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"Professor Polvo": A história de aprendizagem mútua entre homem e natureza

Craig Foster mergulha em cena do documentário "Professor Polvo" (Netflix) - Divulgação
Craig Foster mergulha em cena do documentário 'Professor Polvo' (Netflix) Imagem: Divulgação

Mariana Tramontina

Colaboração para o Ecoa

29/01/2021 04h00

À primeira vista, "Professor Polvo", documentário disponível na Netflix, é mais um filme sobre vida marinha, criaturas subaquáticas e ecologia. Mas o que se vê ao longo de seus 85 minutos de duração é uma história sobre curiosidade, criatividade, recuperação do amor pela vida e sobre como as conexões que fazemos são únicas.

Craig Foster é um cineasta de vida selvagem que passou por um período difícil e desgastante. Estressado e vendo sua saúde mental ser arruinada, se culpando por não conseguir ser um bom pai para seu filho, ele foi em busca de uma mudança radical: se aventurar em mergulhos em uma floresta subaquática nas imediações da Cidade do Cabo, na África do Sul, algo que o remetia à sua infância. E é debaixo d'água que ele encontra seu processo de cura.

Enquanto se reencontra com o mundo ao seu redor, Foster se encanta com um polvo e desenvolve uma interação incomum com o molusco. Ali, ele se vê novamente apaixonado pela câmera e embarca em uma jornada única de mais de 300 dias de exploração da vida marinha.

Determinado a entender aquela criatura misteriosa, Foster decidiu retornar todos os dias ao mesmo local para filmar e acompanhar a rotina do polvo. Na água gelada de 8 a 9 graus Celsius, ele aprendeu técnicas de respiração e de mergulho livre sem roupa de neoprene para experienciar ser "como um animal anfíbio", na intenção de não criar barreiras entre ele e o ambiente marinho. E o que se segue é uma história que parece ficção: ao entender que o mergulhador não lhe é uma ameaça, o polvo permite que ele faça parte de seu cotidiano e começa ali uma caminhada de aprendizagem e exploração mútuas.

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Imagem: Divulgação

Ele também passou a estudar a literatura científica sobre o polvo comum para compreender aquela peculiar conexão: o que se passa pela mente do polvo; e o que pensa? Apesar da interação com o animal, Foster está ali como um observador e não interfere no ciclo natural, mesmo quando testemunha de perto as ameaças e recorrentes perseguições de predadores pelo molusco. Animais espertos, os polvos têm habilidades de fuga e de camuflagem para se esconder de predadores, mas também têm vida curta, podendo sobreviver de 12 a 24 meses. É neste cenário que o mergulhador reflete sobre a fragilidade da vida.

À medida que estabelece laços mais fortes com o animal, Foster também se aproxima de questões pessoais das quais se via distante: sua família e si mesmo. Ao dividir com o filho, Tom, seu processo de reconexão, ele afirma como o contato com a natureza é um caminho para nos tornarmos mais gentis. "Vejo que ele desenvolve um forte senso de quem ele é, uma incrível confiança, mas a coisa mais importante: gentileza. E eu acho que é isso que milhares de horas na natureza podem ensinar a uma criança", ele narra.

A jornada subaquática de Foster é de tirar o fôlego. A sensação é de que estamos mergulhando ao lado dele. Intercalando depoimentos e imagens de suas aventuras, o filme captura um relato sensível de amizade entre espécies diferentes. Mas "Professor Polvo" não é um documentário tradicional sobre a natureza. Apesar da abordagem ambientalista em seu discurso, a narrativa funciona como uma conversa filosófica sobre a vida.

Mais do que isso, "Professor Polvo" é um lembrete sobre a importância da conexão dos seres humanos com a natureza e uma reflexão sobre a nossa parte neste enorme sistema natural: "O que o polvo me ensinou foi sentir que você faz parte deste lugar. Você não é apenas um visitante. E esta é uma grande diferença."

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Floresta subaquática em cena do documentário 'Professor Polvo' (Netflix)
Imagem: Divulgação