Topo

"Retomada verde" no Brasil depende de soberania pública e exemplo privado

Carina Martins

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

22/05/2020 17h47

O Brasil tem, potencialmente, vantagens mundiais importantes que podem alavancar seu desempenho numa retomada econômica sustentável crise econômica pós-coronavírus. O otimismo, ao menos como hipótese, foi consenso entre os participantes do seminário "Saída verde e inclusiva para crise econômica do coronavírus", realizado nesta sexta (22) pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas), em parceria com Ecoa. Essas vantagens, no entanto, dependeriam de alguns fatores para serem plenamente acionadas: entre eles, a cooperação, a soberania nacional, e a participação efetiva da sociedade civil, especialmente do empresariado.

"O futuro é bom", acredita Andre Clark, CEO da Siemens Energy Brasil. Para ele, se olharmos "o filme em vez da foto", o Brasil já vem realizando conquistas importantes que permitem que se discuta no país ações baseadas no Green Deal europeu e em elementos do acordo de UE e Mercosul. "O negócio verde no Brasil é um enorme negócio. É 'o' negócio", diz.

A adesão das empresas é uma das condições fundamentais do sucesso da estratégia, na visão de Ignacio Ybáñez, embaixador da União Européia no Brasil. "Nos países onde cremos na economia de mercado, os governos não devem fazer isso sozinhos", afirma. Nesse sentido, ele cita a importância do Pacto Global, ação da ONU que tornou-se justamente a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo ao fazer esse chamamento às empresas de 180 países.

Mas, além de adequar suas próprias práticas — o que pode ser bem mais fácil para poucas e grandes empresas, e menos realista para o tecido maior do setor — o que esses CEOs podem fazer?

Dar o exemplo e levar a palavra, acredita Cristina Palmaka, CEO da SAP. Parte desse negócio passa pelo que ela chama de "capitalismo de stakeholders", ou seja, onde os ganhos precisam levar em conta os envolvidos em sua rede. "As empresas precisam viver o propósito", diz. "Se eu tenho um fornecedor que não está alinhado com meus valores, ele não será mais meu fornecedor. E isso manda um recado para toda a cadeia." Outra ação importante, segundo ela, é mostrar que fazer direito e ganhar dinheiro não são excludentes.

"Isso é um bom negócio para as empresas. Se fazem boas escolhas, ganham dinheiro", concorda o embaixador Ybáñez. "O Brasil tem que aproveitar suas muitíssimas vantagens. Contar com o setor privado na mesma agenda será muito positivo".

Mudança não virá repentinamente

O embaixador, como os CEOs do painel, se diz "bem otimista sobre o futuro", mas destaca que ele não vai simplesmente chegar. "Temos que construir entre todos nós, juntos. O futuro não vai chegar sozinho". Para ele, a cooperação é fundamental. Quando surge uma crise de desmatamento na Amazônia, por exemplo, ele defende — e relata — que a UE discuta ações com as autoridades brasileiras. "Mas isso em uma relação de cooperação, não é a UE que chega e estabelece os objetivos que o Brasil deve cumprir", explica. "Se temos um acordo, precisamos falar o que é aceitável."

E é justamente na cooperação que está mais uma das vantagens destacadas pelo CEO da Siemens do Brasil. Andre acredita que em um mundo polarizado, com o momento histórico acelerado pela pandemia, o Brasil se encontra em uma posição positiva e rara: "O Brasil recebe bem e em pé de igualdade constitucional americanos, europeus e chineses, e continuará fazendo isso", acredita. "O Brasil é uma terra de união. Essa é uma ideia muito importante e muito poderosa. Num país que floresce com a união, o que as nações esperam do Brasil é soberania, que o país saiba para onde quer ir."