Siri não parou nas jataís. Ele estudou com afinco as abelhas sem ferrão, nomenclatura mais comum dada às nativas. "Prefiro chamá-las de abelhas com ferrão atrofiado, porque elas até têm, só deixaram de usar. As apis [que produzem o mel mais conhecido dos brasileiros] são como os colonizadores que chegaram aqui e precisavam da espada para dominar. As nativas, não."
No Brasil, ocorre quase metade das abelhas sem ferrão do mundo, das cerca de 550 espécies conhecidas, 250 podem ser encontradas no país, algumas só aqui.
O artista mantém 150 caixas, além das jataís, há mandaçaias, guaraipos, uruçus amarelas, mirins doriana e guaçu, manduris e guaraipos-bicolor, as duas últimas consideradas as mais raras do meliponário -nome que vem de meliponas, o gênero ao qual essas abelhas sociáveis e sem ferrão pertencem. Além de abrigo, Siri as ajuda reforçando a alimentação -plantou diversas espécies cujas flores elas gostam, além de fornecer um xarope de açúcar orgânico-, e disponibilizando cera e própolis para que elas façam suas estruturas.
O empenho em construir um habitat ideal passa também por mudanças de hábitos. Na casa não entra nenhum tipo de inseticida ou planta que seja tóxica para as abelhas. A maior prova de que a residência se tornou um ambiente amigável está no muro onde uma pequena colmeia de iraís se instalou espontaneamente.
As abelhas sem ferrão produzem o mel em potes, não em favos, e os sabores são incrivelmente distintos -o da borá, por exemplo, é levemente salgado, com um toque que lembra queijo. Outra característica é a organização das colônias e os seus ninhos, alguns protegidos por camadas dispostas como pétalas. Do lado de fora das caixas é possível notar as diferenças: as mandaçaias constroem um portal com barro e própolis em formato de estrela, o acesso das colmeias das jataís são uma espécie de canudo e as uruçus espalham uma massa avermelhada em volta da entrada.
As estruturas que constroem, o modo de vida e o senso de comunidade das abelhas sem ferrão se tornaram fonte de inspiração para Siri. "Não sou o tutor delas, elas que são as minhas tutoras, que me ensinam", afirma. As obras de sua produção artística recente remetem de alguma forma ao universo das abelhas, como a forma hexagonal dos ninhos. Estes, aliás, sempre o interessaram e ele já havia explorado a estrutura em outras ocasiões. Essa nova leva de trabalhos foi exposta na feira Art Sampa, em março, no stand da Janaina Torres Galeria, que o representa.