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Conversa de Portão #1: A importância das ONGs na periferia

19/09/2020 04h00

Como atuam ONGs e poder público em territórios periféricos? Para Luciana Bispo, coordenadora da associação Maria e Sininha, a resposta é: de maneiras bem diferentes. E uma melhor que a outra. "O que eu tenho percebido há muito mais de uma década é a importância das ONGs", diz (a partir de 6:08 no arquivo acima).

Luciana é a entrevistada do episódio de estreia do Conversa de Portão, podcast produzido pelo coletivo Nós Mulheres da Periferia em parceria com o UOL Plural. Novos episódios estarão disponíveis toda terça-feira, sempre trazendo a opinião, análise ou história de mulheres sobre notícias que são importantes para mulheres da periferia.

À frente de uma ONG que começou com sua mãe e há anos trabalha pela garantia de direitos da população do Morro do Macaco, entre São Paulo e Diadema, atualmente, como tantas associações, ela coordena um plano emergencial com cestas básicas durante o período de quarentena. No primeiro mês de pandemia, as doações eram fartas, mas, aos poucos, foram minguando. Os esforços para manter uma arrecadação que atendesse à demanda mínima ressaltou, para ela, a ausência do poder público.

"Reaprendi o quanto a gente precisa dialogar com poder público para pensar uma política efetiva que atenda a essas pessoas. Quem faz política para a periferia são as ONGs", diz (a partir de 8:50 no arquivo acima). Além disso, em sua experiência, quando as ONGs conseguem acessar os espaços que pensam políticas públicas, em geral não são acolhidas, porque isso demandaria um trabalho de cuidado. "Eu, pelo menos, não percebo esse cuidado, entendeu?", diz (a partir de 9:13 no arquivo acima). Ela conta que as mães atendidas alertaram que as cestas distribuídas pelo município vinham com quantidade insuficiente. "Quem contou para eles (município) que não dava, fomos nós. Quem contou que essas famílias têm um número elevado, em média quatro pessoas, fomos nós".

Para Luciana, as ONGs têm um olhar mais próximo, que falta ao poder público. E, por conta disso, tem também dados da realidade que Estado e município não têm. "O Estado não sabe quantas pessoas moram no Morro do Macaco, o perfil dessas pessoas, nós sabemos entendeu. Para o Estado, é muito fácil dizer: remove. Para a gente não, porque a gente sabe das dores, dos afetos, da relação que essas pessoas têm. A verdade é que a gente faz a garantia de direito", argumenta (a partir de 6:22 no arquivo acima).