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Ação reúne chefs e doa comida nutritiva e orgânicos a milhares de famílias

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Débora Rubin

Colaboração para o Ecoa, em São Paulo

24/05/2021 06h00

Começou com um olhar para o próprio quarteirão. Moradores do centro de São Paulo, o casal Amanda Dafoe e Cacá Machado logo percebeu um dos desdobramentos mais imediatos da pandemia do coronavírus: tinha mais gente na rua, e tinha mais gente passando fome. "A ideia do projeto veio de uma angústia nossa", diz Amanda, que é designer e produtora cultural. "Trancados em casa, o que nós, como cidadãos, podíamos fazer?".

Como os dois sempre gostaram de cozinhar, veio a ideia de fazer marmitas para distribuir. Num sábado, começaram a preparar a comida e, no dia seguinte, montaram 75 refeições que foram distribuídas em menos de meia hora na Praça Marechal Deodoro. "A gente entende a cozinha como um lugar de afeto, de troca. É muito profunda a ideia de alimentar o outro".

A experiência foi duplamente impactante. Eles ficaram impressionados com a capacidade de produzirem tanto e, ao mesmo tempo, perceberam que esse tanto ainda era pouco. Contaram a experiência para amigos com o intuito de conseguir apoio financeiro para fazer o feijão crescer na panela. A adesão foi imediata. O projeto ganhou corpo e, para além dos moradores de rua do Centro, chegou a ocupações e bairros periféricos.

O número de voluntários também começou a crescer, atraindo desde gente como Cayque Castro, de apenas 15 anos, hoje um dos mais ativos e estratégicos do Panela Coletiva, até chefs renomados como Mara Salles, do Tordesilhas, Bel Coelho e Alex Atala. "Em pouco tempo, saímos das 75 marmitas iniciais para 800 por domingo, distribuídas de seis a oito lugares de São Paulo", diz Amanda.

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Hoje são 3 mil refeições por mês, feitas nas próprias comunidades que recebem os alimentos
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Um ano depois, no entanto, o projeto tem um novo modelo. "Percebemos que era muito esforço, muito tempo e muita gente envolvida para fazer essas 800 refeições - uma estrutura cara. Com a pandemia apertando, entendemos que cada real arrecadado deveria ser usado da maneira mais potente possível", explica ela.

A solução foi reduzir a quantidade de marmitas e aumentar a distribuição de alimentos frescos e cestas básicas para comunidades e aldeias indígenas. As quentinhas ficam para quem não tem gás ou fogão para cozinhar em casa. Hoje, são 3 mil refeições por mês, feitas nas próprias comunidades que recebem os alimentos, mais 120 cestas básicas.

Algumas premissas seguem as mesmas desde o começo: embalagens biodegradáveis, alimentos orgânicos e uma experiência gastronômica rica. "Não é comida para encher barriga. É prazer, reconhecimento, nutrição", diz a idealizadora, que ao mesmo tempo em que celebra a experiência, lamenta que precise ser assim.

"Estamos enxugando gelo, o poder público não faz o papel dele e é cômodo para eles que tenha tanta gente se mobilizando para alimentar essas pessoas. É nosso dever ser solidário num momento de crise, mas não fazer o que eles deveriam fazer. Então, mais que distribuir comida, precisamos nos unir, criar uma pauta única e nos posicionar. Fazer comida e barulho", desabafa a designer.

Para ajudar

O projeto se sustenta exclusivamente de doações e voluntários.
Para se voluntariar, entre em contato pelo Instagram
Para doar dinheiro, o PIX é panelacoletiva@gmail.com