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Após 22 anos só, 1º peixe-boi reintroduzido no país ganha companhia em SE

Peixe-boi Astro ganha companhia após 22 anos - Divulgação
Peixe-boi Astro ganha companhia após 22 anos Imagem: Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para Ecoa, de Maceió (AL)

20/02/2021 04h00

Depois de 22 anos navegando sozinho, o peixe-boi Astro ganhou um companheiro nos passeios pelas águas mornas do litoral sul de Sergipe e norte da Bahia. O amigo dele chama-se Tupã, que junto com Astro é monitorado pelo projeto "Viva o Peixe-Boi Marinho", da FMA (Fundação Mamíferos Aquático), que resgata, monitora e reintroduz peixes-boi marinhos na região Nordeste.

A história de Astro, de aproximadamente 30 anos de vida, é simbólica para a espécie no Brasil: ele foi o primeiro peixe-boi marinho reintroduzido na natureza, em 1994 — desde lá então já foram soltos aproximadamente outros 50 animais, nos estados de Alagoas e Paraíba.

Ele foi resgatado ainda filhote, em 1991, encalhado na praia de Aracati (CE). Após passar por reabilitação, ele foi solto junto com a peixe-boi Lua, marcando o início do programa de reintrodução para tentar salvar a espécie da extinção no litoral do país.

Astro enfrentou muitos problemas na vida, como atropelamentos e o óleo que poluiu praias do Nordeste em 2019.

Até a segunda-feira (15), ele só havia sido avistado nadando só. Ele é rastreado desde sua soltura, em 1998, quando chegou no litoral de Sergipe —hoje ele também navega no norte da Bahia.

Ele foi avistado e filmado com "Tupã" pelo condutor de embarcação Elton Oliveira Santos, que é voluntário da fundação no trabalho da conservação dos peixes-boi na região. Agora, com o monitoramento, sabe-se que os dois animais estão nadando juntos, como se Astro guiasse o amigo para conhecer o litoral onde vive.

Já Tupã tem aproximadamente 16 anos e foi reintroduzido no mar em 2012, sete anos após o seu resgate feito pela equipe da ONG Aquasis na praia de Uruaú, em Beberibe (CE).

Ao contrário de Astro, ele gosta mais de viajar pelo litoral do Nordeste. No ano passado Tupã passou por quatro estados: saiu da APA (Área de Proteção Ambiental) Costa dos Corais, em Alagoas; foi a Porto de Galinhas (no município de Ipojuca-PE); seguiu até a APA da Barra do Rio Mamanguape, litoral norte da Paraíba; e depois foi avistado em algumas praias do Rio Grande do Norte.

Peixe-boi Astro e nova companhia

Ecoa

Encontro é emblemático

Segundo o coordenador do projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, João Carlos Gomes Borges, o encontro de Astro com Tupã é "emblemático". "A população de peixe-boi está distribuída de forma descontínua no litoral das regiões Norte e Nordeste no país. Ao longo destas áreas de distribuição, há trechos em que a espécie já desapareceu. E nas áreas em que a espécie existe, há um número reduzido de animais. O mais comum é que sejam avistados solitários. Nas imediações entre Bahia e Sergipe, onde a espécie havia desaparecido, estamos aos poucos voltando a ter evidências de alguns animais reutilizando essa área.", explica.

A área em que Astro gosta de viver —o complexo estuarino Piauí-Fundo-Real (SE) — não estava sendo frequentada por outros animais da espécie. "Até então, nenhum animal tinha encontrado com Astro. E agora nós tivemos essa companhia, então isso foi muito interessante", completa.

Ele explica que o mais comum é encontrar dois peixes-boi quando se tratam de mãe e filhote. "A fêmea anda com o filhote por período em torno de dois anos. Nesse tempo ela pode ser vista com esse filhote. Mas, fora isso, geralmente os animais permanecem a maior parte do tempo solitários, e aqui no Brasil temos esse agravante de uma população pequena e dispersa", diz.

Há mais de três décadas, a FMA atua resgatando animais encalhados e os levando para tratamento e posteriormente readaptação para viver no habitat natural. Numa parceria da instituição com a APA da Barra do Rio Mamanguape, Cepene-ICMBio (Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste) e comunidade local, um recinto de readaptação em ambiente natural foi construído no litoral norte da Paraíba, com o intuito de preparar os animais para a reintrodução. Existe outro recinto desta mesma natureza em Porto de Pedras (AL), na APA Costa dos Corais. Além destes, existe também um oceanário do Centro Mamíferos Aquáticos, do ICMBio, localizado na Ilha de Itamaracá (PE), onde os filhotes resgatados são recebidos e passam por todo processo de reabilitação até, quando aptos, serem transferidos para os recintos de readaptação.

Segundo Borges, o encalhe de filhotes acontece, principalmente, nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. "Esses filhotes precisam ser resgatados, encaminhados para reabilitação em cativeiro, para posteriormente serem soltos. E "Astro" foi um dos primeiros animais resgatados e soltos no programa de reintrodução, ele tem um simbolismo muito grande porque ele representa o início, a implementação de um programa", explica.