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Conversa de Portão #4: Autora de "Um Exu em Nova York" indica escritoras

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

11/10/2020 04h00

A obra impregnada de africanidades da escritora Cidinha da Silva tem muitas influências. Sua vivência, obviamente, é uma delas. Sua observação sobre como a negritude ocupa (ou não) os espaços das cidades brasileiras é outra. Mineira de Belo Horizonte, Cidinha vive hoje em São Paulo, mas já viveu em muitos lugares, que acrescentaram formas diferentes à sua escrita. "As africanidades nas ruas em Salvador", exemplifica ela (a partir de 14:37 do arquivo acima). "No mês de agosto, a forma como o povo de Obaluaê toma as ruas, como tomam banho de pipoca na ruas, recebendo dinheiro para o Olubajé... essa forma de os terreiros tomarem as ruas em Salvador me fez amadurecer uma coisa que é muito forte na minha escrita, que é o tema do direito a cidade".

Cidinha, 53, tem dezessete livros publicados, entre crônicas, contos e dramaturgias. É editora e fundadora da Kuanza Produções, e em 2019 recebeu o prêmio Clarice Lispector da Biblioteca Nacional pela obra "Um Exu em Nova York". Suas publicações já foram traduzidas para inglês, espanhol, italiano e alemão. Seus textos, cheios de africanidades e ancestralidades, já foram utilizados também em vestibulares de instituições como USP e Unicamp.

A escritora é também leitora ávida, especialmente de autoras negras. "Tenho perseguido muito as autoras africanas publicadas aqui no Brasil", conta ela (a partir de 16:51 do arquivo acima). "Me interessa muito o que elas escrevem, como selecionam o material literário - que muitas vezes é baseado em vivências - e como transformam isso em literatura.

A seguir, algumas de suas recomendações:

Paulina Chiziane (Moçambique) - "A primeira que me marcou muito foi a Paulina Chiziane, com o romance "Niketche: Uma História de Poligamia". Li antes de publicar o meu primeiro livro e disse para mim mesma: é isso aqui que eu quero escrever. É uma autora definitiva na minha vida", conta (a partir de 17:51 do arquivo acima).

Buchi Emecheta (Nigéria) - "O melhor livro dela, o mais maduro, é "Alegrias da Maternidade", afirma (a partir de 18:17 do arquivo acima).

Léonora Miano (Camarões) - "Tem dois livros dela publicados aqui no Brasil. "Contornos do dia que vem vindo" e "A estação das sombras". Esse segundo livro é maravilhoso, fala de uma memória que nós que estamos na diáspora não temos, que é aquela de quando nossos ancestrais foram arrancados das vilas, das aldeias onde moravam, para serem escravizados aqui", conta (a partir de 18:51 do arquivo acima).

Lesley Nneka Arimah (Nigéria) - "Ela tem um livro de contos publicado aqui chamado "O que acontece quando um homem cai do céu". Acho que o livro tem 12 contos, e em cada conto eu ficava com a sensação de que era uma escritora diferente, tanto são os recursos técnicos que ela detém pra escrever".

Edwidge Dandicat (Haiti) - "Li recentemente o 'Adeus, Haiti', que fala sobre a migração da família dela para os EUA. Mas aí a gente vai sabendo muita coisa do Haiti, que é uma realidade desconhecida para nós.