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ONG festeja 10 anos e entrega boneca que salvava crianças em navio negreiro

As abayomis são confeccionadas por voluntários da ONG Fraternidade sem Fronteiras - Divulgação
As abayomis são confeccionadas por voluntários da ONG Fraternidade sem Fronteiras Imagem: Divulgação

Bárbara Forte

De Ecoa

11/11/2019 11h46

"Em cada boneca que eu costuro, coloco um pedacinho de mim", conta a educadora aposentada Cléia Gobbo, 58. Ela é uma das 140 voluntárias de Uberaba (MG) que atuam na confecção de pequenas lembranças que serão entregues em 15 de novembro, Dia Mundial da Fraternidade sem Fronteiras, para divulgar o trabalho da ONG que leva o mesmo nome e que completa dez anos. Cerca de 50 ações acontecerão no Brasil e no exterior.

As abaoyomis, como são chamadas as bonecas, sairão de Uberaba e outras 12 cidades do país rumo a São Paulo, onde serão distribuídas para cerca de duas mil pessoas na avenida Paulista, em frente ao Shopping Cidade São Paulo, a partir das 10h.

Esta e outras atividades, como caminhadas, bazares, recreação com crianças, palestras, café da manhã, piquenique, arrecadação de materiais escolares, oficina de reciclados e visita a asilos, têm inscrições abertas para voluntários até o dia 14.

Conectando corações

A expectativa é de entregar 2 mil bonecas em ação em SP - Divulgação - Divulgação
A expectativa é de entregar 2 mil bonecas em ação em São Paulo
Imagem: Divulgação
A palavra abayomi tem origem iorubá (um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África Ocidental) e significa "aquele que traz felicidade ou alegria". Quando os africanos escravizados eram trazidos para o Brasil a bordo dos navios negreiros, atravessavam o oceano Atlântico em viagens longas e difíceis, sem água ou comida, além dos desafios do calor, da falta de higiene e do medo. Quando crianças choravam assustadas, muitas acabavam atiradas ao mar pelos responsáveis pelo navio. Para acalmá-las e evitar o choro, as mães rasgavam tiras de tecido da própria roupa para fazer bonecas.

Enquanto os nós eram dados, fazia-se um desejo de coisas boas para as crianças, pois as mulheres sabiam que as famílias poderiam ser separadas quando chegassem ao Brasil. A boneca era feita do tamanho que coubesse na palma da mão da criança para que ela não a perdesse. Com o passar do tempo, irmãos puderam se reencontrar graças às cores dos tecidos das bonecas.

"Quando soube da história e comecei a costurá-las, senti que era como se elas conectassem corações", afirma Cléia. A notícia da confecção das bonecas feita pela ONG Fraternidade sem Fronteiras chegou até a Penitenciária Professor Aluízio Ignácio de Oliveira e mobilizou dez detentas que costuram parte das abayomis. Do município de Uberaba deve sair um quarto da produção que será entregue na capital paulista.

Entrega coletiva

A designer industrial Cláudia Mei, de 49 anos, é voluntária na instituição desde 2017. A organização humanitária, com sede em Campo Grande (MS) e atuação no Brasil e exterior, principalmente em países africanos, possui 45 polos de trabalho, mantém centros de acolhimento, oferece alimentação, saúde, formação profissionalizante, educação, cultivo sustentável, construção de casas e, ainda, tem parcerias com projetos de crianças com microcefalia e doença rara.

"Conheci a instituição por meio de um amigo, mas me aproximei após um sonho que tive com crianças africanas que, apesar da falta de tudo, estavam sorridentes. Essa alegria do povo africano é real e me atraiu. Na época, eu passava por um período de luto. Foi a ONG e as crianças que me resgataram", lembra Cláudia, que hoje atua na parte de apoio institucional na cidade de São Paulo e faz ponte com a sede em Campo Grande.

Cláudia está à frente da coordenação da entrega das abayomis do próximo dia 15, na avenida Paulista. Ela conta que, além das bonecas, as pessoas receberão folhetos que contam mais sobre a área de atuação da instituição e explicam como se voluntariar e doar para a Fraternidade sem Fronteiras.

Como contribuir

Todas as iniciativas da Fraternidade sem Fronteiras são mantidas por meio de doações e, principalmente, pelo apadrinhamento. Com R$ 50 mensais é possível contribuir com um projeto.

Para doar ou apadrinhar, basta acessar o site da ONG Fraternidade sem Fronteiras, entrar em contato por meio do WhatsApp (67) 99697-9383 ou mandar um email.

Dia Mundial da Fraternidade sem Fronteiras

No Brasil, além de São Paulo, haverá atividades nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia e Santa Catarina. As inscrições podem ser realizadas até o dia 14 de novembro por meio do site.

Pelo mundo, voluntários estarão reunidos também em Bolívia, Canadá, Inglaterra, Portugal e Suíça. "Nossas expectativas foram superadas com a quantidade de ações inscritas e a diversidade delas. Isso nos mostra o quanto as pessoas estão buscando fazer o bem e criando um mundo mais fraterno", comemora a responsável pela área de eventos da ONG, Camila Leonel. É possível conferir a agenda completa pelo site.