Líderes futuristas

Especialistas em empreendedorismo e inovação mostram como identificar os sinais que apontam para o futuro

Pascal Finette e Jeffrey Rogers Especial para Ecoa

[Tecnologia e tendências]

Ouvir os sinais fracos de novas tecnologias é fundamental para entender para onde vamos. Sinais fracos têm potencial de transformar negócios, a sociedade e a vida em geral. Quando avanços em genética estiverem sincronizados com robótica, inteligência artificial e computação quântica, esses sinais, à medida que aumentam, vão definir a extensão das nossas perspectivas. Nesse momento, nossa missão será perguntar como podemos amplificar esses sinais e descobrir as possibilidades de uma nova sociedade.

Ecoa traz na série O Mundo Pós-Covid-19 um grupo de especialistas que, em depoimento a jornalista Mariana Castro, contam como imaginam uma civilização pós-pandemia a partir de temas como Tecnologia, Trabalho, Educação, Ciência, Alimentação, Cidades, Novas Economias, Espiritualidade, Meio Ambiente e Comportamento. Além de desenhar possíveis cenários para o que vem depois, eles falam sobre como as escolhas de agora podem contribuir para a construção de um futuro mais desejável.

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Sinais fracos são as primeiras demonstrações de uma tecnologia ou tendência, frequentemente muito decepcionantes. Pense no carro elétrico antes do modelo S da Tesla, no Google Glass, na internet discada. Lembre os chats IRC, o projeto Genoma Humano e o advento do CRISPR, ou o lançamento do iPhone em 2007. Todos sinais fracos, que no início não pareciam com os modeladores de futuro que se tornariam.

Em um mundo de mudanças aceleradas, entender e comunicar para onde estamos indo é ainda mais importante. Ontem, criamos produtos e serviços novos. Hoje, estamos virando indústrias inteiras de cabeça para baixo e imaginando a existência de outras novas. Amanhã, veremos uma pressão cada vez maior sobre pessoas, organizações e governos para se adaptarem. Para líderes, a missão se tornou descobrir hoje o que importará amanhã e então ajudar organizações e a sociedade a se transformarem harmonicamente com um futuro que se desenvolve rapidamente.

Pratique uma curiosidade infantil e busque conhecer o trabalho que pessoas admiráveis já estão fazendo; procure os cientistas, os artistas, os ativistas e pensadores. Mas quando você localizar o "novo", tente não cair na tentação de se prender a um padrão de pensamento tão difundido que tem até nome próprio - Lei de Amara. Roy Amara, do Instituto do Futuro do Vale do Silício, tem uma famosa observação: "Nós tendemos a superestimar os efeitos da tecnologia a curto prazo e subestimar os efeitos a longo prazo". É fácil ficar empolgado com um sinal fraco e esquecer que tecnologias precisam de tempo para amadurecer.

A maturidade vem com o que chamamos de "gestalt" do ponto de inflexão, ou quando o que era apenas curiosidade começa a se tornar uma nova norma. A estrutura STEEPS ajuda a imaginar as mudanças que permitem uma sinalização fraca se tornar a próxima grande tendência. Quais são os avanços Scientific (científicos) e Technological (tecnológicos) necessários? O que precisa ser verdade sobre o contexto Environmental (ambiental) e Economic (econômico) ou sobre os impactos futuros para que essa possibilidade seja realizada? Quais condições Political (políticas) e Social (sociais) precisam mudar?

Muitos sinais fracos não viram tendência porque não passam no teste de frequência/densidade/fricção. Quando se olha para as possibilidades futuras de produtos ou serviços sob a perspectiva do usuário/consumidor, a frequência descreve a quantidade de vezes em cada dia que o usuário encontra o problema que a "coisa nova" pretende resolver. Densidade descreve o tempo/esforço gasto lutando com o problema, e fricção, o nível de dor que a luta causa com o problema do usuário. A não ser que as soluções ataquem problemas que pontuam bem nas três dimensões, o sinal fracassa.

Olhando para o mundo em 2020, podemos localizar muitos sinais fracos com potencial de transformar negócios, sociedade, a vida em geral e moldar o futuro pós-Covid. Um sinal razoavelmente bem entendido (ficando mais forte a cada dia) é a rápida ascensão da inteligência artificial. Se IA não é boa o suficiente ou disponível a preço acessível para resolver os problemas hoje, espere mais alguns anos. Adicione a isso o mais fraco (mas histórico) sinal de melhorias dramáticas no campo nascente de computação quântica, e você pode começar a ver um futuro no qual a computação se tornará incrivelmente barata, poderosa e abundante.

A agitação em torno da computação quântica resume-se a isso: as máquinas são excepcionalmente boas na matemática por trás das simulações complexas e potencialmente tornarão formas comuns de criptografia inúteis, o que explica o elevadíssimo interesse que governos e suas comunidades de inteligência têm mostrado nessa tecnologia. As indústrias farmacêuticas e de seguros também esperam ver seus processos completamente transformados com o advento de novas capacidades quânticas para descobrir medicamentos muito mais rápido e calcular riscos com maior precisão. O sinal da computação quântica pode ser fraco, mas está soando cada vez mais alto.

Outro sinal que as indústrias têm ouvido é a aceleração do avanço no sequenciamento do genoma e tecnologias de edição. Nas duas últimas décadas, o preço para o sequenciamento de um genoma humano despencou de US$ 2,7 bilhões para menos de US$ 1 mil, enquanto nós também desenvolvemos, pela primeira vez, a habilidade de realizar precisamente a edição genética com o uso da tecnologia CRISPR.

Você pode ter certeza de que a indústria de saúde e farmacêutica estão ouvindo, mas o que esses sinais significam para o futuro dos alimentos e o sistema de alimentação, que se tornaram mais vulneráveis durante a crise da Covid-19? Trabalhos de ponta feitos em laboratório indicam um futuro em que nós produziremos nossa comida em tanques de aço inoxidável, usando um processo semelhante à fermentação auxiliada por modificação genética para cultivar alimentos limpos e nutritivos com uma fração dos recursos necessários para, por exemplo, criar um boi para consumir carne. Este, por sua vez, requer quase 10 mil litros de água para um quilo de carne consumível; um uso ineficiente de um dos recursos mais preciosos do planeta.

Quando avanços em genética combinarem com robótica, inteligência artificial e computação quântica, esses sinais, que já foram fracos, vão definir a extensão das nossas possibilidades futuras à medida que forem amplificados. Quando os sons discretos desses sinais parecerem mais como uma sirene, devemos olhar para a convergência dessas tecnologias para liderar uma profunda e abrangente mudança sistêmica.

Com uma parte tão grande da vida econômica em pausa, talvez seja o momento de fazer novas perguntas. Perguntaria qual mentalidade trazemos para o projeto de imaginar o amanhã que estamos criando tão rapidamente. O linguista e pensador norte-americano Noam Chomsky disse que "a não ser que você acredite que o futuro possa ser melhor, é pouco provável que você levante e tome a responsabilidade de fazer com que isso aconteça". Sendo assim, como podemos amplificar os sinais fracos que sussurram para nós sobre a possibilidade de um mundo radicalmente diferente?

  • Pascal Finette

    É cofundador da Be Radical e chair de empreendedorismo e inovação aberta na Singularity University

    Imagem: Divulgação
  • Jeffrey Rogers

    É diretor de aprendizagem e facilitação na Be Radical e facilitador de programas de educação executiva na Singularity University

    Imagem: Divulgação
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