impactada pelo coronavírus - Reprodução
Acervo armazena histórias para registrar como a vida no Brasil foi impactada pelo coronavírus Imagem: Reprodução

Júlia V. Kurtz

Colaboração para o Ecoa, em Passo Fundo (RS)

14/06/2021 06h00

A pandemia da covid-19 atingiu as pessoas de uma forma nunca vista em todo o mundo. Incerteza, medo, angústia são sentimentos comuns a muita gente, que acabaram extravasando das mais variadas formas possíveis em textos, fotos e vídeos que de certa forma documentam esse momento.

Foi pensando nisso que quatro historiadores criaram o Memorial da Pandemia. Trata-se de um acervo digital para armazenar histórias, fotos e documentos de como a vida no Brasil foi impactada pelo novo coronavírus. Ele reúne material de diversos tipos de pessoas e tem como objetivo criar a representação mais fiel da realidade brasileira durante esta época.

O projeto foi criado por Pietra Diwan, Alexandre Teixeira, Moisés Ferreira e Cynthia Rossini, que se conheceram durante o doutorado em História na PUC-SP. Em 2020, quando a pandemia atingiu o país, eles começaram a promover encontros online para conversar, e foi dessas conversas que saiu o embrião que se tornaria o memorial.

"O memorial é uma iniciativa civil, basicamente de nós quatro, e que depende da colaboração de outras pessoas", diz Pietra. Ela acrescenta que o projeto é uma espécie de solução para problemas que os criadores, como historiadores, acreditam que futuros profissionais possam encontrar ao pesquisar por esse período histórico.

"É uma forma de preservar as fontes primárias. Há um turbilhão de informações sendo criadas neste momento, então como nós podemos colaborar neste momento?", completa Ferreira.

Estas dificuldades incluem a preservação de registros, filtrar a desinformação e o excesso de ruído das redes sociais e oferecer um contraponto ao viés oficial do governo. "A memória não guardada, não valorizada, traz muitos prejuízos para o futuro", alerta Teixeira.

Memorial da pandemia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Pietra, Alexandre, Moisés e Cynthia fazem a curadoria de todo o material enviado para entrar para o acervo
Imagem: Arquivo pessoal

A primeira encarnação do projeto foi por meio das redes sociais, mas os organizadores perceberam que elas não ofereciam a diversidade de ferramentas necessárias para que ele crescesse e migraram para um site próprio. O material pode ser enviado por qualquer pessoa para a publicação, e o sistema aceita diversos tipos de conteúdo como textos, fotos e vídeos.

A curadoria é feita pelos responsáveis durante o intervalo de seus trabalhos para filtrar material inadequado. A princípio, todos os envios relacionados são publicados, independente das opiniões expressadas.

Isto ocorre porque o projeto almeja ser o retrato mais completo possível do momento brasileiro, ainda que isso inclua visões que os autores discordem. "Em geral, as pessoas são críticas ao processo governamental brasileiro, e nós já recebemos sinais de que precisamos ter registros de negacionistas no memorial, mas ainda não temos esse conteúdo no nosso acervo", diz Teixeira.

Um dos desafios da equipe foi perceber que o memorial não tem a capacidade de alcançar aquela parcela da população que não tem acesso à internet e, portanto, não poderiam participar como consumidores ou fornecedores de conteúdo. "Nem todas as experiências estão sendo retratadas nos jornais", lembra Diwan.

Uma das formas de resolver isto foi mapear pessoas conhecidas que tinham histórias para contar e fazer entrevistas com eles. Diwan reitera que este processo não é o suficiente e o desejo de todos é tornar o memorial um instrumento diverso e que contenha o material mais amplo possível, de pessoas de várias esferas da sociedade.

Os esforços do grupo levaram à elaboração de um livro contando algumas das histórias recolhidas e exibindo uma parte do acervo. Ele inclui também textos de cada um dos organizadores e foi financiado por doações.

"O livro era fruto do desejo de um passo mais concreto e uma forma de dar publicidade ao nosso trabalho", acrescenta Teixeira. A expectativa era de que a coletânea fosse lançada em abril, porém, devido a contratempos, ela foi adiada e deve sair até o início de agosto.

Você pode contribuir com o funcionamento do projeto com uma doação por meio deste link de financiamento coletivo.
Para enviar os seus registros deste momento de pandemia e colaborar com o acervo, Basta acessar a plataforma e fazer o upload do seu material.