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André Rebouças defendeu abolição e acesso à terra para negros libertos

Por Juliana Domingos de Lima

Crédito: Wikimedia Commons

Engenheiro, intelectual e abolicionista negro, André Rebouças participou da vanguarda da articulação do movimento social pelo fim da escravidão no Brasil e defendeu projetos para a modernização do país.

Crédito: Domínio Público

Nascido em Cachoeira (BA) em 13 de janeiro de 1838, André era o mais velho de oito filhos. Seu pai, o advogado Antônio Pereira Rebouças, foi deputado e conselheiro do Império. A mãe, Carolina Pinto Rebouças, era filha do comerciante André Pinto Silveira. A família se transferiu para o Rio de Janeiro em 1846.

Crédito: Reprodução

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Os irmãos Antônio e André Rebouças

Atípica para uma família negra da época, a condição dos Rebouças permitiu que André e seus irmãos tivessem acesso a uma educação de elite. Primeiro aluno da turma, ele se formou em ciências físicas e matemáticas em 1859 e como engenheiro militar no ano seguinte. Em 1861, viajou à Europa para um curso de especialização em engenharia civil.

Crédito: Domínio público

Em 1865, aos 26 anos, foi combater na Guerra do Paraguai. Retornou ao Rio no ano seguinte após contrair varíola, passando a trabalhar com o irmão Antônio, também engenheiro, em projetos de modernização da malha urbana. 

André Rebouças também foi professor da Escola Central Politécnica (atual Faculdade de Engenharia da UFRJ) e responsável por diversas obras importantes no país, como a construção da estrada de ferro que ligou Curitiba ao porto de Paranaguá. 

Crédito : Arthur Wischral/Acervo IMS

Crédito: Domínio Público

Mesmo vivendo em uma condição distinta da maioria dos negros brasileiros da época, Rebouças não deixou de vivenciar o racismo. Em uma viagem a Nova York e à Europa em 1873, junto à comitiva imperial brasileira, teve dificuldade de reservar acomodação e foi impedido de assistir à ópera ?Fosca?, do brasileiro Carlos Gomes. 

Antes mesmo do episódio, o engenheiro se posicionava contra a escravidão no Brasil. Em 1880, fundou a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, ao lado de figuras como Joaquim Nabuco (esq.) e José do Patrocínio (dir.). Com eles, participou ainda da Confederação Abolicionista e da Associação Central Emancipadora. 

Crédito: Wikimedia Commons

Além de lutar pela abolição imediata e sem indenização dos "proprietários" dos escravizados, Rebouças defendia a inclusão social da população negra por meio de uma reforma agrária que concedesse terras aos libertos e levasse à implementação de uma ?democracia rural?.

Crédito: Reprodução/Fundação Palmares

André se distingue de outros intelectuais oitocentistas brasileiros por suas ideias de reforma social, sobretudo de democratização da propriedade da terra, como complemento necessário da abolição e condição para uma modernização inclusiva e democrática do país. Neste sentido, seu pensamento sem dúvida é atual

Hebe Mattos
Historiadora e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora 

Ainda assim, Rebouças era monarquista e nunca deixou de manter uma relação de amizade com a família imperial. Foi um dos que endossaram a figura da Princesa Isabel como patrona da abolição, protagonismo que hoje é criticado por movimentos negros.

Crédito: Museu Paulista/Domínio Público

Vista do Funchal por volta de 1898

Por sua posição política, exilou-se na Europa após a Proclamação da República em 1889. Viveu em Lisboa e Cannes, onde atuou como jornalista. Já em dificuldade financeira, aceitou um emprego em Luanda em 1892 e rumou depois para o Funchal, na Ilha da Madeira. Morreu em 1898, aos 60 anos, após cair ou se atirar ? não se sabe ? de um penhasco.

Crédito: Wikimedia Commons

Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 15 de janeiro de 2022