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‘Chico vive’: o legado de Chico Mendes para a proteção da Amazônia 

Crédito: Miranda Smith/Wikimedia Commons

Aqueles que queriam tirar o seringueiro do caminho a fim de derrubar a floresta não contavam com a repercussão de sua morte, que foi noticiada internacionalmente e transformou Chico Mendes em um símbolo da luta pela preservação da Amazônia.

Em 22 de dezembro de 1988, o ambientalista e líder seringueiro Chico Mendes foi assassinado em sua casa em Xapuri (AC). O disparo foi feito por Darcy Alves a mando de seu pai, o fazendei- ro Darly Alves. Chico tinha 44 anos.

Crédito: Miranda Smith/Wikimedia Commons

Nascido em 1944 no Seringal Porto Rico, na mesma Xapuri onde foi morto, Francisco Alves Mendes Filho passou a infância e a juventude trabalhando como seringueiro. Com o tempo, passou a lutar contra a exploração dos trabalhadores dos seringais e a liderar protestos para impedir o desmatamento. Foi um pioneiro do ambientalismo no Brasil, sempre associando a defesa da floresta aos direitos sociais. 

Crédito: Miranda Smith/Wikimedia Commons

Marcada desde sempre pela exploração dos donos dos seringais, a atividade dos seringueiros da região estava ameaçada nos anos 70. Com a economia da borracha já em declínio, grandes proprietários incentivados pelo regime militar desmatavam para implantar a pecuária. As famílias de seringueiros que não eram expulsas com violência estavam condenadas a passar fome com a derrubada da floresta.

Crédito: Percy Lau/Acervo IBGE

Nessa época, Chico Mendes atuava no Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia, primeiro do Acre e presidido por Wilson Pinheiro.

Em campanha contra o desmatamento, os seringueiros criaram a tática do “empate” — formavam uma corrente humana para parar as motosserras. De 1976 até 1988, foram feitos cerca de 45 protestos como esse. 

Empate na fazenda Bordon, em Xapuri, liderado por Marina Silva (à frente) em 1986

Crédito: Wikimedia Commons 

Nos anos seguintes, ele ganhou uma projeção crescente fora do país. Sua atuação foi tema de documentário e reconhecida por instituições como a ONU. Mas as ameaças em Xapuri também se intensificavam e culminaram com seu assassinato em 1988.

Chico Mendes foi eleito vereador de Xapuri em 1977 pelo MDB, único partido de oposição da ditadura. E continuou atuando como sindicalis-ta: em 1985, liderou a organização do 1º Encon-tro Nacional dos Seringueiros em Brasília. Nele, foi fundado o Conselho Nacional dos Seringuei-ros, entidade representativa da categoria, e elaborada a proposta de criação das reservas extrativistas. 

Crédito: Miranda Smith/Wikimedia Commons

No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estava lutando pela humanidade

Líder seringueiro e ambientalista
Chico Mendes

Para Ângela Mendes, ambientalista e filha de Chico Mendes, o principal legado do ativista foi a criação das Reservas Extrativistas. São áreas de floresta protegidas por lei, onde se permite estritamente a atividade sustentável das populações extrativistas tradicionais, “essenciais para a manutenção dos modos de vida dessas populações”, segundo Ângela.

As Resex serviram de modelo para a criação de outros tipos de Unidades de Conservação, como as Reservas de Desenvolvimento Sustentável. Desde a fundação da Reserva Chico Mendes no Acre, em 1990, dezenas de outras foram estabelecidas em todo o país, chegando a 90 em 2015.

Reservas extrativistas 

Crédito: Arquivo pessoal

A luta pela educação dos seringueiros é outra herança do ambientalista destacada por sua filha, que atua para manter vivas a memória do pai e a defesa da floresta na coordenação do Comitê Chico Mendes. Ele teve um papel decisivo na implantação do Projeto Seringueiro, proposta de educação popular enraizada na realidade das comunidades da floresta que se tornou política oficial de ensino do estado.
 
O projeto “alfabetizou milhares nos seringais, entendendo naquele contexto a educação como um instrumento de libertação da opressão que os seringueiros sofriam à época”, diz  Ângela Mendes.

Escolas nos seringais

Crédito da imagem, se necessário

Nos anos 1980, Chico também idealizou a Aliança dos Povos da Floresta, entidade que reuniu seringueiros, indígenas e ribeirinhos numa luta comum pela preservação da floresta. A aliança foi relançada em janeiro de 2020 por lideranças indígenas como Sônia Guajajara e cacique Raoni, com a participação de Ângela Mendes para fazer frente ao cenário político atual. 

União dos povos da floresta

Crédito da imagem, se necessário

Edição: Fred Di Giacomo

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 11 de de setembro de 2021