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Celebridade verde: por que elas vão aos protestos de Jane Fonda?

Jane Fonda encabeça protestos por mudanças para conter crise climática - Fernanda Ezabella/UOL
Jane Fonda encabeça protestos por mudanças para conter crise climática Imagem: Fernanda Ezabella/UOL

Fernanda Ezabella

Colaboração para o Ecoa, de Los Angeles (EUA)

13/02/2020 08h00

A atriz Jane Fonda entregou o Oscar de melhor filme no último domingo, mas antes cumpriu a promessa de levar seus protestos ambientais para outras cidades dos EUA ao aparecer na manhã da sexta-feira anterior em frente à prefeitura de Los Angeles. Com seu casaco vermelho de ativista, ela veio acompanhada por celebridades de Hollywood, líderes comunitários do sul da Califórnia e algumas centenas de manifestantes que a seguiram numa passeata no centro da cidade.

Após 14 eventos semanais na capital Washington, quando chegou a ser presa quatro vezes, Fonda teve que voltar para casa em Los Angeles para gravar seu seriado "Grace & Frankie". Uma vez por mês, em cidades diferentes do estado, ela promete realizar seu Fire Drill Friday (simulação de incêndio de sexta), protesto organizado em parceria com o Greenpeace.

"A Califórnia é líder em energia renovável, mas isso é só metade do cenário", disse a atriz de 82 anos, lembrando que existem 8.500 poços urbanos de petróleo e gás no estado a apenas 1,5 km de distância de casas, hospitais e escolas. Mais de 5 milhões de californianos são afetados com doenças causadas pela poluição, vazamentos de gás e envenenamento do solo.

Entre os famosos, estavam o vencedor do Oscar Joaquin Phoenix, as atrizes Rooney Mara, Rosanna Arquette e Marisa Tomei, além dos atores Norman Lear e Rainn Wilson, que sabe uma coisa ou outra sobre simulações de incêndio graças ao seu personagem esquisitão Dwight Schrute da série "The Office". Mas Wilson também sabe sobre o lugar das celebridades.

Protesto Jane Fonda e Joaquin Fênix - Fernanda Ezabella/UOL - Fernanda Ezabella/UOL
Atos reúnem várias celebridades, como Joaquin Fênix para prortestar
Imagem: Fernanda Ezabella/UOL

"Há muito falatório sobre celebridades aqui. Vamos dar a real: 99% são idiotas, incluindo eu mesmo", disse Wilson no palanque montado na frente da prefeitura. "Porém, nós viemos aqui para honrar as pessoas que estão fazendo o trabalho duro de base e lutando nas comunidades."

O ator Ed Begley Jr. ("Arrested Development"), que frequenta protestos ambientes desde os anos 1970, estava entre os participantes e tirava fotos com os fãs. "Para o bem e para o mal, somos nós que temos os microfones e os megafones, que subimos ao palco", disse a Ecoa. "Temos a responsabilidade de alertar e espalhar a palavra dos cientistas."

Estrelas do protesto

Rainn Wilson apresentou Cesar G. Aguirre, um líder comunitário do condado de Kern, da onde vem 75% da produção de petróleo da Califórnia, estado com a quinta maior economia do mundo, à frente mesmo do Brasil. Kern tem uma das terras mais poluídas dos EUA.

"Conheci muitas crianças que cresceram perto de campos com aplicação de pesticida e desenvolveram câncer. E vi mulheres que deram à luz bebês doentes porque há vazamentos de gás em suas casas", disse Aguirre. "Estamos implorando por ajuda faz gerações. Sou muito, muito grato às celebridades que estão nos ajudando a ampliar nossas vozes e nossa luta."

Phoenix, que foi preso no protesto de Fonda em Washington três semanas atrás, subiu ao palanque para uma breve introdução de outra ativista, a estudante Nalleli Cobo, considerada uma Greta Thunberg local. "Ela também será nossa futura presidente", alertou o ator, que ganhou o Oscar no domingo por "Joker".

Cobo, 19, afirmou que virou ativista dez anos atrás porque foi obrigada. Ela morava no sul do condado de Los Angeles e sofria constantemente com os odores químicos que vinham do campo de petróleo da Allenco Energy. Palpitações, asma, dores de cabeça e nariz sangrando eram alguns dos problemas que afetavam os moradores da região.

Graças ao seu esforço para unir a comunidade, o campo foi fechado há seis anos. Mas as consequências continuam: em 2019, ela foi diagnosticada com um câncer agressivo. "Espero viver para ver o dia em que extração de petróleo urbana esteja nos livros de história. As pessoas vão ler e achar uma loucura que algo assim foi tão comum por tanto tempo", disse Cobo.

Protesto Jane Fonda e Joaquin Fênix - Fernanda Ezabella/UOL - Fernanda Ezabella/UOL
Sergio Marone, logo atrás de Joaquin Fênix, participou de ato
Imagem: Fernanda Ezabella/UOL
Brasil representado

Centenas de manifestantes apareceram na sexta-feira com cartazes coloridos e camisetas com slogans ambientais. A coreógrafa americana Kelly Breaux, 55, trouxe seu bongó e liderava gritos de protesto na pequena multidão à espera de Fonda e seus convidados.

O ator brasileiro Sergio Marone, na cidade há algumas semanas para estudar inglês, foi ao evento e transmitiu boa parte ao vivo aos seus 1,2 milhão de seguidores numa rede social. "Tenho certeza que consigo fazer a diferença com meus fãs", disse Marone, que costuma compartilhar questões ambientais e passou a se interessar pelo assunto na época dos protestos contra a hidrelétrica de Belo Monte.

"É importante ir para as ruas, apoiar os cientistas e ampliar as vozes dos ativistas. Acho que no Brasil as pessoas não estão dando a devida atenção."

Protesto Jane Fonda e Joaquin Fênix - Fernanda Ezabella/UOL - Fernanda Ezabella/UOL
Sônia Guajajara foi Los Angeles para acompanhar Petra Costa no Oscar
Imagem: Fernanda Ezabella/UOL
Marone estava ao lado da líder indígena brasileira Sônia Guajajara, que veio a Los Angeles para acompanhar a diretora Petra Costa, do documentário indicado ao Oscar "Democracia em Vertigem". Ela se encontrou com diversas celebridades de Hollywood na última semana e levou sua mensagem para Leonardo DiCaprio, Robert DeNiro, Laura Dern e Brad Pitt.

"Essas pessoas estão percebendo que o mundo não é só fama, não é só dinheiro ou poder", disse a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. "Elas influenciam a opinião pública, então é importante que continuem engajadas e que sigam mudando suas posturas, o que vestem, o que comem."

Para ela, a classe artística brasileira está acordando para a questão e começa a apoiar iniciativas como a 342Amazônia, criada pela produtora cultural Paula Lavigne, que liderou um grande protesto pela Amazônia em agosto, no Rio. Mas ainda tem muito chão pela frente.

"No Brasil, nesse momento em especial, temos problemas demais. Não dá tempo de resolver um, e já tem três ali na frente te esperando", disse. "A mudança climática é urgente, mas temos vários passos para levar a compreensão às pessoas e fazerem acordá-las desse sonambulismo."