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Curso da USP ensina idosos a usar smartphones e tablets

Idosos no curso da USP antes da pandemia; hoje, aulas são realizadas de forma online - Divulgação/ICMC-USP
Idosos no curso da USP antes da pandemia; hoje, aulas são realizadas de forma online Imagem: Divulgação/ICMC-USP

Ana Prado

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

23/05/2021 06h00

"Hoje, no dia a dia, a gente precisa de certas coisas, como pegar um Uber, pedir um almoço, e se não souber como fazer tem que ficar dependendo dos outros. Aprender isso é muito valioso", comenta Claudete Pena, de 73 anos. O relato foi gravado em seu próprio celular e enviado aos professores no final do curso Práticas com Tablets e Celulares, oferecido pela USP em São Carlos.

A iniciativa, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, foi criada em 2015 para ensinar idosos a usar os dispositivos digitais. Desde então, tem sido um sucesso: as inscrições, que antes da pandemia eram feitas presencialmente, atraíam filas de interessados. "Sempre faltam vagas. Até no formato virtual temos lista de espera", comenta a professora Kamila Rios Rodrigues, coordenadora do curso.

Gratuitas, as aulas são oferecidas todos os semestres em duas turmas: uma para quem já tem conhecimentos básicos e outra para iniciantes, que devem fazer as aulas junto com um acompanhante. Ao todo, são 50 vagas.

O objetivo é ajudar o público acima de 60 anos a usar bem as funcionalidades dos dispositivos. "Depende de cada turma, mas em geral, no grupo de iniciantes, focamos em configurações básicas como despertador, teclado virtual, inserir wi-fi e usar aplicativos como WhatsApp, Facebook, Google e YouTube. Nos avançados temos outras demandas, como Instagram, Uber, iFood. São aplicativos que, uma vez aprendidos, oferecem certa autonomia aos idosos", explica a professora.

A pandemia e as aulas online

O curso era oferecido apenas de forma presencial, mas a pandemia fez com que as atividades tivessem que ser suspensas em março de 2020. Na época, as turmas do semestre ainda estavam em sua terceira semana. "Sendo eles um público de risco, não teríamos como voltar às aulas presenciais tão cedo", conta Kamila.

Ela então fez uma primeira tentativa de realizar as aulas remotamente com aqueles que estavam na modalidade avançada. "Gravávamos a aula no YouTube e os alunos assistiam quando tinham disponibilidade e nos mandavam as atividades que realizavam em casa", conta. Mas não deu muito certo: "Eles rapidamente se desmotivaram porque não sentiam que estavam em um ambiente de aprendizado e de trocas sociais".

No segundo semestre daquele ano, ela resolveu reformular o curso e pensar em estratégias para fazer dar certo. As aulas ainda seriam virtuais, mas dessa vez ao vivo, via Google Meet. Como isso exige algum conhecimento tecnológico, o curso foi oferecido apenas na modalidade avançada.

Tutores voluntários ajudavam remotamente os idosos na realização dos exercícios para acompanhar o desempenho de cada um. "Essa segunda tentativa foi um sucesso e tivemos um retorno muito positivo. Hoje estamos de novo com as duas turmas, e até o momento só temos bons resultados. Superamos os desafios", comemora.

Independência e alguns imprevistos

Segundo Kamila, todos os alunos conseguem alguma independência ao fim do curso e alguns até replicam as aulas com outros colegas. "Temos idosas que estão se tornando Youtubers", conta.

Apesar dos bons resultados, às vezes acontecem imprevistos - que são sempre levados com leveza e bom humor. Em uma das aulas, por exemplo, os alunos estavam aprendendo a usar o iFood e deveriam encontrar um restaurante e colocar itens na sacola. Embora a atividade parasse por aí, uma das idosas finalizou a compra sem perceber. Algum tempo depois, para sua surpresa, chegaram à sua porta dois escondidinhos de calabresa tamanho família.

O filho conseguiu cancelar o pedido e o entregador voltou para o restaurante com a entrega. Para amenizar a situação, Kamila ligou para o restaurante e disse que ficaria com os escondidinhos. "Almocei e jantei o prato por dois dias, mesmo não sendo o meu sabor preferido. Todos rimos muito da situação e, no fim do curso, fui surpreendida com uma cesta de happy hour cheia de salgadinhos e aperitivos de calabresa - presente da mesma idosa. Dar aula para eles não tem preço", lembra.

Por outro lado, também acontecem momentos emocionantes. Ao aprender a usar o aplicativo de música Spotify, por exemplo, muitos compartilham prints com a turma, emocionados por encontrar uma música do seu artista preferido.

"Nessa pandemia, que estou em casa, o curso está me ajudando a ter uma atividade. Essas horas que eu fico nas aulas, e depois fazendo as tarefas, são ótimas. Então está preenchendo bastante o meu tempo e estou adquirindo conhecimentos", conta a aluna Nely Conceição, de 70 anos, também em um vídeo gravado por ela própria.

Os idosos que se interessarem pelo curso precisam possuir um celular ou tablet próprio, com acesso à internet e e-mail e sistema operacional Android. As inscrições para este semestre estão encerradas, mas novas turmas devem ser abertas no segundo semestre.