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"Não há volta à normalidade, então temos de mudar paradigmas", diz filósofa

A matemática e filósofa Tatiana Roque, professora da UFRJ - Cortesia WWF
A matemática e filósofa Tatiana Roque, professora da UFRJ Imagem: Cortesia WWF

De Ecoa, em São Paulo

28/03/2020 21h22

"Acho que não temos volta ao normal. Então tratar de mudanças climáticas, tratar de renda mínima, isso é urgente. O momento é de convergência de agendas urgentes". A fala foi feita pela filósofa e matemática Tatiana Roque, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em um dos debates que ocorreram neste sábado (28) no festival Hora do Planeta, da organização WWF-Brasil (World Wild Fund for Nature).

O evento sobre consciência ambiental que começou em 2007 na Austrália, e que tem no apagar das luzes sua ação mais conhecida, realizou hoje uma série de atividades e conversas. A programação, transmitida pelo UOL, foi totalmente remota, em concordância com as medidas de isolamento social recomendadas pela OMS para o enfrentamento ao coronavírus.

Diante da conjuntura global da Covid-19, a tônica das conversas foi a de que é preciso entender como problemas diversos estão relacionados, e como suas soluções dependem desta compreensão. Entre os temas abordados estiveram preservação dos oceanos, regulação fundiária e grilagem, notícias falsas, impactos das mudanças climáticas nas minorias sociais, renda mínima emergencial e hábitos de consumo.

A mesa sobre notícias falsas destacou a importância do jornalismo como mediador da realidade, bem como de uma educação acerca do que é veiculado pela imprensa: entender o que é uma notícia, como ela é apurada, entender o que é uma reportagem ou um artigo opinativo, por exemplo, fazem a diferença na hora de filtrar o conteúdo recebido no WhatsApp. O papo teve participação da editora de Ecoa Fernanda Schimidt, da líder de digital e imprensa do WWF-Brasil Karina Yamamoto, e do fundador curso online contra fake news Vaza, Falsiane e colunista de Ecoa Rodrigo Ratier.

Na conversa sobre os impactos das mudanças climáticas em minorias sociais, a repórter de Ecoa Paula Rodrigues falou sobre a importância de escutar as demandas de populações que são por vezes maioria numérica no país, como pessoas negras e pobres, relacionadas ao meio ambiente. Com participação da especialista em mudanças climáticas do WWF-Brasil Renata Camargo e da editora de Ecoa Adriana Terra, a mesa destacou como populações mais vulneráveis sentem antes a crise do clima, e como muitas vezes já estão se organizando no enfrentamento a elas, bem como criando soluções a partir de suas experiências.

A importância de entender a rotina de quem está na ponta do problema surgiu também no debate sobre a Medida Provisória 910-2019, conhecida como a MP da grilagem pelos ambientalistas, e suas consequências em populações ribeirinhas e indígenas. Priscila Tapajowara, integrante da Mídia Índia, Raul Telles, diretor de justiça socioambiental do WWF-Brasil, e Cristina Leme Lopes, analista jurídica de Direto e Governança do Clima no CPI Brasil participaram da conversa.

Para Douglas Belchior, que integrou a mesa sobre renda mínima com Tatiana Roque, também vice-presidente da Rede Brasileira de Renda Básica, e Gabriela Yamaguchi, diretora de Sociedade Engajada do WWF-Brasil, entender que a vulnerabilidade atinge a maioria, e não a minoria dos brasileiros é fundamental. "A maior parte do povo brasileiro vive uma situação de calamidade. O desafio atual da saúde pública é permanente para nós", disse.

Na mesa debatendo mudanças de hábitos e isolamento social, JP Amaral, mobilizador do programa Criança e Consumo do Instituto Alana, destacou a importância de olhar para as desigualdades que estão mais perceptíveis no momento e pensar em "como o Estado pode alavancar acessos". "Tanto na questão do saneamento básico, quando do privilégio de poder trabalhar de casa", exemplificou. Para ele, "a crise atual também pode nos ajudar a pensar em como lidar com seriedade com a crise climática."

O evento discutiu ainda sustentabilidade no setor costeiro marinho, pensando na relação das populações tradicionais com a pesca industrial e na urgência de avaliar o que consumimos.

Tem várias formas de o cidadão se relacionar com o oceano de uma maneira sustentável. Dependemos dessas iniciativas para o planeta viver em harmonia - Barbara Veiga, da Liga das Mulheres pelos Oceanos

Entender os impactos de cada um no mundo, e usar o contexto atual como possibilidade de reflexão. Esses foram alguns pontos da conversa entre a jornalista Helena Galante, criadora do podcast Jornada da Calma, e Gustavo Tanaka, escritor e empreendedor. Já o papo entre a atriz e youtuber Maddu Magalhães e o influenciador digital Kaique Britto discutiu mudanças de hábitos de consumo e de vida, e como os jovens têm percebido o momento que passamos.

O influenciador digital Kaique Britto e a youtuber Maddu Magalhães durante o festival Hora do Planeta - Reprodução - Reprodução
O influenciador digital Kaique Britto e a youtuber Maddu Magalhães durante o festival Hora do Planeta
Imagem: Reprodução

A programação teve ainda uma prática de ioga pela manhã com a professora e youtuber Bibi Campos. Ainda no início do evento, a chef Regina Tchelly, do projeto Favela Orgânica, e a nutricionista Claudia Jeovane, da Associação Prato Cheio, deram dicas para quem quer reduzir a produção de resíduos orgânicos, como o uso da casca de banana em refogados ou vinagrete, como parte do painel Inovando na Cozinha: Sustentabilidade da Compra ao Descarte.