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Brenda Lee criou 1ª casa de apoio para pessoas com HIV no Brasil

Por Juliana Domingos de Lima

Crédito: Reprodução

Nos anos 1980, quando ainda havia pouca informação sobre a Aids e um pânico moral que estigmatizava a população LGBTQIA+ como vetor da doença, a ativista transexual Brenda Lee foi pioneira em acolher pessoas com HIV em sua casa no Bixiga, em São Paulo. 

Crédito: Reprodução/Youtube

 Lee é homenageada no musical “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”, exibido diariamente até 24 de novembro pelo canal no YouTube do grupo Núcleo Experimental, das 21h às 0h. O elenco é quase todo formado por atrizes trans. 

Crédito: Ale Catan/Divulgação

“Palácio das princesas” era o apelido da Casa de Apoio Brenda Lee, espaço fundado em 1986 para acolher e dar assistência médica, social, moral e material às pessoas com HIV. Por esse trabalho, Lee ficou conhecida como anjo da guarda das travestis.

Crédito: Reprodução

Sou atriz e, como Brenda Lee, sou nordestina, capricorniana e travesti. Tem sido uma honra colocar meu corpo, minha voz e minha arte como um instrumento pra manter viva a memória dessa mulher inspiradora, guerreira, que desenvolveu com tamanha generosidade um trabalho de que até hoje colhemos os frutos. Brenda Lee hoje revive não somente no meu corpo mas no de cada travesti da nossa geração”

Veronica Valenttino

Atriz que interpreta Brenda Lee no musical

Nascida em Bodocó (PE) em 10 de janeiro de 1948, Lee foi expulsa de casa e se mudou para São Paulo aos 14 anos, onde pôde adotar seu nome social e expressar sua identidade de gênero. Carismática, ela logo se tornou uma figura conhecida no bairro do Bixiga. 

Depois de anos de trabalho, ela comprou uma casa no bairro e iniciou uma pensão. Seus ganhos financiaram a acolhida de jovens travestis que, como ela, eram expulsas de casa pela família. Seu apoio à população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade se tornou ainda mais importante com a chegada da epidemia de Aids.

Crédito: Reprodução/Kickante

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Lee foi assassinada em 1996 pelo irmão de um funcionário que tentou aplicar-lhe um golpe financeiro. Mas o legado da ativista perdura: desde 2008, o estado de São Paulo concede a cada cinco anos o Prêmio Brenda Lee para municípios com boas políticas para IST/HIV e Aids.

Brenda Lee foi uma pessoa importantíssima não só pra pra nós, pessoas transvestigêneres, mas pra toda a sociedade brasileira. Ela acolheu indiscriminadamente toda e qualquer pessoa que portasse o vírus do HIV e, junto com o doutor Paulo Roberto Teixeira e outros médicos, construiu a primeira política pública voltada a pessoas trans e com HIV no Brasil, que se tornou referência mundial em  prevenção e tratamento gratuito pelo SUS. Esse espetáculo é um registro dessa memória, da nossa transcestralidade que é tão suprimida e apagada nesse país e é uma celebração das nossas vidas. Nós, as seis atrizes travestis desse espetáculo, entendemos que só estamos aqui hoje porque pessoas com Brenda Lee existiram e lutaram por nós."

Marina Mathey

Atriz qno espetáculo e colunista de Ecoa

Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 06 de novembro de 2021