Às 4h30 da manhã, o paulista aposentado Jonas D'Abronzo já está de pé levando comida até a varanda de sua casa em Ubatuba, litoral de São Paulo. São mais de dez garrafinhas de plástico com água e açúcar que ele pendura com fios de pesca, rapidamente atraindo ao seu redor um zum-zum-zum de cores frenéticas.
São os beija-flores da região que chegam para o café da manhã. Os passarinhos ligeiros, muitos de plumagem brilhante, alongam-se na refeição e por ali ficam o dia inteiro, como hóspedes numa pousada "all inclusive". Cuidadoso e sempre animado, Jonas limpa e reabastece as garrafinhas assim que se esvaziam.
Há 22 anos, o técnico de eletrônica de Piracicaba trocou a vida agitada da capital paulista pela tranquilidade do mato na serra do litoral. O plano era virar um ermitão, mas não deu certo. Acabou anfitrião de centenas de aves, assim como de pesquisadores de universidades brasileiras e passarinheiros do mundo todo que batem à sua porteira com regularidade.
"Antes da pandemia, quase todo dia tinha gente aqui. No começo, só vinha gringo, não existia brasileiro observador de ave. Agora tem", contou Jonas a Ecoa. "Nunca fui passarinheiro, mas quando me mudei, coloquei um bebedouro e uma prancha com frutas. Eles vieram de cara."
Hoje com 74 anos, Jonas transformou o sítio aos pés do Parque Estadual da Serra do Mar num santuário a céu aberto que já registrou avistamento de 22 espécies diferentes de beija-flores.
Há também outros 30 tipos de aves que podem ser observados pela propriedade de 80 hectares de mata virgem, alguns se esbaldando nas frutas que ele oferece, como o tiê-sangue, o saí-azul e o saíra-sete-cores.