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Campanha gera renda e leva alimentos para indígenas no litoral de SP

Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul paulista - Vivência na Aldeia
Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul paulista Imagem: Vivência na Aldeia

Eduardo Ribeiro

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

22/07/2020 04h00

No litoral sul paulista, no município de Peruíbe, quase na divisa com Itanhaém começa a Terra Indígena Piaçaguera. São quatro quilômetros de largura e 17 de comprimento, onde vivem hoje 11 aldeias. É ali que, desde 2012, o projeto Vivência na Aldeia colabora com famílias indígenas na reconstrução de seus aldeamentos, fazendo um trabalho de geração de renda e apoio de infraestrutura.

"Acabamos vindo morar no litoral (o grupo vivia antes na capital) e aqui nos envolvemos com os indígenas. Fomos chamados por uma comunidade em Peruíbe que tinha acabado de retomar um espaço na Terra Indígena (TI) Piaçaguera e estava precisando de ajuda para construir casas de barro, tradicionais, como faziam antes", conta Andreza Poitena, uma das idealizadoras da iniciativa.

Era o início de um processo de somatória de esforços. "Começamos a viabilizar coisas que vão desde conseguir instalar uma luz, levar água que não seja insalubre, até construir uma escola indígena, uma cozinha comunitária", detalha Poitena. "Hoje, moramos num sítio em Peruíbe, no meio da Mata Atlântica, que é um laboratório de experiências. Nele, organizamos eventos, debates, oficinas, palestras. Aprendemos na prática as coisas que queremos construir para o mundo."

Em tempos de pandemia, as ações na aldeia foram duramente afetadas. Pensando em caminhos para a manter a mente ativa e comida na mesa, o grupo criou alguns caminhos.

Vivência na Aldeia Tabaçu Reko Ypy, em Peruíbe (SP) - Vivência na Aldeia - Vivência na Aldeia
As vivências em todas as aldeias da TI Piaçaguera estão canceladas com a pandemia
Imagem: Vivência na Aldeia

Retomada de território

O Vivência na Aldeia é um desdobramento de uma ideia geminada em São Paulo. "Tínhamos o coletivo Cultive Resistência, que surgiu para praticar a permacultura. Queríamos conquistar a nossa própria autonomia, construir um local sustentável onde pudéssemos viver do nosso alimento, com saneamento ecológico", conta Poitena.

Logo que chegou ao litoral, imbuído do espírito metropolitano de muita atividade, o grupo saiu organizando shows em praças públicas e intervenções urbanas. Em uma dessas ocasiões, realizou um dia de experimentos com permacultura em uma praça. "Quebramos o concreto, colocamos mudas de árvores da Mata Atlântica. Foi nesse momento que os indígenas descobriram que tinha um pessoal que trabalhava com permacultura na cidade", conta Josimas Ramos, também parte do coletivo.

Esses indígenas eram famílias que estavam retornando a uma das TIs mais antigas de que se tem documentação, datada de 1534. "Eles foram expulsos diversas vezes de lá", lamenta. "E sempre voltaram. A gente foi então conhecer a área, e criamos juntos essa comunidade."

Aldeia Tabaçu, em Peruíbe (SP) - Vivência na Aldeia - Vivência na Aldeia
Aldeia Tabaçu Reko Ypy, onde iniciou o projeto Vivência na Aldeia
Imagem: Vivência na Aldeia

A comunidade da qual Ramos fala é a Aldeia Tabaçu Reko Ypy. Em 2013, a Tabaçu ainda não existia. As famílias de lá estavam assentadas em outra aldeia devido a ações das mineradoras.

As atividades de mineração deixaram a área muito danificada, contam. Somente agora é que a floresta está começando a se regenerar. Por isso, a subsistência dos indígenas que vivem ali ficou atrelada ao feitio de artesanatos e colheita de plantas para venda em feiras livres, além da busca por empregos na região.

Morador da TI Piaçaguera, em Peruíbe (SP) - Vivência na Aldeia - Vivência na Aldeia
Morador da TI Piaçaguera, em Peruíbe (SP)
Imagem: Vivência na Aldeia

"Mas tem a questão do preconceito", observa Josimas.

É uma região visada por empresas, imobiliárias, e como os indígenas lutaram para que isso não acontecesse, a população [não-indígena] ficou muito brava, por acreditar que esses empreendimentos trariam empregos. Então eles tentavam arrumar trabalho, os mais braçais que fossem, e muitas vezes não conseguiam. Sentimos que, a partir do momento em que eles começaram a organizar essas vivências, conseguiram se valorizar também, além de melhorar o seu sustento

Josimas Ramos, organizador do Vivência na Aldeia

Mandioca na cesta básica

Com a chegada da pandemia do novo coronavírus e a consequente necessidade de isolamento social, porém, o trabalho foi sensivelmente impactado. "Imagina que as aldeias viviam desse intercâmbio de base comunitária, da venda de artesanato e palmito em feiras livres, e agora tudo foi paralisado. As vivências nas aldeias, que recebem pessoas de fora, não podem ocorrer; trabalho fora da aldeia, também não, porque senão a pessoa coloca a si e à comunidade em risco", relata Poitena. Uma das fontes de renda descontinuadas, por exemplo, foi o ciclo de atividades Abril Indígena, em parceria com as unidades locais do Sesc.

Entrega de alimentos em Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul paulista - Vivência na Aldeia - Vivência na Aldeia
Entrega de alimentos em Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul paulista
Imagem: Vivência na Aldeia

Foi então que o projeto lançou algumas frentes para arrecadar dinheiro, garantir alimentação e prevenção nas aldeias neste momento crítico. Uma delas foi a criação de uma loja online para a venda de artesanatos. O grupo se propõe a cuidar de todo o trâmite de divulgação, venda, empacotamento e postagem nos correios. "Com o valor das vendas desses artesanatos, entramos em contato com as lideranças para ver o que precisam, compramos e levamos até a entrada da aldeia", diz Ramos.

Outra frente é a campanha Alimentação e Vida na Aldeia, que consiste na confecção de informativos sobre prevenção da Covid-19 e arrecadação de cestas básicas. "Na primeira entrega (que atendeu 110 famílias), tivemos um acesso mais próximo a todas as lideranças das aldeias e pudemos entender a urgência de fortalecer esse apoio. Vimos pessoas passando muita necessidade", contam os organizadores.

As cestas básicas oferecidas combinam alimentos básicos e tipicamente brasileiros, como arroz, feijão, café, óleo, açúcar e sal, a ingredientes tradicionais da cultura indígena, a exemplo da mandioca, batata-doce, milho e banana. Entram também produtos de higiene, como álcool gel, detergente e sabão em barra. Os itens tradicionais são, por sua vez, adquiridos de produtores locais de Peruíbe, que também foram afetados com a pandemia, uma vez que muitos restaurantes da região fecharam as portas.

Alimentos para doação em Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul paulista - Vivência na Aldeia - Vivência na Aldeia
Batata-doce para doação na Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul paulista
Imagem: Vivência na Aldeia

"A felicidade de uma senhora quando viu que tinha mandioca e milho na cesta... Ela falava somente disso! Outra mulher mandou uma foto do milho na fogueira", conta Poitena. "Mas isso também trouxe um sentimento para a gente de não ter conseguido atender mais famílias. Já vimos pessoas de outras aldeias que não têm suporte tentando vender artesanato na feira, o que é triste e preocupante", relata.

Além da Terra Indígena Piaçaguera, onde ficam as aldeias com as quais o coletivo nutre relacionamento, existem ainda as Terras Indígenas de Bananal, onde há mais uma aldeia, e Itanhaém, onde há outras três. "A nossa ideia é conseguir repetir a ação. Enchemos dois carros, uma van e uma caminhonete. Só de alimento foram mais de três toneladas que carregamos sozinhos. Foi engraçado, porque eu não aguento um saco de cimento de 50 quilos, mas um saco de arroz, que pesa a mesma coisa, eu nem senti. É a motivação!", acredita Ramos.

Josimas Ramos e o menino Victor na Aldeia Tabaçu Reko Ypy, em Peruíbe (SP) - Vivência na Aldeia - Vivência na Aldeia
Josimas Ramos e o menino Victor na Aldeia Tabaçu Reko Ypy, em Peruíbe (SP)
Imagem: Vivência na Aldeia

Como ajudar?

Para apoiar as ações do Vivência na Aldeia na Terra Indígena Piaçaguera, em Peruíbe (SP), você pode colaborar com qualquer valor pelo site do projeto: http://vivencianaaldeia.org/apoie/

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