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Mineradores russos ajudam a resgatar filhote de urso domesticado

Filhote de urso encontrado perto de base de mineradores na Ilha Bolchevique - Andrei Gorban/Reprodução Facebook
Filhote de urso encontrado perto de base de mineradores na Ilha Bolchevique Imagem: Andrei Gorban/Reprodução Facebook

Ana Prado

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

08/05/2021 06h00

A gelada e remota Ilha Bolchevique é parte do arquipélago russo Severnaia Zemlia (ou Terra ao Norte, em russo), situada ao norte da península siberiana de Taimyr, no oceano Ártico. Montanhosa, essa ilha tem mais de 30% do seu território coberto por geleiras. Nela também existem depósitos de ouro, e mineradores vindos do continente costumam passar temporadas trabalhando ali.

No começo deste ano, um grupo desses trabalhadores foi surpreendido por um filhote de urso polar, que apareceu às portas de sua base atraído pelo cheiro de comida. Eles logo descobriram que se tratava de uma fêmea que havia perdido a mãe e era ainda muito nova para caçar seu próprio alimento.

Com pena do animal esfomeado, começaram a alimentá-lo e o convívio entre eles só aumentou. Com isso, ela acabou sendo domesticada e, segundo o jornal Siberian Times, agia quase "como um cachorro", brincando e aproveitando afagos.

Um vídeo filmado pelos mineradores mostra isso com clareza: nele, o filhote sobe uma escada enquanto tenta alcançar uma janela; depois, vai brincar com um dos homens e lhe dá um "abraço".

Ursos polares são considerados ameaçados de extinção na Rússia e há uma série de regras sobre como lidar com eles. Alimentá-los, por exemplo, é ilegal, já que a domesticação pode prejudicar o desenvolvimento de suas habilidades de caça e diminuir suas chances de sobreviver na natureza.

Aqueles homens, no entanto, não tinham internet para pedir ajuda sobre como proceder, e fizeram o que achavam ser certo. No fim, especialistas concordaram que o urso era tão pequeno que dificilmente sobreviveria sem sua ajuda.

Um susto e uma boa notícia

Tudo corria bem, até que chegou a hora daqueles trabalhadores trocarem de turno: eles voltariam para o continente e outra turma chegaria àquela estação após alguns meses.

Preocupados, eles pediram ajuda para especialistas em Krasnoyarsk, uma cidade da região da Sibéria, assim que chegaram em casa, no início de fevereiro. "O filhote de urso poderia ter morrido de fome [ao ficar sozinho], porque era muito pequeno. Não tivemos tempo para fazer nada. Nossa única esperança era que os mineradores tivessem deixado bastante lixo aberto, então havia uma chance de que o filhote pudesse se alimentar dele por semanas antes do próximo turno chegar", disse em um post no Facebook Andrei Gorban, o diretor de um zoológico na cidade que ajudou na organização do resgate.

Quando os novos homens chegaram, eles não viram nenhum filhote e presumiram o pior. Mas pouco tempo depois chegaram notícias de outra base dizendo que o urso havia aparecido por lá. "Magro, sujo, mas vivo!", comemorou Gorban.

Era preciso tomar uma atitude, já que o bichinho logo cresceria e se transformaria em um grande predador - que, no entanto, não seria mais capaz de sobreviver sem os humanos.

Gorban conseguiu a ajuda de muita gente, de autoridades e serviços de proteção animal a mineradores que estavam trabalhando nas bases da ilha. Segundo ele, graças a essa mobilização foi possível mandar um helicóptero para resgatar o filhote e levá-lo até o Zoológico de Moscou, onde ficaria de quarentena por alguns meses.

Como não existe nenhum caso em que ursos polares tenham sido introduzidos de volta à vida selvagem após um contato tão longo com humanos, o governo achou melhor mantê-lo protegido. Por isso, o próximo passo, agora, é encontrar um parque mais confortável onde o urso continuará a viver permanentemente.