Cada ação importa

A criança precisa brincar livremente e ter o "nada" disponível para fazer, ensina educadora e cineasta

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Cada ação importa

No segundo episódio da série de vídeos de Ecoa "Cada ação importa", sobre iniciativas e atitudes que contribuem para um mundo melhor, a cineasta e educadora Renata Meirelles fala sobre a experiência de ver e registrar, durante dois anos, como brincam as crianças do país.

Para Renata, toda e qualquer brincadeira precisa de liberdade, tempo e vínculo, assim como uma grande viagem. Foi pensando nessas três características que ela percorreu 14 comunidades brasileiras, de rurais a indígenas, de quilombolas a grandes metrópoles, do sertão ao litoral, entre abril de 2012 e dezembro de 2013.

O resultado está no documentário "Território do Brincar", que ela produziu com o marido, o também cineasta David Reeks, na companhia dos dois filhos, na época com dois e quatro anos. "A gente foi a lugares onde as crianças estão brincando livremente para fazer uma escuta do que é isso: o que é brincar? Fora da escola, fora de instituições... O que fazem as crianças quando elas estão livres?", questiona a cineasta.

Em seu trabalho, Renata busca passar para educadores, mães e pais a importância da brincadeira na educação e no desenvolvimento de uma criança. O brincar, livre, permite que elas se reconheçam em suas vontades, acessem quem elas são e como vão se relacionar com o mundo.

"A autonomia é a essência. Se você pegar o que as crianças estão fazendo enquanto brincam, elas estão criando um processo de autonomia: 'O que dou conta nessa vida'? Quando a gente vê crianças que estão sob um excesso de supervisão, ou seja, ela está o tempo todo com um adulto dizendo o que é para fazer, que horas que começa, que horas que termina... Por mais bem intencionada que seja a atividade, a criança vai crescendo em um lugar em que alguém deseja e escolhe por ela. Não há uma voz interna sendo escutada", afirma.

A criança precisa ter o 'nada' disponível para fazer. E o 'nada' não significa ficar à frente de telas de celulares, tablets ou televisores. "O 'nada' é justamente ela estar sem propostas ou planejamentos... Ela precisa olhar em volta e se exercitar de alguma forma com o que há disponível ali pra ela. Já a liberdade não significa não ter limites, o próprio limite é dado pelas próprias crianças entre si. Qualquer brincar pressupõe um monte de regras. Existem estudos sobre isso, que crianças em playgrounds em que o pai e a mãe estão presentes, ela se machuca mais do que a criança que vai no mesmo playground e não tem ali, presentes, o pai e a mãe."

Citando uma frase da psicanalista infantil Françoise Dolto, que diz que a criança quando brinca não está vivendo nem o passado nem o futuro e, sim, o tempo da eternidade, a cineasta reforça a relação da infância na vida adulta.

É uma relação de muita verdade com você. Você não deixa ali, para trás, na infância, o seu ser e depois se transforma em outro ser. É uma relação de continuidade. Se a gente cuidar da infância, a gente está dando um passo muito grande. E cuidar é deixar. É dar um passo para trás e dizer para a criança: 'Pode vir, eu estou aqui'. Ou então: 'Vai... Eu confio'."
Renata Meirelles, educadora e cineasta

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