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Evento com pesquisadoras busca despertar interesse de meninas pela ciência

Edição do ano passado do evento Ciência por Elas  - Eduardo Vidal/ CTC-USP/ Divulgação
Edição do ano passado do evento Ciência por Elas Imagem: Eduardo Vidal/ CTC-USP/ Divulgação

Lígia Nogueira

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

18/09/2020 12h00

Embora 74% das meninas tenham interesse em ciência, tecnologia e matemática, apenas 35% das alunas de ensino médio se inscrevem para cursos científicos de graduação nas universidades e somente 28% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres. Os dados são da ONU Mulheres e da Unesco, que calculam que, se 600 milhões de meninas e mulheres tivessem acesso às áreas de ciência, tecnologia e inovação, 144 países em desenvolvimento aumentariam o PIB em US$ 8 trilhões.

Com o intuito de mudar o cenário atual, a terceira edição do evento gratuito Ciência por Elas, que neste ano é online e acontece por meio do canal do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) no YouTube, está oferecendo palestras com pesquisadoras de todo o Brasil voltadas a alunas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. As atividades são realizadas aos sábados (19 e 26 de setembro) e as inscrições podem feitas por meio de um formulário.

"A ideia é inspirar meninas que estão definindo a profissão que vão seguir", diz Janaina Freitas Calado, professora adjunta do Colegiado de Ciências Naturais da Universidade do Estado do Amapá, mestra em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ela está entre as professoras, pesquisadoras e alunas de universidades que vão apresentar as pesquisas que desenvolvem e interagir com as estudantes para explicar como é a profissão.

Leia a seguir trechos da entrevista com a pesquisadora, que apresenta a palestra "Da Floresta ao Mar: Conversas sobre os recifes da Amazônia com os povos da floresta" no dia 26 às 15h30.

Qual é a importância de falar sobre ciências para meninas?
Janaina - A principal importância do evento é o fortalecimento e a afirmação de que nós mulheres podemos estar em qualquer lugar. E o Ciência por Elas faz com que meninas que são futuras mulheres, se atentem e queiram seguir uma carreira científica. A questão de querer ser cientista é interessante. Porque toda criança é um potencial cientista, independente do gênero, as crianças de maneira geral são extremamente questionadoras e curiosas e essas são as maiores habilidades que o cientista pode ter.

O Ciência por Elas traz exemplos positivos de mulheres que estão na ciência e que podem de alguma forma mostrar possibilidades para essas jovens mulheres, que por vezes não enxergam representatividade nos seus espaços. Nos livros didáticos o que elas veem são referências masculinas, ao passo que na vida familiar muitas vezes as referências são femininas.

Já viram nossa programação? As inscrições já estão disponíveis!! Link na bio

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Você acha que mais mulheres estão se destacando nas ciências no Brasil hoje em dia?
Janaina - Hoje mais mulheres estão se destacando, principalmente pela luta feminista por igualdade de gêneros. As mulheres sempre estiveram presentes em toda a história da civilização. A diferença é que nós nunca tivemos espaço para expor o nosso pensamento e dialogar com a sociedade por causa das barreiras impostas pelo patriarcado.

Como é o cenário em Macapá hoje?
Janaina - Nós, mulheres, estamos conseguindo ocupar espaços, mas ainda há dificuldades. Na universidade onde atuo há homens e mulheres trabalhando em igual quantidade. Hoje nós temos uma reitora eleita e a área onde eu trabalho tem predominância de mulheres, cientistas que estão publicando e fazendo ciência. Mas a minha realidade representa uma parcela muito pequena ainda.

Como você vê a área da ciência no Brasil hoje?
Janaina - Consigo perceber que estamos tendo um avanço. Nós temos dados que mostram que a maior parte dos trabalhos publicados hoje no Brasil é de mulheres. Temos inclusive exemplos de iniciativas discutindo a maternidade, a paternidade, a questão dos filhos na vida dos cientistas, algo que até então havia sido negligenciado. Isso acontecia porque a maioria dos cientistas eram homens. E na maior parte dos casos as mulheres ficavam em casa cuidando de seus filhos. As mulheres cientistas eram engolidas pelo sistema da maternidade. A gente já consegue enxergar hoje mulheres, mães, que estão trabalhando e desenvolvendo sua produção científica e reivindicando seus direitos. Temos editais como o do Instituto Serrapilheira, uma instituição que vem apoiando a ciência no Brasil, que já consegue destacar e apoiar a maternidade no rol de critérios para selecionar os pesquisadores.

As mulheres cientistas eram engolidas pelo sistema da maternidade

Como será a conversa sobre os recifes da Amazônia no Ciência por Elas?
Janaina - Vai ser uma conversa instigante. Eu vou tentar de modo geral traçar um panorama do que são os recifes, porque tem muita gente que não sabe o que são ambientes recifais, e explicar um pouco da importância deles para a nossa vida. Vamos falar também sobre a importância econômica e ecológica desses ecossistemas e mostrar as singularidades dos recifes da Amazônia, que são recifes que só passaram a ser discutidos em 2016, há muito pouco tempo. Nós já temos evidências científicas suficientes para mostrar que eles estão ativos, vivos, e estão crescendo. Cada vez mais tem publicações que mostram o quanto eles são ricos e diversos. É preciso entender mais a fundo a relação desses recifes na foz do Rio Amazonas com o próprio rio e as comunidades ribeirinhas, especialmente no Amapá, Pará e Maranhão.

Veja a programação completa do evento no perfil do Ciência por Elas.