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Dragão do Mar lutou pela abolição no Ceará, conquistada antes de 1888

Por Juliana Domingos de Lima

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Celebração da Lei Áurea em frente ao Paço Imperial, no Rio de Janeiro

O 13 de maio de 1888 entrou para a história como o fim da escravidão no Brasil, mas foram vários os movimentos e as pressões pela abolição que antecederam a data. Um deles, no Ceará, conseguiu extinguir a instituição quatro anos antes do restante do Brasil. Chico da Matilde, o Dragão do Mar, foi um dos líderes desse levante.

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 Começou trabalhando como menino de recados de um navio e se tornou marinheiro, alcançando o posto de prático-mor do porto de Fortaleza.

Francisco José do Nascimento nasceu em 1839 em Canoa Quebrada (CE), em uma família de pescadores. Ficou conhecido como Chico da Matilde por ser esse o nome de sua mãe. 

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Chico assistia de perto ao drama do tráfico de escravizados. À medida que o comércio internacional se enfraquecia no século 19 por pressões externas, o tráfico interno, entre as províncias, crescia para repor a mão de obra. O Ceará tinha um papel importante nesse cenário como provedor de cativos para o sudeste.

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 Em reação, e seguindo a luta abolicionista no resto do país, surgiram ali organizações dedicadas à luta abolicionista. Chico da Matilde entrou para uma delas, a Sociedade Cearense Libertadora, e chegou a diretor. Inserido no movimento abolicionista, passou a frequentar espaços de elite.

A frase foi o slogan da greve dos jangadeiros de 1881. Muitos eram escravizados libertos bloquearam o porto Fortaleza e impediram o embarque de escravizados a partir de janeiro daquele ano. Proprietário de duas jangadas, Chico da Matilde fez vigília e conduziu jangadas a embarcações que se aproximavam para comunicar o fim do tráfico na província.

‘No Ceará não se embarcam escravos’

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O movimento deu certo. Em abril de 1883, Fortaleza libertou seus escravizados (numa sessão da Assembleia na qual Chico estava presente). A notícia se espalhou rapidamente e, em 25 de março de 1884, o fim da escravidão foi decretado na província do Ceará.

Chico da Matilde ganhou o apelido de Dragão do Mar por sua atuação no bloqueio do porto e se tornou um símbolo da liberdade conquistada. Outras lideranças, em especial o jangadeiro José Napoleão, também foram importantes para a abolição no Ceará, mas sumiram da história oficial. Pesquisas mais recentes têm buscado dar conta dessas outras figuras.

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A historiografia traz uma mensagem implícita de que a abolição é uma dádiva dos brancos. Foram negros em sua maioria que encontraram uma conjuntura favorável para combater a elite comercial de Fortaleza, se recusando a embarcar escravizados nas suas jangadas. Eles romperam com a dependência e o medo de enfrentar essa elite e esse movimento  estrangulou o  comércio que sustentava o sistema escravista no Ceará  

Hilário Ferreira 
Mestre em história social pela Universidade Federal do Ceará

Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 13 de novembro de 2021