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Rachel Carson deu a largada no movimento ambientalista moderno

Por Juliana Domingos de Lima

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Entre junho e julho de 1962, uma investigação sobre os efeitos de pesticidas no ambiente e nas pessoas foi publicada na revista americana "The New Yorker". O trabalho era de autoria da bióloga Rachel Carson, e foi compilado no livro “Primavera Silenciosa” no mesmo ano.

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Repercussão ruidosa do livro da cientista foi manchete no "New York Times": "'Primavera Silenciosa' agora é verão barulhento"

O estudo de Carson teve enorme repercussão na imprensa e na sociedade e se tornou um best-seller, com 600 mil cópias vendidas no ano. Foi pauta no Congresso americano e levou o presidente John Kennedy a criar uma comissão para apurar a questão a partir das conclusões da bióloga.

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Trazendo fatos e argumentos embasados cientificamente, o texto conseguiu se comunicar com um público amplo por sua linguagem literária e retórica apaixonada, que incitou os leitores a cobrar políticas públicas que regulassem o uso desses químicos.

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O título “Primavera Silenciosa” faz referência ao possível futuro da estação, sem pássaros e outros animais, caso o uso indiscriminado de pesticidas continuasse. 

Por que o impacto foi tão grande?

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 Formada em biologia e mestre em zoologia pela Universidade Johns Hopkins no início dos anos 1930, Carson não pôde seguir para o doutorado — precisava ajudar no sustento da família atingida pela Grande Depressão.

 Em 1936, entrou para o Departamento de Pesca dos EUA, onde trabalhou por 15 anos pesquisando e escrevendo materiais de divulgação científica para o público leigo e chegou a editora-chefe.

À altura da publicação de sua obra de maior impacto, Carson já era uma autora conhecida. Tinha publicado uma série de outros livros sobre seu principal tema de pesquisa, os oceanos, incluindo uma aclamada trilogia sobre a vida marinha que também fez sucesso nos anos 1950.

Mesmo assim, a recepção de “Primavera Silenciosa” não foi inteiramente elogiosa. Carson sofreu ataques vindos principalmente da indústria química, que ameaçava processá-la acusando-a de distorcer a realidade e até de ser comunista. Muitas das críticas tinham um teor sexista e pessoal na tentativa de descreditar seu trabalho.

Crédito: Biblioteca do Congresso dos EUA

Crédito: Biblioteca do Congresso dos EUA

Rachel Carson em depoimento em comissão do Senado americano sobre pesticidas, em 1963

Carson lutava contra um câncer de mama há mais de uma década quando morreu em 1964, aos 56 anos. Não chegou a ver os resultados concretos de “Primavera Silenciosa”.

O livro levou a uma campanha para banir o DDT, composto tóxico usado como inseticida no pós-guerra, que foi efetivamente proibido pelo governo norte-americano em 1972. No Brasil, regulações ambientais para o uso de químicos também começaram a ser implementadas nessa época. 

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A mobilização provocada pelo trabalho de Carson foi um marco do movimento ambientalista internacional. Foi a primeira grande campanha contra o uso de agrotóxicos e o despertar de uma consciência ecológica mais disseminada, que levou ao combate dos CFCs e do aquecimento global mais adiante no século 20. 

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Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 30 de outubro de 2021