Países cobram Brasil por logística e preços razoáveis de hospedagem na COP

Não é só o conteúdo das negociações do clima que têm mobilizado as mais de 190 delegações presentes na cidade alemã de Bonn, onde acontece SB 62, a última grande reunião da ONU antes da COP30 em Belém.

A grande questão que circula nos corredores do imenso centro de convenções da ONU e tem dominado parte importante das conversas é se a capital paraense está realmente preparada para receber as delegações em novembro.

A logística da cidade brasileira no meio da Amazônia é motivo de preocupação e irritação entre delegações. E o governo brasileiro sabe que o sucesso da conferência depende disso também.

Foi pesado o clima do briefing de apresentação da logística da COP30 aos presentes, embora a delegação brasileira reconheça que a portas fechadas tem sido ainda pior. Em intervenção dura, Katarsyna Wrona, representante da União Europeia (UE), apresentou uma longa lista de reclamações. Afirmou que os preços para hospedagem até agora eram cinco vezes mais altos do que as diárias da ONU e que os participantes dessas negociações "são servidores públicos que respondem aos contribuintes".

"Negociações multilaterais são o coração das COPs. Sem negociações, não tem COP", disse ela, completando em seguida: "As negociações vão até tarde, costumam entrar pela madrugada. As poucas horas que temos para dormir são preciosas. Isso significa que não se pode querer que os quartos sejam compartilhados".

O que se sabe até agora é que existem cerca de 30 mil quartos, com mais de 55 mil leitos, que estão sendo filtrados pelo governo antes de serem disponibilizados numa plataforma online criada só para isso. Este filtro significa a garantia de que se tratam de acomodações de qualidade e a preços razoáveis. A ideia é liberar o primeiro lote com 2.500 imóveis pela plataforma até o final de junho. Os lotes seguintes serão liberados aos poucos.

Na apresentação, a hospedagem foi apresentada por tipo, número de quartos e leitos, o que levou muitos a acreditar que o governo queria que os espaços fossem compartilhados, o que o secretário especial da COP30, Valter Correia, nega. Serão 7.900 quartos, com 14.300 leitos em hotéis. Mais 16.500 quartos, com 25 mil leitos, em aluguéis de curta duração; dois navios com 3.880 cabines, 6.000 leitos; além de outras soluções com 1.300 quartos e 10.500 leitos.

O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, reconheceu a ansiedade geral e disse que, apesar do atraso e do desafio, tudo estará pronto a tempo. "Estamos totalmente conscientes das incertezas sobre hospedagem. E isso está sendo lidado no mais alto nível. Vai ter boa acomodação e com preços razoáveis para todos. Até agora eu concordo que preços estão totalmente fora do controle. Mas, sim, vai ter acomodação. Sim, os preços vão ser proporcionais", afirmou.

Desde o início da semana, alguns países vêm questionando o governo do Brasil em reuniões, nos cafés e nas conversas paralelas. Alguns avisaram que não pretendem enviar ninguém para o evento no Brasil por conta dos preços exorbitantes dos parcos quartos de hotel ou casas disponíveis para aluguel de curta temporada, como avisou um representante da delegação das Filipinas, lembrando que pequenas ilhas tampouco pretendiam mandar seus enviados à cidade brasileira em função do que consideram custos inaceitáveis. A declaração foi feita durante reunião do G77 na manhã de hoje em Bonn. O tema do encontro era outro, mas a preocupação com a organização da COP30 acabou ganhando proporção.

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Na abertura do briefing, o imenso telão da sala de conferência exibiu um curto vídeo sobre a COP30 em que as imagens da cidade se alternavam com personagens repetindo as frases "O Brasil está pronto. Belém está pronta".

Diárias de US$ 2.500

O secretário especial da COP30, Valter Correia, afirmou que problemas de infraestrutura afetam a maior parte das cidades mundo afora. Mas garantiu que o Brasil está pronto, destacando os grandes eventos realizados pelo país desde a Rio-92. Ele afirmou que haverá quartos para todos, que os alojamentos serão majoritariamente encontrados em imóveis privados com aluguel de curta duração, o que reconheceu ser uma particularidade desta COP, e garantiu que a plataforma que o governo deve colocar no ar com ofertas de hospedagem até o final do mês terá preços a partir de US$ 100 e atenderá a todos os bolsos e demandas.

No entanto, o que há até agora são quartos com diárias de US$ 2.500, como queixou-se o delegado filipino, e casas que não valem para venda no mercado imobiliário o preço que está cobrando pelo aluguel de curto prazo, como reconheceu Valter Correia em entrevista à RFI Brasil.

Depois que acionar o Ministério da Justiça, por meio da Senacom (Secretaria Nacional do Consumidor), o governo brasileiro está pedindo aos hotéis e outros alojamentos dados sobre os valores cobrados de aluguéis nos últimos cinco anos e durante o período do Círio de Nazaré, o grande evento realizado anualmente em Belém, que reúne 2,5 milhões na cidade. Para Correia, "nada acima dos valores cobrados no Círio é razoável". Se ficar confirmado o abuso por parte do setor privado, eles poderão sofrer penalidades que vão de multas até o fechamento dos estabelecimentos. Correia reconhece que, seguidos os trâmites, isso não aconteceria a tempo da COP30. Mas a aposta é que isso pode facilitar as negociações justamente para evitar as penalidades lá na frente. "Se continuarem, vamos ter que usar o rigor da lei. Não porque queremos, mas por obrigação", disse a jornalistas mais tarde.

Longa lista de queixas

A lista de queixas é longa. Os representantes da Coreia do Sul, da China e outros perguntaram quais seriam as políticas de cancelamento e mudanças das reservas. Há dúvidas sobre vacinas e doenças que afetam a região. Delegados têm manifestado preocupação com casos de dengue e chicungunha. Sobre a questão da segurança, outra preocupação recorrente, o secretário especial da COP30 afirma que existe um grande plano preparado para o evento, que envolve todos os órgãos de segurança do país.

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Correia recomendou aos participantes as vacinas de febre amarela e sarampo, lembrando que o Brasil erradicou esta última. E destacou que haverá alimentos para todos os gostos, respondendo aos mais altos controles de qualidade. Cerca de 40% da alimentação será vegetariana e vegana. Haverá ainda opções sem glúten, sem lactose, halal e kosher. Ele destacou que 30% serão provenientes da agricultura familiar e da agroecologia.

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