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Conversa de Portão #3: Racismo médico e genocídio, em NY ou aqui

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

04/10/2020 04h00

O impacto direto do racismo nos cuidados médicos, o genocídio do povo preto. As vivências dos negros de Nova York não são estrangeiras dos brasileiros das periferias. Sobre essas semelhanças, o terceiro episódio de Conversa de Portão conversa com Loira Limbal, cineasta dominicana que criada nos EUA, onde vive com sua família.

Todas as terças-feiras, o podcast produzido pelo coletivo Nós Mulheres da Periferia em parceria com o UOL Plural traz a opinião, análise ou história de mulheres sobre notícias que são importantes para mulheres da periferia

O racismo médico já havia sido vivenciado por sua mãe antes mesmo da pandemia, e é uma realidade. Além do acesso prejudicado - com médicos que, por exemplo, sequer receitam tratamento porque "pessoas como sua mãe" não mudam seu comportamento, os pacientes negros tendem a receber menos cuidado. "O que tem sido comprovado é que os médicos aqui, por conta do preconceito, acreditam que o preto pode sustentar mais dor. Então dá menos remédio, dá menos atenção", afirma Loira (a partir de 21:50 do arquivo acima). "Essas são as coisas que têm ficado muito claras nesse momento com respeito à saúde nos Estados Unidos".

Nos EUA, a faixa mais pobre da população tem direito a um acesso básico de saúde. Os demais, precisam pagar planos privados. "Mas tem muita gente que não qualifica para o público e também não tem 300 a 800 dólares mensais para pagar um privado. Muita muita gente. Então fica sem nada", diz (a partir de 20:06 do arquivo acima).

Nas periferias de lá, como aqui, a realidade é brutal. Depois dos protestos pela morte de George Floyd, Loira diz que algo foi descortinado para que não se desvie mais o olhar da crueza dos fatos. "Agora, toda coisa pública que eu faço, eu falo em genocídio. Toda vez. A gente já não tem mais como utilizar eufemismos", conta (a partir de 24:14 do arquivo acima). "Tem uma campanha de genocídio contra o nosso povo".

Durante os protestos, que aconteceram já na pandemia, um dos primeiros impactos vividos por ela foi como o medo afetou sua filha. "Ela falava pra mim assim: mamãe, o papai é trabalhador essencial. Papai tá saindo pra trabalhar. Papai é preto. Mamãe, papai parece o George Floyd. Mamãe, a polícia vai matar o papai?", conta (a partir de 24:50 do arquivo acima). "E a gente no meio de tudo".