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Desmatamento na Amazônia aumenta 34% em maio, diz Inpe

Terreno desmatado e queimado é visto na floresta Amazônica nos arredores de Porto Velho (setembro/2019); de agosto de 2019 a 28 de maio de 2020, alertas apontaram para uma área desmatada de 6.064 km² - Bruno Rocha /Fotoarena/Folhapress
Terreno desmatado e queimado é visto na floresta Amazônica nos arredores de Porto Velho (setembro/2019); de agosto de 2019 a 28 de maio de 2020, alertas apontaram para uma área desmatada de 6.064 km² Imagem: Bruno Rocha /Fotoarena/Folhapress

De Ecoa, em São Paulo

05/06/2020 14h24

Um balanço divulgado nesta sexta (5) pelo sistema Deter, do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais), mostra que o desmatamento na Amazônia vem crescendo em ritmo alarmante.

Em relação ao mês anterior, houve aumento de 34% dos alertas de corte raso em maio, em comparação com abril. Já do período de agosto de 2019 a 28 de maio de 2020, alertas apontaram para uma área desmatada de 6.064 km². Este é o maior índice dos últimos anos — e 78% maior do que o registrado neste mesmo período entre 2018 e 2019.

"Estamos, infelizmente, caminhando para mais um ano recorde em desmatamento. Não há mais espaço para passar a boiada. Ao contrário do que o ministro Ricardo Salles declarou durante a reunião ministerial com presidente, não só a imprensa mas o mundo está de olho no que ocorre na Amazônia", diz em nota Rômulo Batista, pesquisador que coordena a campanha de Amazônia do Greenpeace.

O vice-presidente da República Hamilton Mourão fez mea culpa e admitiu nesta quinta (4), em entrevista para jornalistas, que o desmatamento e as queimadas seguem aumentando no território brasileiro.

Na última quarta-feira (3), o Parlamento da Holanda aprovou pela primeira vez uma moção contra o acordo comercial negociado entre o Mercosul e a União Europa. Um dos motivos é de que poderia causar uma concorrência injusta entre os produtores agropecuários dos dois países. No Brasil, por exemplo, a produção não segue as normas de respeito ao meio ambiente.

Sem apresentar medidas efetivas para conter o avanço do desmatamento e sem um plano de ação para atender a população mais vulnerável na Amazônia, o governo segue, de acordo com o representante do Greenpeace, deixando claro o seu total descaso com as florestas e a vida dos brasileiros em um cenário de pandemia.

"Estamos chegando ao período mais seco na Amazônia, neste período as queimadas costumam ser recorrentes na região, conforme vimos ano passado", diz Batista.

Para o especialista, isso significa que mais pessoas da região precisarão de atendimento médico devido a problemas respiratórios causados por fumaça e cinzas. "Isso por si só já é um enorme problema ao qual seguimos lutando contra. No entanto este ano, com a crise do sistema de saúde, os danos das queimadas na Amazônia podem ser fatais, pois tende a sobrecarregar um sistema de saúde já bastante sobrecarregado, devido a covid-19."

Além desses fatores, o Brasil segue na contramão do mundo aumentando emissões com o desmatamento. O planeta vai reduzir em 2020 a emissão de gases do efeito estufa em 6% por conta da freada econômica durante a pandemia atual. Já o Brasil deve aumentar esse número que é um dos índices causadores do aquecimento global que ameaça a vida na Terra.

"O Brasil tem um perfil diferente dos outros países, e suas emissões estão mais ligadas ao uso da terra. Com recordes de desmatamento, o país deve aumentar de 10% a 20% das emissões. A diminuição da atividade na indústria, no transporte e na geração de energia por conta do isolamento social atual acaba sendo pequena por aqui, comparada com a questão ecológica", disse o engenheiro florestal Tasso de Azevedo, que coordenou o levantamento feito pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil, iniciativa do Observatório do Clima que calcula anualmente as emissões e remoções desses gases de todos os setores da economia brasileira.