FIZERAM HISTÓRIA

Audre Lorde combateu racismo, machismo e homofobia através da escrita

Crédito: Wikimedia Commonds

“Negra, lésbica, mãe, guerreira, poeta” — assim se definia a norte-americana Audre Lorde, que influenciou pensadoras negras e feministas com seus escritos e ativismo.

Crédito: Dagmar Schulz/Reprodução

Formou-se em biblioteconomia e exerceu a função em escolas públicas, além de atividades como ghost-writer, assistente social e técnica de raio X até se estabelecer na academia.

Lorde nasceu em 1934 no Harlem, em Nova York, e era filha de imigrantes caribenhos. Começou a escrever poemas ainda na infância.

Crédito: Biblioteca do Congresso dos EUA/Domínio Público

Harlem em 1943

Paralelamente a esses trabalhos, Lorde escrevia ensaios e publicava sua poesia em revistas e antologias desde o início dos anos 1960. Ela participava ativamente do movimento pelos direitos civis da população negra e de mulheres, combatendo também a lesbofobia nesses espaços.

Crédito: Elsa Dorfman/Creative Commons 

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Inédita no Brasil até recentemente, a obra de Lorde vem ganhando edições em português nos últimos dois anos: “Irmã outsider”, “Sou sua irmã — escritos reunidos e inéditos”, “A unicórnia preta”, “Entre nós mesmas — poemas reunidos” e “Zami, uma biomitografia”  já estão disponíveis para leitoras e leitores brasileiros.

Vivemos atualmente no Brasil um momento editorial que atende a uma demanda social de busca de narrativas anti/contra-coloniais. Isso é maravilhoso, pois chegaram ao país traduções de textos escritos por Audre Lorde e outras mulheres  fundamentais na construção do feminismo negro

Lubi Prates
Poeta e tradutora do livro “Zami”, de Audre Lorde

Mas sobre o que Audre Lorde escreveu e por que sua influência é tão grande? As vivências da autora, assim como o feminismo e o antirracismo, informaram sua obra ensaística e poética, que aborda temas como o amor entre mulheres, a sexualidade, a maternidade, a diferença e o autocuidado.

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O pensamento da Audre Lorde está muito centrado no que passamos a conhecer como feminismo interseccional. Ela ajuda a entender como todas essas dificuldades de raça, classe e gênero estão entrelaçadas e nos convida a uma luta que vai direto na origem das coisas, a fazer alianças com pessoas diferentes e procurar maneiras de lutar de forma que todo mundo consiga a garantia de direitos e condições melhores de vida

Stephanie Borges
Poeta e tradutora

Lorde defendeu não haver hierarquia de opressão entre os que compartilham o objetivo de libertação e construção de um futuro melhor. “Não posso me dar ao luxo de combater apenas uma forma de opressão. Não posso me permitir acreditar que ser livre da intolerância é um direito de um grupo particular”,  escreveu.

Crédito: Dagmar Schulz/Reprodução

Não são as nossas diferenças que nos dividem. O que nos divide é nossa incapacidade de reconhecer, aceitar e celebrar essas diferenças

Audre Lorde
No livro “Irmã Outsider”

No final dos anos 1960, Lorde se tornou professora universitária e conheceu a professora de psicologia Frances Clayton, que seria sua companheira por quase duas décadas. Ela tinha sido casada com um homem com quem teve dois filhos. 

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Para aquelas entre nós que vivem na margem de pés sobre limites constantes da decisão crucial e solitária para aquelas entre nós que não podem se dar ao luxo de abrir mão dos sonhos de ter escolhas que amam em vãos de portas indo e vindo nas horas entre os amanheceres olhando para dentro e para fora ao mesmo tempo antes e depois em busca de um agora que possa cultivar futuros como pão nas bocas de nossos filhos para que os sonhos deles não reflitam as mortes dos nossos

Audre Lorde
No poema 'Uma litania pela sobrevivência'

Em 1978, foi diagnosticada com um câncer de mama, mas continuou em plena atividade intelectual e política. Fundou a editora Kitchen Table para difundir a produção de feministas negras, se engajou na luta das mulheres sul-africanas contra o apartheid, seguiu lecionando e escrevendo. 

Crédito: Reprodução/Twitter-@Videstellae

Lorde fala que as ferramentas do senhor não derrubarão a Casa Grande. A poesia é uma forma de descobrir quais ferramentas se quer e pode usar para combater as desigualdades

Stephanie Borges
Poeta e tradutora

No final dos anos 1980, mudou-se para a ilha de Saint Croix, no Caribe, onde viveu os últimos anos de vida com a socióloga e ativista Gloria Joseph. Foi reconhecida como poeta laureada do estado de Nova York em 1991. Morreu em 1992, aos 58 anos. 

Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 04 de dezembro de 2021