Aos 6 anos, Pia Sundhage mudou de nome para poder jogar futebol no time dos meninos. Mulheres não podiam competir, então, por dois anos, Pia foi chamada de Pelle - nome masculino que lembrava Pelé, seu grande ídolo ao lado de Johan Cruyff e Franz Beckenbauer.
Ela agarrou-se àquela oportunidade e a transformou em uma carreira inigualável. Como jogadora foram mais de 300 gols em clubes e 146 jogos pela seleção sueca e uma medalha de bronze na Copa de 1991; como técnica levou os Estados Unidos a dois ouros olímpicos e ganhou a prata na Rio 2016 com as conterrâneas suecas. Uma das principais embaixadoras da modalidade, Pia Sundhage luta há cinco décadas para que nenhuma garota precise trocar de nome novamente e que a sociedade veja no futebol feminino uma possibilidade real de futuro, com investimento e salários equivalentes ao masculino.
"Todos irão ganhar se apoiarmos tanto os homens quanto as mulheres", diz Pia, 61. Ela gosta de fazer paralelos entre a vida dentro de campo e os desafios enfrentados por nós, não atletas, no cotidiano. Tanto que escreveu, após os Jogos de 2008 em Pequim, um livro sobre liderança em parceria com a mentora Elisabeth Solin. "Jogue no melhor pé - sobre liderar com alegria" reúne os aprendizados e a filosofia positiva que Pia construiu ao longo da carreira — difícil não pensar em Ted Lasso, personagem criado por Jason Sudeikis na premiada série de mesmo nome (e desconhecido de Pia).
À frente da seleção de Marta desde 2019, a técnica se mudou para o Rio e conquistou elenco e público brasileiro, com um violão no braço e cantando Alceu Valença, num português ainda truncado. O instrumento é seu refúgio da vida na estrada desde o início da carreira, e a voz afinada já tinha ganhado a Suécia no fim dos anos 80, quando protagonizou o hino empoderado "Nós somos garotas. Nós somos as melhores" ao lado das companheiras de seleção.
Na conversa com Ecoa, Pia Sundhage deu dicas de liderança, falou sobre igualdade e o papel social do futebol e compartilhou o que a fez sair do armário após uma carreira se esquivando de perguntas pessoais.