Mal havia terminado de conceder a entrevista à reportagem de Ecoa, Luiza Batista, 63, líder nacional das trabalhadoras domésticas, parou para ouvir o drama de uma mulher que a procurava. A moça foi contratada por um deputado, membro de uma família de políticos pernambucanos. Lá, sofre uma série de humilhações, como xingamentos. Gostaria de ter certeza de que seus direitos trabalhistas estão sendo recolhidos pelo empregador, mas não sabe como fazer a conferência. Quer pedir demissão, mas tem medo e precisa de apoio.
"Esse tipo de situação é muito comum. Chegam aqui pessoas que estão em condições de exploração há 20, 30 anos...", diz Luiza, que, desde 2016, é presidente da Fenatrad (Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas). "As conquistas legais são boas no papel, mas na prática ainda é muito pouco porque as residências são invioláveis. Quem vai fiscalizar?"
A Fenatrad representa uma das categorias profissionais mais numerosas no Brasil. São mais de 7 milhões de pessoas, número que leva o país para o topo do ranking de nações com maior população de empregados domésticos segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho). Nove em cada dez são mulheres e mais da metade é negra.
No escritório onde funciona o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas em Pernambuco, do qual ela também é presidente, Luiza oferece orientação jurídica a milhares de mulheres. O trabalho vai desde o simples aconselhamento até o acompanhamento de processos. Além disso, em 2017, foi lançado o aplicativo Laudelina, desenvolvido graças a uma parceria entre a Fenatrad, a ONG Themis, a ONU Mulheres Brasil e o Google, que financiou o projeto. Por meio do programa, as trabalhadoras podem se informar melhor sobre seus direitos e deveres.
A sindicalista Luiza sabe bem o que é não ter garantia alguma na vida. Começou a trabalhar ainda criança, aos nove anos de idade, em condições hoje consideradas análogas à escravidão. O pagamento se resumia a duas cestas básicas por mês, com as quais ajudava a mãe a sustentar a família.