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Refugiados sírios criam projetos para salvar abelhas da extinção

Ali Alzein, fundador do Bees & Refugees - Reprodução/Instagram
Ali Alzein, fundador do Bees & Refugees Imagem: Reprodução/Instagram

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

30/05/2021 06h00

A abelha preta está ressurgindo na paisagem do Reino Unido depois de ser quase extinta na região. Para conseguir esse feito, a natureza contou com uma forcinha extra de dois projetos de apicultura administrados por refugiados sírios.

Ali Alzein, fundador do Bees & Refugees, e Ryad Alsous, criador do The Buzz Project, tiveram que abandonar a Síria em busca de uma vida melhor. Apesar de hoje estarem quase 300 km distantes um do outro, ambos compartilham a paixão pela apicultura como uma maneira de ressignificar a perda da terra natal.

Em busca de paz

No bairro de Hammersmith, em Londres, Ali Alzein fundou a Bees & Refugees para fornecer treinamento gratuito de apicultura para refugiados que vivem no Reino Unido. Além disso, o projeto oferece apoio técnico e logístico aos interessados, fornecendo-lhes um kit inicial que inclui uma colmeia, bem como um espaço para a sua criação.

Para Alzein, o trabalho que realiza vai muito além da produção de mel. "Acredito que estar perto de abelhas é terapêutico", explicou ao site Positive News. Na Síria, ele aprendeu a cuidar de colônias do inseto com o avô. No entanto, só depois de 2012, quando se refugiou em Londres, é que o aprendizado foi colocado em prática.

"Eu estava sofrendo de estresse pós-traumático e depressão severa", revela. Durante a guerra em seu país, ele foi preso em Damasco e teve sua fábrica de malhas queimada pelo governo. "Minha colmeia [de Londres] me ajudou a superar todo o trauma", completa.

O projeto, além de oferecer uma atividade comercial para reintroduzir os refugiados na economia trabalhista, também contribuiu para a preservação das abelhas pretas na região.

Enquanto vigoram as medidas sanitárias de distanciamento social com a covid-19, ele extrai o mel sozinho. Quando puder abrir as portas novamente, pretende convidar refugiados para cuidar das abelhas e conhecer as colmeias, muitas delas localizadas em terras privadas doadas ao projeto por londrinos.

O professor das abelhas

Em outra parte do Reino Unido, a cerca de 320 km ao norte de Londres, outro refugiado sírio conseguiu reintroduzir a abelha preta nos arredores ensolarados da cidade de Huddersfield. O ex-professor de agricultura da Universidade de Damasco Ryad Alsous possui uma coleção de 13 colmeias que, juntas, compõem o The Buzz Project.

Ryad Alsous, criador do The Buzz Project - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Ryad Alsous, criador do The Buzz Project
Imagem: Reprodução/Facebook

O projeto ajuda refugiados e desempregados a encontrar um propósito por meio da apicultura. "Durante o treinamento, podemos melhorar seu idioma e envolvê-los com a comunidade para torná-los ocupados e felizes e fazê-los esquecer os momentos difíceis que passaram durante a guerra", disse Alsous ao canal britânico ITV.

Não são apenas refugiados sírios que estão sendo contemplados pela iniciativa. Toba, ex-morador da Nigéria, se mudou para o Reino Unido em 2017, fugindo da violência em seu país. "Eu amo a natureza e adoro apoiar a comunidade", disse ao Positive News. "Eu sabia um pouco sobre jardinagem, mas não sabia muito sobre apicultura, então [o The Project Buzz] permitiu que eu começasse a amar o meu novo ambiente imediatamente", revela.

O professor Alsous conhece bem o ramo do mel e de criação de abelhas. Antes de se mudar para o Reino Unido, em 2013, trabalhava em um programa de genética de abelhas na Síria desde 1989. Passou anos pesquisando as propriedades químicas do mel e era conhecido por seus alunos como "o professor das abelhas''.

Agora, na pandemia, tem visitado as colmeias sozinho a cada dois dias. Apesar das dificuldades, ele conta que as coisas estão indo bem.

Esperança para as abelhas

De acordo com dados divulgados pelo Greenpeace UK, um terço das abelhas do Reino Unido desapareceram nos últimos 10 anos e um quarto das espécies europeias estão em risco de extinção.

Quando o professor iniciou o projeto, apenas 5% dos apicultores usavam abelhas locais; agora, à medida que mais pessoas estão reintroduzindo as espécies nativas, ele acredita que esse número deve chegar rapidamente a 50%. Ele próprio está ajudando a aumentar essa população ao doar algumas das suas a outros criadores.

Apesar de muitas abelhas criadas no Reino Unido serem de origem italiana, Alsous acredita que a abelha preta nativa está pronta para retornar plenamente à paisagem, já que está integrada à flora local e tem alta resistência à varroa, um tipo de ácaro parasita que infesta colônias do inseto.

O professor estima que a abelha preta poderá atingir níveis autossustentáveis em aproximadamente 25 anos, caso os esforços atuais para a sua preservação sejam mantidos.