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Diagnóstico de pé torto da filha inspira professor a criar órteses em 3D

Órtese criada com impressora 3D  - Divulgação
Órtese criada com impressora 3D Imagem: Divulgação

Vanessa Fajardo

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

23/04/2020 04h00

Inspirado no diagnóstico de pé torto congênito da filha, o professor do curso de engenharia mecânica Sergio Fernando Lajarin, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), desenvolveu órteses ortopédicas na impressora 3D.

O aparelho que comercialmente é encontrado por cerca de R$ 500, fabricado no laboratório de impressão 3D da instituição, com sede em Curitiba, sai a R$ 30 cada. Além de produzir para sua filha, desde 2018 Lajarin fez cerca de 40 órteses que foram doadas para o Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, que as repassa às crianças cujas famílias não podem comprar.

A ortopedista pediátrica Ana Laura Munhoz da Cunha explica que o pé torto congênito é uma doença comum, mas passível de tratamento. "Atinge uma a cada mil crianças. Em alguns casos é possível ter um diagnóstico intra-útero, e com o tratamento elas ficam bem."

Uma criança com esse problema precisa ter os pés engessados nos primeiros dias de vida. Ao longo dos meses, os gessos são trocados de cinco a oito vezes, até o tratamento ter continuidade com as órteses.

"Elas precisam ser usadas por 24h nos primeiros três meses, depois a criança coloca só para dormir até os 4 anos. O aparelho criado na impressora 3D é uma alternativa para os pacientes que não têm situação econômica favorável, mas ela não é ideal porque possui algumas limitações, como não permitir a rotação", explica Ana Laura.

Os aparelhos são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), porém, pode demorar meses até chegar, o que prejudica o tratamento. Por isso, muitas famílias precisam arcar com o custo.

Na UFPR, Lajarin desenvolveu os protótipos das órteses amparado por um médico até chegar a uma versão aprovada. Como ele conta com ajuda dos alunos da instituição, consegue confeccionar os equipamentos sem custo de mão de obra.

Comecei a fabricar e doar para outras crianças. Como minha filha [Isabela, 2 anos] fez o tratamento todo em um hospital público, sabia que lá mesmo havia famílias que precisariam do equipamento. Ela mesma até hoje só usou as órteses que a gente produziu, não teve nenhuma comercial

Sergio Fernando Lajarin, professor de engenharia da UFPR

O desafio agora é tentar criar uma órtese que seria o passo seguinte ao tratamento, quando a criança passa de pouco mais de 1 ano. "O modelo que fazemos é genérico, são dois tamanhos para bebês em torno dos 4 meses, e outro maior, para cerca de 7 meses. Depois de 1 ano, a órtese precisa ser personalizada para cada formato de pé, o que é um pouco mais complicado, mas estamos desenvolvendo esse processo."

Tomografia em 3D

Depois das órteses, Lajarin quer desenvolver outros produtos que possam ser utilizados nos hospitais e otimizem os tratamentos médicos. Um deles são os modelos cirúrgicos, impressos em 3D, em tamanho real, que simulam, por exemplo, a coluna de uma criança, baseada em imagens geradas por tomografias.

"Com esses modelos anatômicos, a equipe médica pode planejar as cirurgias, em vez de tomar decisões a partir de tomografias e imagens 2D. Fiz para minha filha e ajudou os médicos a decidirem que não era o momento de fazer uma cirurgia. Já fizemos quatro modelos para quatro crianças, o material tem custo baixo, mas leva tempo para montar", explica Lajarin.

Isabela, de 2 anos, possui um problema na coluna e atualmente está usando um colete de gesso para correção. O pai também deve desenvolver a peça em plástico, na impressora 3D por meio do mesmo processo. "O médico mesmo sugeriu, quero tentar substituir o gesso. Daria para fazer algo todo vazado para ventilar. Minha filha acaba sendo meu laboratório."

O professor explica que o colete poderia ser impresso de forma plana, como se fosse uma folha de papel, depois é colocado sob água quente e se torna maleável para ser moldado. "Quando o material volta na temperatura ambiente, fica na posição que foi deixado. Ele é fácil de trabalhar porque toma o formato do corpo. A impressora 3D permite a fabricação de qualquer forma geométrica por mais complexa que seja."