Topo

Plural é um projeto colaborativo do UOL com coletivos independentes, de periferias e favelas para a produção de conteúdo original


Papo Preto #2: Dicas de economia para quem ganha bem pouco

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

20/09/2020 04h00

Para quem a escassez é norma, os tempos excepcionalmente difíceis batem mais forte. Falta emprego e falta renda. Como se organizar financeiramente num cotidiano onde quem tem sorte ganha só para pagar as contas? O segundo episódio do podcast Papo Preto aborda os temas de autonomia financeira e black money. E, além do debate sobre as causas dos obstáculos econômicos da população negra, os convidados Amanda Dias, consultora financeira e criadora do programa de emancipação financeira da população negra Grana Preta, e Paulo Bessoni, assessor de investimentos, dão dicas práticas para a autonomia financeira de quem ganha pouco - ou muito pouco.

Amanda acredita que o primeiro passo é um autodiagnóstico financeiros. Para ela, com exceção das pessoas que vivem em situação de miserabilidade, é possível e desejável que isso seja feito. Ela explica (a partir de 6:59 do arquivo acima) que é preciso primeiro entender a "estrutura macro que a gente não pode mudar com nossos hábitos, para depois entender quais são os hábitos podem interferir hoje". Ou seja, sim, há uma estrutura racista na construção do acesso à renda da população preta. Mas há, também, margem para ações individuais e comunitárias na luta global e na melhoria de vida de cada um.

Esse diagnóstico é formado por alguns passos. O primeiro, ela explica (a partir de 7:25 do arquivo acima), é calcular seu custo de vida, ou seja, o preço de seu sustento. "Ela vai listar todos os itens que são essenciais para sobrevivência dela e vai dar um preço unitário, quanto ela gasta por mês com cada um", diz. "Muitas famílias que não fazem cálculo do custo de vida muitas vezes nem para poder custear esses gastos básicos".

Feito o diagnóstico, começa um segundo momento, explicado (a partir de 8:38 do arquivo acima): É hora de "fazer uma análise para entender se o que você gasta realmente está relacionado ao seu custo de vida ou se você está tendo algum gasto extra ou gasto fantasma. Gasto fantasma é um gasto que você não tá conseguindo enxergar, e isso impede muita gente de poupar".

Um exemplo comum de gasto fantasma, Amanda explica, são as taxas bancárias. E a boa notícia é que elas podem ser totalmente evitadas. "O brasileiro paga de R$ 12 a 100 reais por mês só de tarifa bancária. Ou seja, paga para ter um serviço que muitas vezes nem usa por completo. Então, quando a gente consegue eliminar esse gasto fantasma da tarifa bancária, essa pessoa já vai ter cerca aí de R$ 30 por mês sobrando no orçamento dela", explica (a partir dos 8:59 do arquivo acima). Ela lembra que uma resolução de 2010 do Banco Central determina que todo banco tem que oferecer uma conta essencial gratuita. "E essa conta essencial já tem mais do que o necessário para a gente usar os serviços de um banco", diz (aos 9:55 do arquivo acima). Basta entrar em contato com sua instituição e solicitar que sua conta seja migrada para uma conta essencial.

Pode parecer pouco, mas com R$ 30 já é possível até mesmo investir no mercado financeiro. "O mercado financeiro parece algo muito distante, parece algo muito inacessível para todo mundo", diz o assessor de investimentos Paulo Bessoni (a partir de 28:04 do arquivo acima). "Mas com R$ 30 você já consegue investir, isso é a realidade dos investimentos mais básicos que temos disponíveis no Brasil, os mais conservadores. Mas com menos ainda você consegue entrar no mercado financeiro. Porque tem empresas que negociam ações a menos de R$ 1, para você ter uma noção".

Papo Preto vai ao ar sempre às quartas-feiras e é produzido pela Agência Alma Preta em parceria com o UOL Plural.