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"Sem Abelha. Sem alimento". Professor cria ONG para ajudar a salvar abelhas

Prof. Dr. Lionel Segui Gonçalves fundador da ONG Bee or not to be - Divulgação/UFERSA
Prof. Dr. Lionel Segui Gonçalves fundador da ONG Bee or not to be Imagem: Divulgação/UFERSA

Camilla Freitas

De Ecoa, em São Paulo

08/06/2021 06h00

Comer um pastel e tomar um caldo de cana na feira é também ter que driblar uma série de abelhas que, por vezes, circundam as barracas. Esse pequeno inseto que, em um primeiro momento, pode parecer um grande incômodo, está ameaçado. Isso porque, nos últimos anos, tem-se registrado a morte de milhões de abelhas pelo Brasil e pelo mundo.

Pensando em apoiar e desenvolver ações para defesa e preservação das abelhas, o professor universitário Lionel Segui Gonçalves decidiu criar, em 2017, a ONG Bee Or Not To Be. Com sede em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a organização realiza feiras expositivas, encabeça campanhas, cria material educativo e faz pesquisas em prol desse que é o principal polinizador da natureza.

Conheça as atividades desenvolvidas pela ONG Bee Or Not To Be

Ser ou não ser?

"Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência". O pensamento de Albert Einstein resume bem a preocupação da ONG Bee Or Not To Be. O próprio nome da organização, uma referência ao "Ser ou não ser" de Shakespeare, remete ao fato de que, sem abelhas, pode não haver humanidade.

Cerca de 75% das plantas utilizadas na nossa alimentação dependem direta ou indiretamente da ação de polinizadores como as abelhas. Carmem Pires, pesquisadora da Embrapa e doutora em ecologia de insetos, explica que podemos até continuar tendo alguns alimentos, só que esses produtos podem passar a ser bem mais caros.

Essa influência das abelhas no processo de cultivo de alguns alimentos acontece por meio da polinização, processo que também é responsável por garantir a manutenção de ecossistemas. Ao sugar o néctar de algumas flores, as abelhas acabam transportando o pólen de uma flor para a outra, fertilizando-as.

"Mesmo as culturas que não dependem das abelhas, como a soja e o algodão, se beneficiam delas", explica Pires. Um estudo publicado em 2019 pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos mostrou que, em 2018, o valor estimado dos serviços de polinização considerando 67 culturas foi de R$ 43 bilhões.

"Isso é muito legal porque nós podemos inserir a abelha dentro do sistema de produção como um insumo. Se eu preciso da semente, do adubo, da água, então eu também preciso de uma abelha para plantar", completa.

Abelhas sob ameaça

A estimativa é que existam mais de 20 mil espécies de abelhas no mundo. No Brasil, são cerca de 1.600, sendo que, dessas, 300 são nativas. Apesar da grande variedade, um levantamento feito pela Repórter Brasil e Agência Pública fez um alerta.

Publicada em março de 2019, a reportagem mostrou que, em três meses, mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas em quatro estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo. "Nós estamos tendo no mundo um declínio muito grande dos polinizadores e esse tema vem sendo debatido em todo mundo, recebendo, inclusive, uma orientação da ONU que chama a atenção da importância de se proteger as abelhas", comenta o professor Lionel Gonçalves.

Esses dados de morte das abelhas, contudo, nem sempre são precisos, isso porque, segundo a pesquisadora Carmen Pires, não há coleta oficial por parte do Governo Federal. "Nós temos produtores denunciando que estão perdendo colmeias, mas se você me perguntar quantas, ao todo, eu não vou ter um dado oficial para te dizer", comenta.

O aplicativo Bee Alert, desenvolvido pela ONG Bee Or Not To Be, é um dos responsáveis por colher essas denúncias de apicultores. Esses números foram publicados na tese "Desaparecimento e morte de abelhas no Brasil, registrado no aplicativo Bee Alert", defendida por Dayson Castilhos e orientada pelo professor Lionel.

Mais do que apresentar números totais de mortes, o estudo buscou entender sua causa e apontou o uso de agrotóxico como um dos culpados, principalmente os pesticidas neonicotinoides e Fipronil. O uso dos agrotóxicos pode afetar as abelhas de modo direto, quando elas recebem a aplicação direta, o que ocasiona sua morte, e de modo indireto, quando as abelhas recolhem o agrotóxico de alguma planta que foi pulverizada e leva para dentro da colmeia. "Isso pode causar, por exemplo, uma longevidade menor na espécie", explica Carmen Pires.
Segundo a pesquisadora, o desmatamento é outro fator que pode ocasionar a morte de mais abelhas, uma vez que elas precisam do recurso das plantas para se alimentar e das árvores para construir suas colmeias.

Como ajudar as abelhas

Segundo a ONG Bee Or Not To Be, com algumas iniciativas simples você pode mesmo da sua casa ajudar a proteger as abelhas. Confira:

Plante árvores e cultive flores: flores com pólen e néctar fornecem o alimento natural das abelhas
Consuma produtos orgânicos: eles não contêm agrotóxicos
Não utilize pesticidas que sejam tóxicos às abelhas: dê preferência ao controle biológico de pragas
Tenha uma colmeia em casa: cultive uma colmeia de abelhas sem ferrão
Proteja os habitats das abelhas: casa você esteja com uma colmeia de abelhas com ferrão em casa, chame um apicultor para retirar
Seja um consumidor consciente: prefira empresas que protejam o meio ambiente
Questione sobre o problema: questione as autoridades sobre o desaparecimento das abelhas