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"Tio Frank" é um filme sobre aceitação que anseia pelo amor da família

Sophia Lillis e Paul Bettany em cena do filme "Tio Frank", da Amazon Prime - Reprodução
Sophia Lillis e Paul Bettany em cena do filme 'Tio Frank', da Amazon Prime Imagem: Reprodução

Mariana Tramontina

Colaboração para o Ecoa

25/12/2020 04h00

"Tio Frank" é, de certa forma, um filme de Natal. Mesmo em época de pandemia, em que encontros presenciais não são recomendáveis nas festas de final de ano, os laços familiares parecem sempre se fortalecer nesse período. E é surpreendentemente apropriado como esta produção da Amazon Prime pede ainda mais pelo amor da família em tempos de distanciamento necessário.

A história é narrada por Beth (Sophia Lillis), uma garota de uma cidadezinha no interior da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, que sempre admirou seu tio Frank (Paul Bettany). Ela o descreve como alguém que sempre quis ser: inteligente, engraçado e atencioso. É 1969, Beth tem 14 anos e nunca entendeu muito bem por que seu pai, o mesquinho Mike (Steve Zahn) e irmão mais novo de Frank, e o patriarca da família, seu avô Daddy Mac (Stephen Root), sempre o trataram com tanto descaso.

Beth também não entende por que o tio decidiu se mudar para tão longe, em Nova York, onde é professor universitário. Mas em uma das raras visitas à família, Frank, um homem amoroso em seus 40 anos, abre a porta do mundo para Beth, com uma frase que ela diz ter mudado sua vida: "Você tem que ser a pessoa que decidir ser, ou então será a pessoa que todos dizem que você é. Você tem que escolher".

Quatro anos se passam, Beth agora é estudante na universidade onde seu tio é professor de literatura. E em uma visita surpresa, ela descobre o segredo que ele, longe de casa, sempre escondeu da família: Frank é gay e tem um relacionamento de dez anos com Wally (Peter Macdissi), um imigrante da Arábia Saudita. Wally fica emocionado ao ser apresentado à Beth — ele sempre quis conhecer um membro da família de Frank, em parte porque sabe que nunca terá o apoio de sua própria família num país onde teria sido decapitado por causa de sua sexualidade.

Frank - Divulgação - Divulgação
Paul Bettany e Peter Macdissi em cena do filme "Tio Frank"
Imagem: Divulgação

É quando uma tragédia familiar leva Frank a um retorno forçado à sua cidade natal. Na companhia da sobrinha e de Wally, o filme se desenrola em um road movie em que os três passam a conhecer melhor um ao outro e a si mesmos. A viagem também faz com que Frank seja atormentado por flashbacks traumáticos de sua adolescência: o primeiro garoto por quem ele se apaixonou e que desencadeou conflitos domésticos e um sentimento dilacerante de culpa.

O filme foi escrito por Alan Ball, roteirista vencedor do Oscar por "Beleza Americana" e criador das elogiadas séries "Six Feet Under" e "True Blood". O elenco também é de gigantes: Stephen Root como o patriarca abusivo de uma grande família interiorana; Margo Martindale como a matriarca de bom coração; Lois Smith como uma tia devota; Steve Zahn como o filho favorito; Judy Greer como a cunhada compreensiva.

Grande parte do filme está nos efeitos da homofobia internalizada de seu protagonista e na consequência de esconder sua realidade até de si próprio. Frank e Wally são claramente um casal feliz e amoroso, mas à medida que as pressões sociais aparecem, Frank se afasta cada vez mais de seu parceiro, tentando escapar no alcoolismo e se recusando a aceitar ajuda e apoio, projetando uma reação de fuga baseada no medo. É ali que vemos como relações familiares em situações delicadas podem ser tanto um alicerce quanto danosas.

No bom e velho estilo de Hollywood, os conflitos acabam se desenrolando de maneira fácil demais e deixa a sensação de que todos os problemas foram resolvidos, especialmente ao ressaltar uma percepção de que avançamos como sociedade ao rever como era dolorosa a homofobia em uma outra era. Mas a verdade é que "Tio Frank" vem para nos lembrar que ainda há muito eco do passado no presente. A intolerância, o fanatismo e o ódio pelo outro seguem vivos nos dias de hoje.

O filme é um conto sobre aprender a ser verdadeiro consigo mesmo e aceitar quem você é, mesmo que outras pessoas ao seu redor ainda não tenham desenvolvido essa capacidade. Mas é também um produto necessário para aqueles que precisam entender o que é empatia, respeito e compaixão. E que o amor não deveria fazer mal a ninguém.

Frank 1 - Reprodução - Reprodução
Família reunida em cena do filme "Tio Frank"
Imagem: Reprodução