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"Ajude-me a sair da falência": foto viraliza e salva loja de 50 anos

Sr. Nelson entre Roberto e Valdir, funcionários do Jardins Modelo Imagem: André Ribeiro

Natasha Bin

Colaboração para Ecoa, de Miami (EUA)

23/06/2020 04h00

Um esforço coletivo salvou a "firma" do Sr. Nelson da falência. Há mais de 50 anos vendendo insumos e acessórios para jardinagem, a loja localizada no bairro do Brooklin, em São Paulo, ficou quase 80 dias fechada devido à pandemia do novo coronavírus.

Diante da falta de movimento na reabertura comercial, o proprietário, Nelson Simeão, de 83 anos, resolveu colocar uma plaquinha - sincera e singela - com os dizeres: "ajude-me a sair da falência. Firma c/ 50 anos de vida". Em poucos dias, uma cliente viu, publicou em suas redes sociais e o post viralizou.

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Sensibilizado com a postagem, que trazia a foto do comerciante com a placa, o cartão de visitas do estabelecimento e o pedido para que as pessoas visitassem ou divulgassem a loja, o administrador de empresas Daniel Cleffi, morador da região, resolveu ir até a Jardins Modelo conhecer a história do Sr. Nelson. A visita, que aconteceu na manhã de quarta-feira (17), resultou em um vídeo de 30 segundos que deu ainda mais força à postagem inicial.

"Eu fiquei bastante tocado com a situação. Achei que o vídeo poderia trazer uma veracidade maior e tocar as pessoas". Em dois dias, o vídeo postado no Facebook e replicado por mais dois amigos acumulou mais de 50 mil visualizações. O conteúdo também foi parar em perfis do Instagram e em grupos de WhatsApp. "Foi uma soma do movimento de algumas pessoas e suas redes sociais que acabou virando esse fenômeno. Foi uma surpresa! Dá uma felicidade muito grande ter de alguma forma contribuído para essa história".

Outra forcinha veio da Itália. Cerca de oito horas depois do vídeo publicado por Daniel, a estilista Luiza Rea recebeu o conteúdo por WhatsApp encaminhado pelo seu pai, que mora no Brooklin. "Eu me lembrei do Sr. Nelson, pois ia lá antes de vir morar na Itália. Eu costumava comprar temperinhos no vaso e sempre adorei a loja e ele, que conhece absolutamente tudo sobre plantas! Quando vi o vídeo e as fotos, me apertou muito o coração". Não podendo ir até o local, Luiza decidiu compartilhar o post no grupo Dicas do Bairro Campo Belo, no Facebook. "Pensei que seria uma ótima ideia por ser perto e teve uma repercussão absurda. Fiquei muito feliz de verdade".

Raiz digital

Ainda na quarta-feira, a empresária Luciana Medeiros viu o post, entrou em contato com o Sr. Nelson e criou um perfil no Instagram para a loja, que até então não tinha presença nas redes sociais. "Ele estava meio atordoado, pois a história já tinha começado a viralizar. Ele me disse que estava muito feliz com tudo que estava acontecendo", conta.

A empresária combinou de ir à loja no dia seguinte para o conhecer pessoalmente e explicar como funciona a rede social. "Eu cheguei 8h30 da manhã e fiquei lá até quase sete da noite trabalhando na loja. Todo mundo estava lá: os netos chegaram, os filhos, e todo mundo fazia tudo". Especialista em marketing, ela vai ajudar na administração da rede. Em apenas dois dias de existência, o perfil já contabilizava mais de 60 mil seguidores.

Fila na entrada da loja Jardins Modelo, no sábado, 20 de junho Imagem: Felipe Margarido/Divulgação

Cultivando o negócio

Não foi só a rede social que vingou. Em menos de 24 horas depois da gravação do vídeo, a loja teve o número de clientes e vendas multiplicado. "Voltei na quinta-feira de manhã para avisar o Sr. Nelson para ele se preparar para o aumento do movimento e para levar alguns potes de álcool gel, mas quando cheguei lá já tinha fila na porta", lembra Daniel, autor do vídeo que impulsionou a virada do negócio.

Ao fazer a plaquinha na segunda passada, Sr. Nelson não imaginava o movimento que apenas três dias de redes sociais giraria. "Eu tive a ideia de fazer. Não foi a intenção de ter essa repercussão toda. Foi só para sensibilizar os meus clientes".

E ele comemora repercussão. "Eu estou trabalhando de uma maneira como nunca trabalhei. Eu nem tenho estrutura para atender tanta gente. Eu estou encantado e agradecido a todas as pessoas que contribuíram". Com o lucro dos últimos dias, ele diz que será possível pagar as dívidas e investir em mais produtos para a loja, que mantém dois funcionários de longa data.

Além do movimento agitado, o comerciante está aprendendo a lidar com outra novidade: a fama. "Eu devo ter tirado umas 80 fotos com os fregueses. Eu não lembro de ter tirado tanta foto na minha vida. Foram três dias de uma felicidade imensa".

O bairro dos Nelsons

A loja de produtos para jardinagem Jardins Modelo fica na Avenida Portugal, n°40, no Brooklin, em São Paulo. Na mesma avenida, na esquina com a Rua Indiana, fica outro Nelson, o da banca de jornais e revistas, que também diz que não quer falir.

E desde quinta-feira, 18 de junho, o desejo do jornaleiro Nelson Damasceno, 80 anos, vem sendo atendido: efeito da publicação feita pela vizinha da banca, Ana Kemp, que administra os perfis Brooklin Indica no Facebook e no Instagram. Segundo Damasceno, que herdou a banca do pai e trabalha no negócio desde 1952, o movimentou aumentou 200%. "A internet movimenta tudo. A gente não dá nem conta", disse ele, que fez questão de ressaltar que é do tempo em que tudo era gráfico.

O jornaleiro está contando com a ajuda dos vizinhos para reerguer a banca. "Como ele não tem como comprar produtos novos, ele está recebendo doação de livros para vender. Está todo mundo ajudando. O taxista até emprestou a maquininha de cartão", conta Ana, que criou o perfil Banca Damasceno Brooklin no Instagram para ajudar a alavancar o negócio.

O próximo passo é ajudar ainda outro Nelson, o chaveiro de 62 anos e que há 40 atende na Av. Padre Antônio José dos Santos, 1547. A empresária Luciana Medeiros já tem planos para ajudar os três Nelsons do Brooklin. "Dentro do projeto Conecte Vidas, vamos criar o Conecte Vidas dos Nelsons do Brooklin. A gente vai fazer como se fosse uma vaquinha e com as doações, comprar os produtos deles e doar para instituições". Em comum, além do nome, os três comerciantes não aceitam doação em dinheiro. "Eles querem vender e ser úteis", conclui Ana Kemp.

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